quinta-feira, 31 de março de 2011

HISTÓRIAS DO MANEL LOENDRERO - (Continuação do dia anterior)

O Jogo da Bola em Lesboa -  (sigundo ipisóido)

Távamos a genti priparados pa começar o jogo com os alemões aquelis e vai o árbito, chamô a gente ó mei do tirreno. A genti nã sabíamos pó qu'era ma lá fomos. Chigámos lá, obrigô a genti a pôr-se em filêra cumós oitros, e atão começô a ver-le as solas dos pitôs ô lá o qu'era aquilo.
— Olhó! Tá vendo as ferraduras das bestas!
Chigó a nossa vez e ficô munto admirado ca gente jogássemos de camisolas d'alças.
— Pôs homem! E d'enverno ê com camisola enterior de mangas.
Tameim disse cos nossos calções erom esquesitos só porquerom fetos de pano cru. O bocana do árbito priguntou pra quera o bolso atrás.
— É pa mete o tabaco, pa quei cavera de seri?
Ele fez uma cara esquisita e priguntô ond'é ca gente tinhômos comprado as mêas.
— Fèze-as a minha Bia — Disse-leu.
O pió foi condo ele disse ca gente nã podiômos jogar de botas cardadas. Só falto veri sa'gente tinha as unhas dos péis cortas! O bicho mando a gente calçar-si d'ôtra manêra.
— Ôôh! — Fez o Zei Alacrau- — Já tás variando. Tás aqui tás com os cascos partidos! Nã tás não!
Mas eli tanto moê a genti que lá tivemos d'ir calçar-se. Boum ma lá começo o jogo. Sairom os alemães; a genti trancámes-se à defesa antes da nossa ária, qué pa nã os dêchar arrimar à nossa baliza e dali fazermos os nossos contrátraques.
Vai atão, um comprido dos delis todo ensiguêrado com o bola, condo ê, o Zei Alacrau e o Tói o cercámos. Ê di-le uma foêrada na canela e na bola ó memo tempo, o Tói empurrô-o e o Zei passô-le por cima comum tratóri, fugindo com a força toda atrás da bola. O árbito mostrô-le o cartão encarnado.
— Eeeeiii! O qué quê fiz?— Priguntô eli.
— Rua!
Boum, o Zei saiu e atrás deli o alemão tameim... mas de maca.
«Isto sã uma caliquêragem.» — pensi eu — «Nã aguentom nada.»
O jogo continuô e acabo ós cinco minutos porque já tinhómos 4 jogadoris na rua: o Zei porque tinha atorpelado o oitro; O Cara de Cinoira porqum alemão le fez olhos tortos e eli pulô-lhe p'ra cima, aventô-o todo, só se viom podaços da camisola do oitro avoando. Eu, porque di uma survelheta nas ventas do árbito condo eli marcô uma falta contrá'genti. E o Tio Mariano foi pró olho da rua, porque táva fazendo a barrera e fumando ó memo tempo. Aquele bicho tameim fumava munto! Já tinha a piquena ária chea de birondas!
O árbito acabô o jogo, e a genti dissemos ós do Alvarrão pa jogar contrá'genti de botas cardadas, pa mostrari áquelis babosos, como si jogava. Elis desseram logo:
— A gente ganha...
— Ganhas... o mêmo ca burra ganho em Maio!
Boum, mas lá jogámos à nossa manêra, até que numa jogada dêxarom cair o Cara de Cinoira dentro da ária.
-Penalte!
Elis disserom que nã era, mas punhada de cá, punhada de lá, lá os convencemos. Marqui ê o penalte e atiri ca força toda. O guarda-rêdis nem a viu. Tinhamos-se vingado.
Más tarde em Moira, compri um jornali onde falava do nosso jogo e onde dezia c'aquilo nã erom maneras de se jogari à bola. Tóóóóuuuu!
— Pensi eu — Vocês teiem mas é dor de corno.

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