segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA PARTE II

(Continuação da semana anterior)

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

A visita estava a chegar ao fim, aqueles dias tinham passado a correr. Todas as noites eram noites de recordar o passado. Os membros da família reuniam-se na grande cozinha da casa do tio Lorenzo. Os extremeños e os alentejanos. Depois do jantar falavam que nem uns desalmados, com as conversas a sobrepor-se. Todos querendo contar histórias que tinham ficado caladas durante muitos anos. O tio Jean Jacques, marido da tia Rosáro, o único que não tinha sangue Rodriguez Potra, e que ajudara a resolver as questões legais para que a viagem se pudesse efectuar, estava um pouco deslocado naquele ambiente. Sempre calado, ouvira o meu pai e o tio Francisco, assim como o velho tio Lorenzo, contar as histórias mais mirabolantes sobre passagens de fronteira e contrabando. Ele, que era oficial superior da Guarda Fiscal, e que nessa época até comandava a força da guarda que tinha a seu cargo o controlo fronteiriço na região, ficava perfeitamente abismado como o seu pessoal tinha sido, e era ainda, enganado e iludido todos os dias. Não estava chocado, apenas não participava nas conversas. Verdade seja dita, também não era muito solicitado para nelas participar. Mas também não perdia pitada do que se falava. Por vezes, sorria com os métodos que eram utilizados por quem, desde menino, andava naquela vida.
Talvez seja agora altura de lhes contar como ele e a tia Rosário chegaram ao casamento, embora essa história não tenha muito a ver com esta viagem à Extremadura.

Rosário José Rodriguez Potra e Jean Jacques de Castro Sagan

Foi pouco depois da morte de Rufino, que Rosário, a irmã mais nova da família, conheceu aquele com quem viria a casar. Trata-se de Jean Jaques de Castro Sagan, tenente do exército, que substituía, interinamente, o comandante da companhia da Guarda Fiscal que estava estacionada em Capelins. Encontraram-se na venda do António da Cinza quando ela fazia compras.
Era homem que andava na casa dos trinta, último descendente duma família francesa, como se pode ver pelo nome. Saído da academia militar e depois de uma passagem pelo exército, prestava agora serviço na Guarda Fiscal. A beleza de Rosário deixou-o impressionado e procurou saber quem era a rapariga junto do dono da venda, que foi muito discreto nas informações que deu, pois conhecia a aversão que os Rodriguez Potra tinham em relação aos guardas fiscais. Mais tarde, voltou a encontrá-la nas festas da Santa Cruz e, aproveitando uma oportunidade, conseguiu ser-lhe apresentado. Falaram durante alguns minutos, sendo isso o suficiente para o convencer a pedir um encontro com Francisco Rodriguez Potra de Avelar, irmão mais velho da moça.
Este, quando o António da Cinza, que serviu de intermediário no pedido, lhe falou no assunto, teve, como primeira reacção, ir buscar a espingarda, sendo necessária toda a diplomacia do taberneiro para o convencer que não se perdia nada em saber o que o tenente queria. Ficou então o encontro aprazado para o dia seguinte na taberna do mensageiro. Francisco mandou chamar o irmão João José e combinaram ir juntos ao encontro do tenente. O João José levaria com ele um daqueles pistolões que sempre tinham prontos para qualquer emergência. Afigurava-se, tanto a um como a outro, que o tenente, como comandante da Guarda Fiscal, não podia deixar de estar informado das actividades da família, tanto no que dizia respeito ao contrabando, como da protecção que tinham dado e continuavam a dar aos refugiados espanhóis que continuavam a fugir para Portugal.
O António da Cinza, à cautela, não os informara das perguntas que o tenente lhe tinha feito sobre a irmã.
No local e hora combinada, lá estavam os dois irmãos preparados para tudo. Daí a pouco chegou o oficial que vinha impecavelmente fardado, botas altas de montar, lustrosas de graxa, e pingalim debaixo do braço. Tirou o bivaque antes do António da Cinza fazer as apresentações e de seguida pediu licença para se sentar.
O taberneiro mandou sair dois ou três fregueses que estavam ao balcão e ele próprio desapareceu pela porta dos fundos, deixando-os sozinhos.

(Coninua amanhã)

2 comentários:

Anónimo disse...

Para quando a edição em livro, mesmo em edição barata, desta obra ?

francisco tátá disse...

Para breve...para breve