Endireitar Portugal
Martim Borges de Freitas
Sexta, 18 Março 2011 10:58
A probabilidade de, dentro de oito dias, estarmos a discutir a data exacta para a realização de eleições legislativas antecipadas é, agora, enorme. Sempre me pareceu – e aqui o disse - que, desde as últimas eleições legislativas e em conformidade com o quadro parlamentar que daí resultou, face ao estado da economia portuguesa, das contas públicas e do endividamento externo, os partidos e os parceiros sociais deveriam ter chegado a um compromisso de médio prazo, para que Portugal pudesse inverter a tendência e resolver os seus principais problemas. Era deste compromisso ou de um compromisso deste género que o país precisava. Um compromisso plurianual com metas claramente definidas, em ordem ao interesse nacional e ao futuro de Portugal.
Por norma, as coligações servem se forem naturais, desejadas e legítimas. Mesmo achando que PS, PSD e CDS têm pontos em comum suficientes para se poderem entender em determinadas matérias, uma coligação entre estes três partidos, já sem Sócrates e sem eleições prévias, não seria, no entanto, natural nem desejada nem legítima. Embora esta pressão vá existir, insisto que, a verificar-se, seria pior a emenda do que o soneto.
Ser oposição, não é dizer umas tiradas (que até podem ficar no ouvido), não é acusar a torto e a direito o Governo, não é apenas denunciar aquilo que o Governo prometeu e não fez - ou que nem sequer prometeu e fez, mas fez mal. Ser oposição é fazer muito mais. Ser e fazer oposição é criar e ter políticas alternativas. É dar-lhes corpo, é torná-las coerentes. É criar e ser Alternativa. É ser sonho.
Para mim, os partidos políticos devem ser partidos de projecto, com políticas próprias para cada área de governação, coerentes entre si e no seu conjunto. Ora, se já não vão havendo dúvidas de que a Nação está no estado em que está por responsabilidade directa e quase exclusiva dos partidos políticos, vai havendo também cada vez menos dúvidas de que o PSD e o CDS poderão contribuir – de forma inestimável, diria eu – para que o estado da Nação seja outro. Num país governado e editado à esquerda, seria surpreendente que fosse à esquerda que ocorresse a mudança e nela residisse a esperança. Acho, por isso, que é à direita que está a oportunidade. Aos líderes do PSD e do CDS é-lhes dada, pelo PS, esta oportunidade. E eu diria, essa responsabilidade.
Mas, o que se vai vislumbrando é que o PSD foi apanhado em contrapé. Esperava ter tido mais tempo para preparar a Alternativa. Não estando suficientemente preparado para governar, abriu uma janela de oportunidade ao CDS. Todavia, fruto da estratégia seguida pelo próprio CDS – a do partido de bandeiras ou do partido da agenda focada – o CDS também não vai poder cobrir o flanco deixado livre pelo PSD. Ou seja, por sua opção, também o CDS não é visto como a Alternativa. Nenhum dos dois partidos à direita do PS está, pois, sózinho, em condições de se poder apresentar seriamente aos portugueses como a Alternativa. E esta circunstância vai ser explorada por aqueles a quem não interessa a existência de uma maioria à direita do PS a governar o país. Mas Portugal precisa que seja oferecida uma outra escolha àqueles que não têm onde votar e sobretudo àqueles que, em 2005 e em 2009, votaram na velha maioria. Precisa-se de uma Alternativa. Há, aliás, todo um país a pedi-la. Com a oportunidade a existir à direita, o pior que poderia acontecer a Portugal era que a maioria dos deputados saídos de eleições se viesse a sentar à esquerda. É, por conseguinte, urgente que justamente os partidos à direita do PS se entendam. E quanto mais cedo o fizerem, melhores serão os resultados da sua governação.
Lisboa. 17 de Março de 2011
Martim Borges de Freitas
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