segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Miguel Sampaio - A condição básica


Segunda, 27 Dezembro 2010 10:31
Existe uma condição básica para que se seja Presidente da República, que consiste em saber quais as atribuições do cargo.
Uma segunda condição, também ela de primordial importância é a experiência política. Não se é Presidente para dentro, apenas para os eleitores, o cargo implica a representação do Estado, só a prática política permite esse desiderato.
A ponderação é fundamental, Um presidente não pode ceder aos ímpetos consequentes de um carácter impetuoso, às reacções narcísicas que afagam o ego mas que são regra geral surdas às razões da comunidade e pouco profícuas na resolução dos problemas.
Um presidente tem de estar acima dos conflitos, acima dos unanimismos, só assim pode antecipar as crises, gerar consensos, evitar confrontos.
Um presidente não é imparcial, não tem de sê-lo, não pode ser isento, porque a pobreza existe, porque existem cidadãos em dificuldades singularmente inultrapassáveis. Um Presidente tem de tomar as dores dos mais fracos, daqueles que mais precisam.
Um Presidente não pode nascer de geração espontânea, tem de ter história e de se responsabilizar por ela, pelos actos que lhe construíram o presente, não pode apenas falar do futuro e alhear-se do presente e do passado que o trouxe até aqui.
Um presidente não pode ser o pleonasmo da sua função, é um Magistrado e se o é, tem de ser activo. Não pode dizer como num jogo de dados, que agora é que é.
Um presidente não pode defender a caridade, porque defendendo-a assume a sua impotência a suprema injustiça de admitir que uns que têm demais partilhem sobras com os que têm de menos. Um presidente tem de ser justo.
Um presidente não pode viver de apoios dos bancos, das seguradoras, dos especuladores, não pode estar comprometido com eles e depois afirmar-se o presidente de todos os cidadãos. Um presidente não pode viver da mentira.
Um presidente não pode ficar incomodado com o contraditório, ignorar as dúvidas, torpedear os que não concordam com ele.
Um presidente é um homem público, não pode criar tabus, impor agendas de conveniência pessoal, gerir o seu cargo como o chefe de família autoritário e inquestionável, porque numa democracia as famílias são muitas e muito diferentes.
Manuel Alegre sabe isso, Cavaco também.
Manuel Alegre pratica-o, Cavaco apenas finge que sim.
Fernando Nobre confunde o país com a sua ONG, por isso dá-lhe jeito esta crise, sente-se como peixe na água no meio das calamidades.
Miguel Sampaio

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