AO CORRER DO TECLADO - RÚBRICA DO AL-KALATY

A PREOCUPAÇÃO E O DESCONFORTO – Em tempos de vacas magras!


Pouco resulta ou adianta atormentarmo-nos interiormente com determinados insucessos da vida, ou intimidar-nos com fracassos inesperados de outros, ainda que possam fazer-nos desconfiar das peçonhas.
Porventura, não existirão conquistas a cem por cento, rectilíneas ou de apenas um impulso, sabendo que estas se desenvolvem conforme as circunstâncias e as dificuldades, comungando os tropeços ou os embaraços, muitas das vezes já julgados intransponíveis ou irrisórios.
Aqueles que se queixam e que se revoltam, face a grandes e pequenos acidentes de percurso,(ainda que resultantes de insignificantes imprevistos, de complicações de última hora), devem fazer um esforço suplementar, pois a vida é completamente semeada de cascalho, ferindo os pés daqueles que por lá transitam, e apenas a atenção reforçada e a precaução nos impedem de os ferir.
Situações de recomendação são imprescindíveis no sentido de, reduzir ao mínimo os motivos de revolta ou de queixas.
Dentro elas… o conselho de fugir a resoluções precipitadas, de agitação ou histeria, combatendo tanto quanto possível a vaidade costumeira dos nossos desejos, esquecendo muitas vezes realidades que devem forçosamente ter-se em conta.
Preocupados com determinadas aspirações superiores às suas capacidades e possibilidades perspectivadas, inúmeras pessoas jamais poderão sentir-se satisfeitas com aquilo que têm, com a situação que desfrutam, com o cargo que ocupam ou com as honrarias e os destaques que alcançaram.
Tantas vezes arrastados pelas paixões que agitam e que multiplicam os desejos, é natural que tais vítimas se atormentem quando não conseguem pequenos nadas pessoais.
Daí, a existência de múltiplas queixas injustificadas quase sempre, com as quais se martirizam, matutando os porquês, e por consequência martirizam terceiros por inerência.
Esses infelizes e insatisfeitos, vão precisar da assistência paciente judiciosa a breve trecho, de um médico do espírito, que lhe faça ver que a vida não é um doce remanso, por se tratar do bem-estar de outrem, nem de uma qualquer tragédia, como conhecidos poetas pretendem e batendo o pé tantas vezes.
Sem dúvida, ao que parece isto está a tornar-se muito amargo, mas depende muito de cada indivíduo, e da redução da dose de amargura que lhe coube.
E se para todos, ou para a maioria, a suas vidas se tornaram num cativeiro, devem dizer que dependerá apenas de nós felizmente torná-la mais suportável, pois processos não faltam e os objectivos podem ter ajustes, dado que nem todos se esqueceram ou esquecem deste ano, nem por dá cá aquela palha, as fantasias da cartilha objectivada.
Cada qual deverá, temperando as paixões, moderando aspirações e contentando-se com a riqueza e saúde adquiridas, e lisamente conquistadas , traçar um rumo, condizente com o agregado familiar.
De muito vale, também, para alcançar essa finalidade, saber restringir no devido tempo e na devida proporção, abafando os ímpetos mórbidos da vaidade e saber recolher-se, chegando o momento da intimidade na família, sabendo de que é melhor viver despretensiosamente, do que no afã de movimentadas evidencias ou ostentações mundanas.
Nada se equipara a uma vida singela e tranquila, com a serenidade de espírito, contribuindo para um dom pessoal de temperamento mais ajustado, num ordenamento de vontades inteligentes e mais longe das boticas.

10102010JPBR