terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

COISAS DA VIDA - POR SEAN

« Coisas da Vida » - 31 Janeiro 2011

Na sequência das estórias de amor dos meus amigos

Foi no verão passado. Era sábado. Seriam três horas da tarde e um grupo de amigos que tinham almoçado umas postas de peixe espada grelhadas no restaurante do mercado do Alandroal, estavam conversando mas escadas, enquanto iam tabaqueando. ( não se esqueçam que é proibido fumar lá dentro ).
Ali, logo ao lado, encostado a uma árvore, um cartaz anunciava um espectáculo do circo que tinha levantado tenda no parque de festas e exposições.
Circo já com algum porte e dimensão. O espectáculo seria nessa noite.
Logo depois de voltarem para dentro do estabelecimento, onde umas minis frescas os esperavam, um deles, disse :
--- « Aqui há mais de cinquenta anos tive uma paixoneta por uma rapariga, filha do dono deste circo, que me levou a abalar com eles ».
Logo o resto do grupo, disse a uma só voz :
--- « Deixa-te de aldrabices e bebe lá a mini ».
Mas o outro insistia :
--- « O pai dela, que era simultaneamente dono do circo e ilusionista, tirava-a de dentro duma caixa, mercê duma varinha de condão, vestida apenas com um fato de banho. Eu nunca tinha visto uma coisa tão bonita ! »Perante a incredulidade dos amigos, o " mentiroso " continuava a insistir e até mandou para cima da mesa com o nome do ilusionista - Dakosta, assim se chamava -
Estavam nessa derriça, gozando com o amigo, e enquanto se abriam mais umas sagres, entraram no restaurante duas mulheres que facilmente se adivinhava fazerem parte do circo. Vinham beber café. Com elas vinham dois ou três miúdos com idades que rondavam os dez anos. Todos juntos ao balcão. E quando na mesa foi pronunciado o nome « Dakosta », um dos miúdos virou-se e disse :
--- « Era o meu bisavô »
Silêncio na mesa. Olharam todos uns para os outros. Esta situação despertou também a atenção das mulheres que acompanhavam os miúdos. Foi então que o " mentiroso " se adiantou e explicou à mulher mais velha o motivo daquela conversa, por sinal uma francesa, já madura, mas muito gostosona - viemos a saber mais tarde que era equilibrista -
Na conversa que a seguir se travou entre o grupo de amigos e as artistas do circo, ficámos a saber que, tendo o ilusionista Dakosta apenas uma filha - actual proprietária do circo - teria que ser ela o objecto dos amores de adolescência do nosso amigo.
" Olguita ", assim se chamava ( nome artístico, é claro ). E era a avó do puto que se tinha metido na conversa. Sempre vivera no circo, com os altos e baixos que essa vida implica. Tinha desempenhado muitas funções em toda a sua vida de artista : Trapezista, palhaço, domadora, música ....
Agora, fazia apenas a administração da caravana e a apresentação do espectáculo porque já não tinha idade para grandes trapézios.
Logo ali, entre todos, se combinou uma ida ao circo nessa noite.
Mas neste particular - tenho que ser franco - o amigo de quem conto estes amores, falhou estrondosamente.
Esqueceu-se.
Esqueceu-se ou foi atraído por uma caldeta à do Zé do Alto. Não sei bem. Mais tarde, quando o confrontei com a falta, disse-me que se tinha esquecido. É possível. Tratava-se de uma paixoneta antiga e as paixonetas antigas tendem ao esquecimento. É da condição humana.
Mas eu fui ao circo e mirei e tornei a mirar a " Olguita ". Um pouco forte para o meu gosto ( ele dizia-me que ela tinha um corpo flexível como um junco ) - deve ter engordado com a idade, agora que é sexagenária, mas ainda bonita. Ainda com um bom troço de cabelo e uns olhos claros que devem ter sido muito belos no passado.
Falta apenas acrescentar que essa paixoneta ainda levou o meu amigo a ser empregado do circo durante um mês. Fez a feira de Agosto em Reguengos de Monsaraz e ainda chegou a montar a barraca na feira de Portel. Aí, por influência de um amigo da família, teve que regressar ao Alandroal.
Tinha dezasseis anos.
Consta que levou umas boas sovas aquando do regresso. Para aprender a não sair de casa sem dizer para onde ia.
Passados que são mais de cinquenta anos, ainda diz que não se arrependeu.

Sean - Alandroal, 31 de Janeiro de 2011

--- P. S. = Hoje, li com atenção as " Voltas Trocadas " da Eveline Sambraz publicadas neste blogue. Sou desancado pela forma como trato as mulheres nas minhas crónicas. Segundo ela, falto ao respeito à condição feminina.
E eu respondo-lhe desta forma, Eveline :
Sou filho duma mulher e marido doutra. Tenho uma filha e uma neta. Como poderei eu faltar ao respeito às mulheres se vivo rodeado delas ?
De qualquer forma não vou discutir isto na praça pública. Se assim entender, pode contactar-me através do seguinte endereço electrónico « sean@sapo.pt » . Poderemos, então, discutir o assunto e verá que está enganada a meu respeito
Cordialmente.

4 comentários:

Anónimo disse...

CIRCO "DAKOSTA"

Assim foi o que se passou no Restaurante do Mercado. Presenciei TUDO.

Mas daí...até...e depois???

VOU ALI JÁ VENHO

Condimentados!!!e Apreciados comentários.

Vem-me á memória a compra das madeiras nas "Madeiras do Alentejo", da Alvicuba (Vila Viçosa) e da Funcionária do atendimento.

Por ora mais não digo.

Abraços para todos

Tói da Ddadinha

Anónimo disse...

Mais um belo pedaço de escrita.
Verdades...mentiras? O certo é que dá gosto lêr. Tem humor q.b. e não ofende ninguem.
José Maria

Anónimo disse...

O Sean que conte a história dos bailes à dos libatos em que cada um tinha um Dom, desde o Conde de Barrancos e por aí fora...

Anónimo disse...

Quem não te conheça que te compre!