Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Luís Sebastião - O meu é maior que o teu
Quarta, 03 Novembro 2010 11:48
Hesitei muito, antes de ser mais um a abordar o triste espectáculo a que se tem assistido a propósito da proposta de Orçamento de Estado para 2011. E tenho hesitado porque não me parece que se possa sobre o tema dizer algo de suficientemente informado e ponderado para que seja algo mais do que um simples sound bite.
Mas, como dizem as belas palavras de Sofia de Mello Breyner, cantadas pelo Padre Fanhais, vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar.
E, neste caso, o que vemos arruina o que resta do prestígio que os nossos políticos de topo, do governo ou da oposição, ainda tinham junto das populações.
Vejamos: desde antes do Verão que há uma espécie de convicção estabelecida de que esta proposta de Orçamento tinha que passar, por motivos patrióticos. Convicção que assenta na quase unanimidade de opinião de economistas, gestores, cientistas políticos, comentadores e gente comum, quer em Portugal que na Europa. Mas, se isto é verdade, também é verdade que quer José Sócrates, quer Pedro Passos Coelho, no melhor estilo "jotinha", agiram sempre como se, no fundo, desejassem ardentemente que o orçamento fosse chumbado. E o governo caísse, para eles poderem medir-se e decidir quem é maior. Provavelmente, porque ambos julgam que esse seria o caminhno mais curto, um deles para a manutenção do poder e o outro para a conquista do poder a muito curto prazo.
E foi assim que partiram de posições extremadas e não fizeram outra coisa que não fosse inflamar discursos e jurarem que não fariam o que logo se apressaram fazer.
Como é do conhecimento geral, um dos motivos principais, se não mesmo o único, para que a aprovação do Orçamento fosse considerada uma necessidade era a de que era forçoso dar esse sinal aos mercados para que os juros sobre a dívida soberana de Portugal, a actual e a futura, pudesses avaliar.
E eis que assim que é anunciado o início das reuinões de negociação entre o PSD e o PS os mercados reagem positivamente e os juros começam a cair. Mas eis que Sócrates e Passos Coelho têm um arroubo de genialidade estratégica e, quando toda a gente cria que estava estabelecido o acordo, decidem romper as negociações. E, naturalmente, os juros voltam subir. Entretanto, os nosso jovens heróis vão os dois a Bruxelas, cada qual para a sua agenda própria, entenda-se, e quando regressam reiniciam as negociações e os juros voltam a descer. Assinam o acordo, só que ninguém já acredita. Porque ambos os contentores não se coibem de bravatas e ofensas mútuas. E ontem, o debate do Orçamento na Assembleia da República foi o culminar de um modo infantil, birrento, pateta, de fazer política. E os juros da dívida pública aproximaram-se rapidamente dos máximos.
É que, obviamente, o que Portugal precisa é de um horizonte alargado de estabilidade política, o que pressupõe, acima de tudo, sentido patriótico e de responsabilidade, verticalidade de carácter, cultura política e competência técnica. Tudo qualidades que parecem longe dos actores em questão.
Só com ciclos de governação longos e estáveis é possível implementar reformas profundas e reorientar o rumo de um país. Talvez a solução fosse duplicar o mandato dos governantes (um mandato de oito anos sem possibilidade de reeleição). Talvez assim pudessemos assistir às reformaas necessárias e os políticos escusavam de passar o primeiro mandato a pensar no segundo e o segundo a pensar na reforma e governassem de facto.
Até ara a semana
Luís Sebastião
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