A história de Pedro e Inês
Eduardo Luciano
Quinta, 17 Março 2011 11:18
O Pedro e a Inês nasceram no primeiro ano da década de 80. Vivem na mesma cidade, em bairros contíguos e são de origem social idêntica. Filhos de gente que vive do seu trabalho.
Frequentaram as mesmas escolas com resultados idênticos. A Inês revelou-se desde cedo uma jovem preocupada com as questões políticas e sociais participando em listas concorrentes para a Associação de Estudantes da Escola Secundária e tomou posição em defesa de uma escola pública e de qualidade.
O Pedro fez parte da comissão organizadora do baile de finalistas e da comissão que organizou a viagem a uma estância de férias espanhola.
Frequentaram a mesma Universidade, embora em cursos diferentes.
A Inês viveu intensamente as lutas contra o aumento das propinas e contra o processo de Bolonha. Quando pediu apoio ao Pedro para a sua lista candidata à direcção da Associação Académica, este achou que o programa era demasiado “político” e preferiu dar o seu voto à lista que acabou por ganhar as eleições. Nada de política e a promessa de imperial a cinquenta cêntimos nas festas da semana académica.
Curso acabado, ambos percorreram o calvário das caixas de supermercado e dos centros de exploração intensiva conhecidos como “call centers”.
Ambos vivem sem o mínimo de perspectiva de saírem de casa dos pais e sonham com o dia em que conseguirão ter o seu espaço e a vida nas suas mãos.
A Inês conseguiu finalmente um emprego numa fábrica, com um contrato a termo e um horário de 12 horas. O que faz nada tem a ver com o que se preparou para fazer durante o curso que frequentou.
O Pedro arranjou uma ocupação mais próxima do que pretendia, a recibos verdes e por quinhentos euros mensais.
A Inês participou em quase todas as manifestações de protesto contra a política de PS e PSD, a única que conheceu. Desceu muitas vezes a Avenida da Liberdade em festa e em luta.
O Pedro sempre achou que as manifestações eram coisas mais ou menos inúteis e chegou a ridicularizar os que se manifestavam.
A Inês tomou sempre partido. Votou sempre. Mesmo quando nos momentos de desânimo lhe parecia que com os votos não se conseguia mudar nada.
O Pedro nunca votou. Dizia que os partidos eram todos iguais, mesmo não conhecendo uma linha dos seus programas.
Encontraram-se na Avenida da Liberdade no passado dia 12.
A Inês recordou o percurso do Pedro e esteve quase para lhe atirar isso à cara. Mas não o fez. Também ela conhece a minha prima Zulmira e lembrou-se de uma das suas frases: “são insondáveis os caminhos que levam à luta”.
No dia 19 a Inês vai voltar a descer a Avenida na manifestação convocada pela CGTP. E tu Pedro? Ficas-te?
Até para a semana… quem sabe
Eduardo Luciano
3 comentários:
conheço um casal semelhante !
só que nesse quem tinha mais speed era ele.
Perfeito texto.
Muito ilustrativo do que até hoje tem acontecido aos jovens, e aos menos jovens também.
Essa da juventude àrrasca não cabe no todo. HÁ MAIS sem serem jovens.
E é óbvio? o Pedro lá continua A BEM DA NAÇÃO...dele e, a manutenção do estado que "ele" pensa ignorar, NÃO VAI CONTINUAR.
LÁ ESTAREI SÁBADO, DIA 19.
Pois é ainda há dias ouve tantas Inês em Évora na luta pelos centros de saúde e transportes de doentes, mas na minha terra só existem Pedros,mas tenho esperança que venha alguma que lute contra o encerramento das 3 escolas que diz a ministra fecharem no Alandroal.
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