sexta-feira, 13 de agosto de 2010

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA PARTE II

(Último episódio)

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

Como sabem, o general seguira o caminho do exílio, explicava o tio Jean Jacques, mas, muito embora, naquela noite se apresentasse disfarçado com um bigode e uma peruca, ele reconhecera-o perfeitamente, pois quando saíra da academia militar e fora colocado numa base aérea, antes de ingressar na guarda fiscal, o general, na altura coronel, fora seu comandante. Conhecia-o perfeitamente. Tinha a certeza que o tinha identificado correctamente. E se não bastasse a identificação visual, a conversa que ouvira entre o general e a mulher que o acompanhava, servira para lhe tirar todas as dúvidas. O general estava em Badajoz para se encontrar com outros opositores da ditadura portuguesa que preparavam um golpe que apearia do poder o presidente do conselho de ministros, António de Oliveira Salazar. )
A tia Rosário compreendeu então a perturbação que invadira o marido à mesa do restaurante.
No dia seguinte chegámos a casa.
Os homens vinham excepcionalmente calados, talvez ainda impressionados com os acontecimentos da noite anterior.
Confesso que rapidamente esqueci o que se passara no hotel durante o jantar. Vinha com vontade de falar com os amigos do meu primeiro contacto com o ramo extremeño da família. Vinha encantada, e tanto eu como a Evita, prometemos a nós mesmas não deixar que as relações entretanto restabelecidas caíssem em esquecimento. Nós nos encarregaríamos de lembrar os nossos maiores para que aquele tipo de contactos se tornassem regulares. E iniciámos, desde logo, uma troca de correspondência com os parentes da nossa idade do lado da Extremadura. Infelizmente, o tio Lorenzo faleceu pouco depois. No seu funeral apenas estiveram presentes os irmãos Rodriguez Potra.
Foi então que uns meses depois, talvez Maio ou Junho, num dos almoços que costumavam juntar todos os irmãos Rodriguez Potra, no monte das Courelas, voltei a ouvir falar do general, oposicionista ao Estado Novo, que tinha jantado ao nosso lado naquele restaurante do hotel de Badajoz. O tio Jean Jacques até trazia jornais espanhóis que falavam do assunto.
Parece que tinha sido vítima de uma armadilha, uma trama montada pela Pide, a polícia política portuguesa.
Em finais de Abril, a sul de Villanueva del Fresno, num sítio a que davam o nome de Malos Pasos, num antigo trilho de contrabandistas, uns jovens pastores, tinham descoberto, mal enterrados, dois cadáveres.
Corria nos meios militares que esses cadáveres seriam do general Humberto Delgado e da sua secretária, a brasileira Arajarir Moreira Campos. O general teria sido atraído a Badajoz, com o engodo de uma reunião com comandos militares portugueses, e depois assassinado pela Pide, que acabara por deixar o cadáveres em território espanhol.

Acaba aqui este relato de uma viagem à Extremadura. Com o pormenor último de termos passado ao lado da História.
Outras viagens se sucederam a esta. Talvez um dia volte a este assunto e vos conte outras viagens, agora com as gerações mais novas dos Rodriguez Potra.

Rufino Casablanca

(Em breve, vamos poder ter o privilégio de vêr esta obra publicada em livro)

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