terça-feira, 9 de novembro de 2010

VASCULHAR O PASSADO – POR AUGUSTO MESQUITA

Nota prévia: Pessoa muito conceituada nos meandros literários de Montemor-o-Novo, e já com vários livros publicados versando principalmente a história do passado desta Cidade , Augusto Mesquita, permite-nos mensalmente transcrever os seus artigos publicados na Folha de Montemor.

Porque os temas abordados são muitas vezes comuns não só ao Alandroal como a outras localidades é imperioso lê-los, compará-los com as realidades da nossa terra e ao mesmo tempo recordar o passado.

Sempre pontual no envio dos seus textos, após publicação na “Folha” era grande a nossa estranheza pela demora do envio dos mesmos. Enviámos vários mails indagando o que se passava. Sem resultado.
Em conversa com o Giga no último desafio do Gus viemos a saber que o Companheiro Augusto Mesquita, está a passar por um momento difícil na sua vida. Um percalço numa deslocação a Badajoz, com um acidente de somenos importância (um prego espetado no pé) agravou-se e atirou-o para o Hospital de Évora, onde ainda se encontra.
Al Tejo, e o Chico Manel em especial, desejam-lhe rápidas melhoras, que regresse rapidamente ao nosso convívio, que o possa em breve encontrar nos desafios do G.U.S. de quem ele tanto gosta.
Entretanto e graças ao envio do texto pela redacção da Folha de Montemor, aqui fica o “Vasculhar o Passado” publicado na última edição da Folha de Montemor.
Boas melhoras Augusto Mesquita
Chico Manel

Um século de República

Um País que se tornou republicano sem abandonar a aristocracia

O ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, exigindo a retirada das forças militares portuguesas, chefiadas pelo major Serpa Pinto, do território compreendido entre as colónias de Angola e Moçambique, zona reivindicada por Portugal ao abrigo do Mapa Cor-de-Rosa, e a pronta cedência portuguesa às humilhantes exigências britânicas, os gastos da família real, que gastava mais do que lhe era atribuído pelo Estado, o poder da igreja, a instabilidade política e social, o endividamento do país, com muitas empresas e bancos falidos, e o próprio Estado incapacitado de pagar as suas dívidas, a ditadura de João Franco, a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos, e se adaptar à modernidade – tudo contribuiu para um inexorável processo de erosão da monarquia portuguesa.

Aproveitando o descontentamento popular, no dia 31 de Janeiro de 1891, rebentou no Porto, um levantamento militar, comandado pelo Capitão Amaral Leitão, que chegou mesmo a proclamar a República na Praça da Liberdade. Esta revolta, não resultou, pois os rebeldes foram inesperadamente parados, por um poderoso ataque da Guarda Municipal que, posicionada na escadaria da Igreja de Santo Ildefonso, abriu violenta descarga sobre a multidão em marcha, que obrigou à dispersão das hostes revolucionárias. Mas, o primeiro passo estava dado.
O tempo foi passando, e a República apresentava-se como a única força, capaz de devolver ao país, o prestígio perdido, e colocar Portugal na senda do progresso. No entanto, apesar dos evidentes êxitos alcançados pelo movimento republicano, o sector mais revolucionário do partido, advogava a luta armada como melhor meio de tomar o poder a curto prazo. Foi esta facção que saiu vitoriosa do congresso do partido realizado em Setúbal entre 23 e 25 de Abril de 1909, no qual Afonso Costa teve um papel importante no apressar a via revolucionária.
No dia 2 de Agosto de 1909, realizou-se a grandiosa (100.000 pessoas) manifestação contra a continuada submissão do Estado à Igreja, preparada pela Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento, organização de forte activismo pró- republicano, que se realizou na Av. Dona Amélia e ruas adjacentes, ao Lumiar em Lisboa, onde ficou claro, que a coroa estava em perigo. Embalado pelo sucesso alcançado nesta iniciativa, nas eleições de 28 de Agosto de 1910, o partido republicano teve um resultado surpreendente, elegendo catorze deputados, mas, foi necessário encetar o aprovado golpe de estado, para os republicanos chegarem ao poder.
Depois da relutância do exército, em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos, comandados pelo comissário naval Machado Santos, entre 3 e 4 de Outubro de 1910, a República foi proclamada às 9h00 da manhã do dia seguinte, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa. A revolução espalhou-se rapidamente pelo país, através do telégrafo, sem encontrar qualquer oposição.
Após a revolução, um governo provisório, chefiado por Teófilo de Braga dirigiu os destinos do país, até à aprovação da Constituição de 1911, que inesperadamente, impediu as mulheres de votarem, e deu início, à Primeira República. Entre outras mudanças, com a Implantação da República, a unidade monetária passou a ser o escudo, e foram substituídos os símbolos nacionais: o hino e a bandeira.

Para defesa e consolidação da República, foram criados, um pouco por todo o país, os célebres “Batalhões Patrióticos”. Por amável deferência, do meu amigo Luís Barroso, é possível ilustrar este artigo, com um valioso documento histórico, emitido em 6 de Março de 1911, a seu avô, Francisco António Barroso: o Bilhete de Identidade n.º 1 do Batalhão Patriótico da Vila de Montemor-o-Novo.


A Vila Notável, já com tradições na militância republicana, antecipou-se a muitas outras cidades e vilas do país, pois seis dias após a proclamação da República, tomou posse nos Paços do Concelho de Montemor-o-Novo, a Comissão Administrativa Municipal Republicana, presidida pelo Dr. João Luís Ricardo e composta pelos cidadãos João Augusto da Silva Monteiro, Domingos José Matos, Henrique Batista do Espírito Santo, Albino Vasques Fadista, Albino Cró Pimenta de Aguiar e João José Pereira Reis.
Após a tomada de posse, a Comissão Administrativa, aprovou o seguinte lema: “Ordem, Trabalho e Justiça”. Prestou em seguida homenagem aos dois chefes – Dr. Miguel Bombarda e ao Vice-Almirante Cândido dos Reis, recentemente falecidos. A Comissão Administrativa recebeu de saldo da gestão monárquica, a quantia de oito contos de réis.

Festa da Bandeira – No dia 29 de Novembro, foi aprovada a nova Bandeira de Portugal. O Governo Provisório estabelece por decreto, o dia 1 de Dezembro, como sendo o da Festa da Bandeira. É o primeiro feriado da jovem República, e a primeira festa cívica por ela realizada, a primeira liturgia de consagração da República.
Em Montemor-o-Novo, a cerimónia do hasteamento da nova bandeira, foi presenciada por numerosos republicanos.

Augusto Mesquita

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