sexta-feira, 11 de março de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Meios ou fins de comunicação social?
Martim Borges de Freitas

Sexta, 11 Março 2011 10:25
Numa semana rica em acontecimentos mediáticos, como a tomada de posse do Presidente da República ou a vitória dos “Homens da luta” no festival da canção, a moção de censura do Bloco de Esquerda ou a manifestação da “geração à rasca”, a reunião extraordinária do Conselho Europeu ou as transferências operadas nalguns órgãos de comunicação social, a devolução do telemóvel oficial por parte de um juíz ou o ouro de Obikwelu e a prata de Naide, o Carnaval ou o Dia da Mulher, com tantos acontecimentos mediáticos ou mediatizados, vou falar hoje precisamente dos media.
Questões financeiras à parte, o sector dos mass media é, talvez, o sector da sociedade que, ao invés de quase todos os outros, mais singra em Portugal. Mas, ao mesmo tempo que nos vai impondo o que quer, pelo menos ao nível dos maiores órgãos de comunicação social, vai-nos informando pior. Isto é, vai-nos dando cada vez menos informação. Da verdadeira. Daquela que interessa. Daquela pela qual nos deveríamos interessar e pela qual deveríamos ser interessados.
Regra geral, vemos, ouvimos e lemos muita análise. E muita intriga. Provocação, rumor, combate e emoção. Mas pouca, muito pouca informação. Regra geral, vemos os repórteres a quererem ter graça, a procurarem o insólito, a decidirem, condenando ou absolvendo aqueles que apenas deviam retratar. Aliás, relatar o sucedido é mesmo o que menos interessa. Regra geral, os jornalistas vão ao evento com a notícia feita, impondo a agenda mediática que trouxeram da sede. De resto, a cobertura de uma obra estratégica para o país só importa pela oportunidade que dá de fazer a pergunta que embaraça o governante. Nem sequer sobre a obra, mas sobre o escândalo do momento que nada tem a ver com a obra. O investimento que se fez, o trabalho que deu, o benefício que traz, são pormenores omitidos pela insídia picante que cega o meio e o transforma num fim de comunicação social. E, no entanto, é justamente de um meio de comunicação social e não de um fim de comunicação social que se trata.
Procura-se o deslize, empola-se o lapso, rejubila-se com o descuido. Sem se darem conta da figura que fazem, triunfam os que conseguem encabular os entrevistados. Podem até ter sucesso. No mais das vezes, têm-no. Mas falta-lhes o rigor.
É significativo que existam em Portugal, no meio de tantos analistas – uns mais famosos e respeitados do que outros - muito poucos jornalistas reputados pelo facto de serem isso mesmo: jornalistas. Os directores de informação são também colunistas. As referências da classe são comentadores. Parece que informação e reportagem são filhas de um Deus menor. Acresce que não existe em Portugal o alinhamento ideológico-partidário explícito que existe em quase todos os países. Por cá – veja-se bem! – todos dizem a verdade! Todos os repórteres têm opinião, mas todos são isentos. O facto é que os mensageiros não são neutros. O resultado, no contexto político-partidário português, é, por conseguinte, o que se conhece!
Há evidentemente muita gente séria no jornalismo. Mas a imprensa não goza hoje, paradoxalmente ao poder que detém, de uma boa imagem. O que falta a Portugal são meios de comunicação social que tenham fins e não fins de comunicação social que apenas tenham meios. Falta-nos, portanto, uma imprensa verdadeira. Objectiva. Respeitada. Idónea. Que mantenha o poder que tem, sim. Mas que lhe acrescente dignidade. Ganharíamos todos. A começar pelos próprios órgãos de comunicação social.
Lisboa. 10 de Março de 2011
Martim Borges de Freitas

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