quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Encolher a democracia
Eduardo Luciano 

Quinta, 03 Fevereiro 2011
Cavalgando a onda de demagogia populista, que nos entra em casa diariamente e que pretende demonstrar que a política, os políticos e os partidos são todos iguais, Jorge Lacão vem agora recuperar uma velha proposta do PSD para redução do número de deputados.
Não espanta a proposta em tempo de discursos inflamados, muito parecidos com os que deram origem ao advento das ditaduras fascistas na Europa da primeira metade do século passado, contra os "partidos e a política".
O que espanta é o principal argumento de suporte a tão bondosa proposta: aproximar os eleitos dos eleitores.
Faz o mesmo sentido que afirmar que a redução de médicos de família significa mais atenção a cada utente, ou defender que embaratecer os despedimentos tem como objectivo promover o emprego.
De facto, a redução do número de deputados tem como objectivo diminuir a representação da vontade dos eleitores, reduzindo a democracia representativa e acentuando a tendência para um sistema bipartidário.
Desde sempre que os partidos do centro dos espectro político apostam no fenómeno de bipolarização e desde sempre que os eleitores lhes têm negado essa vontade.
Com a redução do número de deputados conseguem, por via legislativa, o que não têm sido capazes de obter plenamente nas urnas.
Imagine-se que no distrito de Évora a redução de deputados implicava a passagem de 3 para 1, mantendo-se os resultados das últimas legislativas.
Apenas o partido mais votado teria um representante na Assembleia da República, o que significava que quase dois terços dos eleitores não se sentiriam representados pelo deputado eleito.
Se me conseguirem explicar em que é que a democracia beneficia com esse facto, ou como é que esta alteração aproxima o deputado eleito dos eleitores...
Mas se estes argumentos não nos convencerem, virá seguramente para cima da mesa o argumento financeiro, 230 saem mais caro que 180. Este será sempre secundado pela generalidade dos analistas, politólogos, fazedores de opinião e de outras coisas, indo buscar as caricaturas para nos serem apresentadas como a regra e a norma.
Percebo que para alguns a democracia é tão cara que podia muito bem ser dispensada. Seriamos governados por uma elite escolhida em reuniões de conselhos de administração dos detentores do poder económico.
Tempos estranhos estes em que se discute o preço da democracia como se de batatas se tratasse, ignorando os ensinamentos da história e as consequências de discursos idênticos no passado.
PS e PSD ainda não chegaram a este limite, mas estou convencido que, se pudessem, proporiam um parlamento com apenas 3 deputados. E as maiorias iam-se alternando, ora dois do PS ora dois do PSD.
A proposta do dirigente do PS não promove mais proximidade entre eleitos e eleitores, o seu único efeito é o encolher da democracia.
Até para a semana... quem sabe
Eduardo Luciano

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