quarta-feira, 30 de março de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

 Liderança e Mudança na agenda de Portugal
Carlos Sezões

Quarta, 30 Março 2011 10:15
Muitos diagnósticos circulam, desde há muito pela sociedade portuguesa sobre a essência e o fatalismo de “ser Português”. É um facto que as dimensões culturais são importantíssimas para compreender as atitudes dos Povos perante os desafios que se lhes colocam. A nossa “latinidade” explica muitas coisas: a rejeição da incerteza e do risco, a enorme preocupação com a segurança, a ansiedade e a pouca auto-confiança, o culto da hierarquia, a pouca orientação para o desempenho, os resultados ou o mérito. Tudo isto ajuda a explicar a necessidade que temos, periodicamente, de “homens providenciais”. Depois, a nossa história muito própria traz mais condimentos. O sebastianismo, a acomodação ao Estado, o fado e a saudade, a esperança que venha de fora a solução para restaurar a nossa grandeza, seja do império antes ou da Europa, depois.
Contudo, penso (com optimismo) que nada disto é inevitável e imutável. Mas, para além das nossas muitas qualidades, que as temos, necessitamos de algo que nos faz bastante falta, como compensação para as questões que atrás mencionei: Liderança. Liderança em todo o lado. Liderança nas empresas, liderança no Estado central, liderança nas autarquias, nas Universidades e noutras organizações e sistemas sociais. Liderar significa não estar apenas a gerir o dia-a-dia, a assegurar os processos correntes, de olhar constantemente para o lado e para trás e ver se todos concordam connosco e não incomodamos ninguém. Liderar significa olhar em frente, ter uma visão estratégica, de longo prazo, e mobilizar vontades para a atingir. Significa compromisso emocional e participação. Significa encarar e ponderar os riscos e tomar decisões com firmeza e sentido definido.
Olhemos para o mundo empresarial. As empresas bem sucedidas (e conheço várias, na minha actividade profissional) não são fruto do acaso. São consequência da sua história, da forma como Líderes conseguiram promover os seus valores e as suas estratégias e de como conjuntos de pessoas (por vezes, gerações de pessoas), comprometidas com a missão da Organização, conseguiram manter elevados níveis de motivação, trabalho e resultados. Talvez precisemos destes exemplos na sociedade portuguesa, de uma forma mais transversal.
Mas, neste contexto, pensando em liderança e olhando para este momento de transição política, não resisto a perguntar: necessitamos de um governo omnipresente, centralista, tentacular na sua influência, receoso da crítica e com um discurso paternalista do tipo “não se preocupem, nós tratamos de tudo”? Será um bom exemplo? Sinceramente, penso que não. Necessitamos antes de governos responsáveis, mas desafiantes, que assumam os riscos e sejam reformistas na substância e não apenas no papel. Que sejam Líderes…e não apenas gestores do pouco que ainda há para gerir.
Carlos Sezões

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