Eleições, pois claro!
Martim Borges de Freitas
Sexta, 25 Março 2011 09:24
Como se previa, numa Legislatura que todos sabiam quando havia começado, mas que ninguém sabia quando haveria de terminar, aí vêm as eleições legislativas antecipadas.
Muito se tem especulado sobre a origem da crise política. Vou também especular sobre o assunto.
Comecemos pelo Presidente da República. Sobre o papel do Presidente da República, nesta crise, ele pura e simplesmente não existiu. De facto, para o bem e para o mal, esteve totalmente ausente. Ver no seu discurso de tomada de posse razões para a abertura da crise política, temos de convir que é forçado. Penso, aliás, o contrário. Se algum efeito teve o discurso de tomada de posse do Presidente da República, esse, foi o de o retirar do centro da crise política que foi despoletada a seguir. É que, objectivamente, o Presidente da República foi parte nesse discurso.
E foi parte, porque se colocou contra o Governo ainda por cima, propositadamente ou não, sem ter procurado legitimar esse discurso antes, nomeadamente durante a campanha eleitoral. Ao ter sido parte contra o Governo, inviabilizou, aí, toda a eficácia que pudesse ter um eventual apelo seu no sentido de serem evitadas eleições antecipadas. Talvez nunca o tivesse querido fazer. Mas também já não tinha qualquer margem para o poder fazer. Não podia recuar.
Quanto ao Governo, nem estou convencido de que quis despoletar a crise agora nem estou convencido do contrário. Seja como for, o Governo percebeu rapidamente que estava entre a espada e a parede. Fino que nem um alho, Sócrates, vendo a oportunidade (se for vítima) ou prevendo-a (se for autor), cavalgou-a imediatamente, escolhendo a espada. Vitimizando-se, claro, já conseguiu unir o PS para um combate em que este tem tudo a perder. Agora, só um escândalo a sério poderá travar Sócrates no PS, antes das eleições. Portanto, também no Governo e no PS, já não havia volta a dar.
Por seu lado, parece claro que o PSD, se pudesse ter escolhido outro momento para desencadear a crise, tê-lo-ia feito. Passos Coelho precisava de mais de tempo para preparar e divulgar a sua proposta política. Mas, depois de ter feito engolir aos militantes, às estruturas e ao eleitorado do PSD três PEC’s e dois Orçamentos, era insustentável, percebe-se, fazer-lhes engolir o que quer que fosse mais vindo do Governo. E como o Governo, por erro, por força das circunstâncias ou deliberadamente, não procurou apoio parlamentar para este novo PEC nem dele informou o Presidente da República, deu aos militantes, às estruturas e ao eleitorado do PSD a justificação necessária para obrigar Pedro Passos Coelho a cavalgar a onda. O que este – diga-se - rapidamente fez, percebendo também que já tinha sido ultrapassado o ponto de não-retorno.
Os restantes partidos, esses, estavam já reféns das suas próprias e anteriores posições, não lhes restando, a nenhum deles, outra saída que não a de apanhar a onda.
Resta dizer que vamos agora entrar em campanha eleitoral e que, com o grau de rejeição que os políticos hoje têm na sociedade portuguesa, seria bom que houvesse mudanças. Hoje, vemos políticos reivindicarem coerência dizendo que têm sido coerentes ... há um ano e meio; vemos políticos reivindicarem coragem dizendo que tiveram coragem ... naquele momento; vemos políticos reinvindicarem responsabilidade dizendo que não foram responsáveis ... nem de nada nem por nada! Enfim, mal irá o país saído de eleições se os políticos vencedores forem os que são corentes, mas só só às vezes, corajosos, mas só às vezes, credíveis, mas só às vezes, com carácter, escrupulosos e altruístas, mas só às vezes! Por isso seria bom que, antes de avançarem para a campanha, avaliassem bem por que razão a generalidade dos cidadãos não os tem em boa conta. Saibam, pois, evitar apregoar qualidades pessoais, políticas e humanas que não têm e saibam, pois, evitar promessas vãs que, uma vez no Governo, serão incapazes de cumprir. Se quanto à convocação de eleições antecipadas não havia meio termo, aqui, na forma de fazer política, era preciso pôr-se-lhe termo. Pôr-se-lhe termo, para se pôr termo à percepção que os portugueses têm da forma de fazer política em Portugal. E estas eleições são também essa oportunidade.
Lisboa. 24 de Março de 2011
Martim Borges de Freitas
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