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Luís Sebastião - O Anti-Cassandra
Quarta, 27 Outubro 2010 09:35
O grande psiquiatra americano Leon Eisenberg escreveu um dia que os astros se movem de um modo sublimemente indiferente à nossa astronomia de terráqueos, mas que os humanos se comportam em função do que eles próprios pensam que são. Esta afirmação que, aparentemente, parece uma verdade do senhor de La Palice, acarreta consigo um sem número de consequências com expressão em muitas das áreas da acção humana.
É a mesmíssima verdade que os chineses exprimem quando dizem que temos que ter muito cuidado com o que desejamos, porque isso tende a tornar-se realidade.
No mundo da educação, dá-se a este tipo de profecias auto-realizáveis o nome de efeito de Pigmaleão. E todos os professores sabem que aquilo que pensam acerca dos seus alunos tende a cumprir-se em termos de comportamento e de resultados escolares. Têm por isso que evitar a todo o custo que se cristalize neles uma primeira opinião. Têm que manter uma permanente vigilância crítica sobre as expectativas que vão formulando.
Por razões óbvias, também no campo da política este tipo de fenómenos se verifica. E, por isso, os responsáveis políticos, mas em particular os fazedores de opinião e os meios de comunicação social têm que ser muito cuidadosos com as mensagens que difundem e promovem. Apenas e só porque elas tendem a realizar-se.
Consciente disso, o Primeiro Ministro José Sócrates jogou toda a sua capacidade de manipulação dos meios de comunicação social para tentar promover e difundir a imagem de um país de sucesso, a superar a crise, com futuro, na expectativa de que, por o dizer e desejar, isso se viesse a tornar realidade. Mas José Sócrates tem um relação muito particular com a verdade. Tomando os seus desejos por realidade, ou desejando intensamente para ver se se realizam, Sócrates sacrifica a verdade sem o mínimo estado de alma. E as pessoas parecem acreditá-lo.
O mito grego de Cassandra mostra como o problema da verdade está mais em quem ouve do que em quem diz. A bela filha dos reis de Tróia tinha o dom da profecia mas, amaldiçoada por Apólo, ninguém acreditava no que ela dizia. E porque ninguém acreditava no que ela dizia, Tróia foi destruída.
A Drª. Manuela Ferreira Leite falou sempre verdade mas, qual Cassandra, ninguém, ou quase ninguém, acreditou nela. E , por causa disso, estamos à beira do precipício.
Sócrates, pelo contrário, qual anti-Cassandra, falou quase sempre mentira e as pessoas acreditaram. Será que isso nos tirará do precipício?
Até para a semana.
Luís Sebastião
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