quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Eduardo Luciano - As lutas, os ataques, os silêncios


Quinta, 30 Setembro 2010 10:39

Tinha eu acabado de chegar a casa depois de uma jornada de luta contra estas políticas que afogam a maioria para garantir que uns quantos continuem lucrar convenientemente, quando dou pelo anúncio de cortes salariais na função pública, aumento do IVA para 23%, congelamento do investimento público, entre outras medidas que tornam o PEC, nas suas diversas versões, uma coisa ligeira.
Hoje, por toda a Europa, trabalhadores saíram à rua para se manifestarem contra uma austeridade imposta por interesses que nada têm a ver com a promoção do emprego ou do crescimento económico.
Em Espanha, as duas centrais sindicais promoveram uma Greve Geral que tinha como objectivo central o combate às anunciadas alterações da legislação laboral. Apesar das suas diferenças e de uma delas ser próxima do partido no governo, foi possível a construção de uma jornada de luta global com assinalável sucesso.
Em Portugal, a CGTP convocou manifestações em Lisboa e no Porto onde participaram milhares de pessoas, que disseram não estar disponíveis para suportar este agravamento das suas condições de vida.
Perante as medidas anunciadas hoje, que alternativa resta aos trabalhadores que não seja endurecer a luta e promover a resistência a outros patamares, mesmo sabendo que a outra "central sindical" está mais virada para declarações inconsequentes do que para dar o corpinho ao manifesto?
E por falar em dar o corpinho ao manifesto, permitam-me que realce a atitude dos agentes culturais da cidade que estiveram presentes na última Assembleia Municipal.
Durante mais de uma hora, várias associações que se dedicam profissionalmente à promoção da cultura na nossa cidade contaram aos presentes das suas angústias, aflições e dramas, pelo incumprimento das obrigações do município relativamente a 2009 e pela indefinição dos apoios para 2010 quando já estamos às portas do último trimestre.
Não foram discursos de pedintes que imploram por uma esmola, mas de gente que, com toda a dignidade, descreveu o que faz em prol da cultura no concelho e da importância que o cumprimento de compromissos assumidos para o continuar a fazer.
Quem não sabia ficou a saber que há empregos que dependem daquelas actividades, que há associações a proceder a despedimentos, fornecedores que não recebem porque os agentes não têm como lhes pagar e apoios do Ministério da Cultura comprometidos porque o apoio da autarquia é condição sine qua non para tal.
De todas as intervenções realço a de um jovem que, em menos de 5 minutos, foi capaz de resumir uma das principais consequências que estes incumprimentos comportam.
É um trabalhador da cultura que, devido à indefinição provocada pelo incumprimento da autarquia, viu a sua colaboração com um agente cultural local chegar ao fim.
Aqui estudou, aqui começou a sua actividade profissional e aqui queria ficar. Lamentavelmente, teve que ir embora, levando consigo a família entretanto constituída. (Lembrei-me logo dos apoios aos Novos Povoadores, os tais que traziam 10 famílias para o Centro Histórico).
Todas estas declarações foram feitas de forma tranquila, objectiva, reconhecendo as dificuldades financeiras da autarquia.
Pensava eu que depois das intervenções, aqueles que normalmente falam em subsídio dependência, de nichos de intervenção sem interesse para o grande público, que têm sempre uma palavra jocosa quando o problema dos atrasos nos pagamentos é levantado, que dizem que é preciso deixar de apoiar actividades com interesse para meia dúzia de pessoas, que confundem actividade cultural com actividade comercial com cultura à mistura, se levantassem e dissessem o que costumam dizer e escrever.
Mas não. Perante aquele nível de intervenção cívico e da clareza das exposições, aos costumes disseram... nada. Incluindo o Presidente da Câmara e Vereadora do Pelouro.
Resta-me acreditar que o silêncio seja apenas sinal de impotência e não de indiferença.
Até para a semana.

Sem comentários: