segunda-feira, 16 de agosto de 2010

VASCULHAR O PASSADO - POR AUGUSTO MESQUITA

Toucou-me profundamente este artigo escrito pelo nosso colaborador Augusto Mesquita, que como já várias vezes referimos, recorda tempos idos do que se passou por Montemor.

Aliás por existir uma grande analogia entre pessoas e instituições que se podem relacionar com o Alandroal, parece-me que lidos e comparados valem a pena (além de bem escritos e revelando um prodígio de memória, e um amor sério pela terra natal, um trabalho sério sobre pesquisa) serem apreciados por todos aqueles que fazem o favor de seguir o Al Tejo.
E porque me tocou profundamente?
Porque se trata de falar dos Bombeiros, porque o A.M. rebuscou tudo sobre os Bombeiros da sua terra.
Porque fui o primeiro Presidente da prestigiosa Associação dos B.V.A., porque muito (em actas que espero não tenham sido destruídas) muito há para memória futura fazer o historial dos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO ALANDROAL.
Talvez um dia, e se os documentos necessários me forem facultados o faça.
Entretanto se outros que muito têm dado em prol da INSTITUIÇÂO. O queiram fazer o Chico ficava-lhes grato.


Chico Manel

P.S – de seguida escrevo um artigo sobre o mesmo tema (Bombeiros) e que reflecte uma indignação total sobre a maneira como por vezes os SOLDADOS DA PAZ são tratados.

Os nossos Bombeiros completam 80 anos

Há notícias de repetidas tentativas de organização de Bombeiros Voluntários em Montemor-o-Novo desde 1876. Outras tantas vezes se desfaziam ao fim de certo tempo. A origem de tais tentativas era a necessidade imperiosa que todos sentiam da sua presença quando as tragédias surgiam – principalmente os pavorosos incêndios que destruíram em 1873 a Casa de D. Francisco de Sousa Barreto sita no Terreiro de S. João de Deus, e em 25 de Maio de 1922 o belo Teatro Montemorense, espaço que deu lugar à Casa dos Magistrados e à agência da Caixa Geral de Depósitos.
Foi definitivamente em 10 de Agosto de 1930 que um grupo de beneméritos montemorenses organizou em moldes mais firmes a actual Associação dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Novo. Foram seus fundadores: Dr. Alfredo Maria Praça Cunhal, Eng.º António Justino Mexia da Costa Praça, Jerónimo de Almeida Faria, Luís Pimenta de Aguiar, Francisco Simões Carneiro e Luís Henrique Fragoso Amado, que contou com o apoio da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, presidida pelo Senhor José Feliciano do Carmo Reis.
As primeiras admissões de voluntários ocorreram a 27 de Abril de 1931. No mês seguinte o Corpo Activo composto por 30 elementos, já se encontrava em actividade, fazendo a sua aparição pública em 5 de Julho desse ano.
A primeira sede funcionou em instalações camarárias situadas na Rua de Santo António, transferindo-se em 1931 para a Rua 5 de Outubro, edifício onde está instalada a Coprapec, e aí se manteve durante 23 anos.
Em 1932, foram adquiridas as primeiras viaturas – um pronto-socorro, e um carro de pessoal. A primeira ambulância foi inaugurada em 1940 e possuía o n.º 4 de registo de viaturas.
No dia 4 de Junho de 1940, foi inaugurado um novo carro Auto-Maca, que veio enriquecer o material já valioso, que os valorosos Soldados da Paz possuem. Após a cerimónia do corte da fita simbólica pelo Dr. Alexandre Mariano Guerra, o médico mais antigo do concelho, a Banda da Pedrista tocou o Hino dos Bombeiros de Montemor-o-Novo, da autoria do maestro Henrique Cruz.
Além da inauguração da nova Auto-Maca, efectuou-se também a duma biblioteca, organizada por uma Comissão de Bombeiros.
Em 1953 o Bombeiro Voluntário Senhor Celestino José Gatinho e o antigo aferidor municipal, Senhor António Jacinto Marques Macedo, construíram uma maca rodada, a qual foi oferecida aos Bombeiros da sua Terra Natal. Para a humanitária instituição, eles quiseram contribuir também de algum modo, não hesitando em sacrificar as horas destinadas ao repouso, ao concurso que, numa hora de inspiração nobilíssima, entenderam dever dar aos Soldados da Paz. Esta maca rodada servia para transportar doentes para o Hospital Civil de Santo André, e para os Hospitais de Lisboa. Para a deslocação à capital, a parte superior da maca, era depositada num vagão. Depois de fazer o transbordo na Torre da Gadanha e no Barreiro, o doente chegava a Lisboa, onde era colocado numa ambulância dos Bombeiros lisboetas, que o transportavam para o hospital de destino. Entregue o doente aos colegas lisboetas, a maca regressava à estação de Montemor-o-Novo no mesmo meio de transporte. Chegada à estação ferroviária montemorense, era colocada no rodado, que ali ficara depositado, e empurrada pelos voluntários que se deslocaram a Lisboa, regressava ao Quartel. Meu Deus, como era a vida (?) naquele tempo!
Porque a sede dos Voluntários de Montemor-o-Novo era exígua, avançou-se com a iniciativa de construir uma nova sede. Para o arranque do Quartel, em Outubro de 1946, a Associação contou com os legados do Senhor Dr. António Justino da Costa Praça e da Senhora Condessa de Safira, de 10.000$00 cada, enquanto o Senhor João Inácio Freixo forneceu gratuitamente toda a madeira necessária, o Senhor António Joaquim Marques dos Santos, ofereceu dez milheiros de tijolo e dez toneladas de cal, o Senhor José Luís Ricardo ofereceu 1.372$00, o Senhor Engenheiro António Justino Mexia da Costa Praça, pagou o projecto e a “maqueta” do actual quartel, e a Ceres ofereceu todo o trabalho de serração de madeiras utilizadas na obra. O “sorteio dos porcos”, iniciativa de João dos Santos Ribeiro e a venda da miniatura do capacete, levada a efeito por um grupo de senhoras, originaram uma receita importante para a construção da nova Casa dos Bombeiros.
O terreno onde se encontra instalada a sede, foi adquirido por um preço simbólico à Senhora D. Joana Marques Pereira Rosa.
Oito anos depois do início das obras, a 17 de Janeiro de 1954 foi inaugurado o novo Quartel situado no Largo do Mercado, com o seguinte programa:
8,00 Horas. Formatura geral do Corpo Activo com hasteamento da Bandeira Nacional no novo Quartel e da Bandeira da Associação na antiga sede.
10,00 Horas – Missa na Matriz por alma dos bombeiros, benfeitores e sócios falecidos, seguida de romagem ao cemitério, onde foram depostas flores nas campas dos bombeiros.
15,00 Horas – Concentração no Rossio das colectividades congéneres e outras, desfilando as Corporações pelas ruas de Montemor-o-Novo, seguindo-se na retaguarda as respectivas viaturas, sendo prestada continência geral, às entidades convidadas, no edifício da Câmara Municipal.
16,30 Horas – Bênção do novo edifício por Sua Excelência o Senhor Arcebispo de Évora e sessão inaugural. Presentes o representante do Ministro das Obras Públicas, vários membros do Governo, Presidente da Câmara Municipal e outros convidados. Discursaram vários oradores e foram descerrados alguns retratos de benfeitores.
Fizeram-se representar, com as suas viaturas, cerca de sessenta Corporações de Bombeiros de todo o país.
Deram alegria a esta inauguração as Bandas da Sociedade Carlista e dos Bombeiros Municipais de Santarém. No final foi oferecido um jantar volante a mais de setecentos convidados.
Ao êxito deste importante melhoramento ficaram ligadas muitas pessoas como o 1.º Comandante Luís Fragoso Amado, Eng.º António Justino da Costa Praça, João dos Santos Ribeiro, Daniel Lopes Borges, D. Joana Pereira Rosa, José Luís Ricardo, Leopoldo Nunes, Custódio do Carmo, Casa de Bragança, 2.º Comandante Francisco Simões Carneiro, Chefe Francisco dos Santos Magina e muitas outras entidades e amigos.
A Vila Notável esteve em Festa. O sonho de muitos anos surgiu enfim, como uma realidade palpável e dignificante para todos.
Em 1954, a Direcção dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Novo, era constituída pelas seguintes personalidades: Presidente, Eng.º António Justino da Costa Praça; Vice-Presidente, Benigno de Almeida Faria; Tesoureiro, Feliciano Afonso Bonito; Secretário, Carlos do Nascimento Cunha; Vogal nato, Luís Fragoso Amado.
A Rádio “Voz de Lisboa” transmitiu na íntegra a Sessão Solene, e os diários lisboetas, fizeram deslocar a Montemor-o-Novo os seus enviados especiais.
O estandarte da Associação dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Novo foi confeccionado por Maria Madalena de Abreu e Silva, uma deficiente motora, sobrinha da esposa do Comandante Fragoso, que era carinhosamente tratada por menina Bia.
Sob a direcção de Francisco Roque, no ano de 1972, surgiu a fanfarra, que passou a abrilhantar diversas festas locais e a actuar um pouco por todo o país. Destaque para o desfile perante a tribuna do Primeiro Ministro Cavaco Silva, nos anos oitenta, na marginal do Estoril, e para a Guarda de Honra ao Presidente da República Jorge Sampaio, na sua deslocação a Montemor-o-Novo, no ano de 2000.
Em 10 de Novembro de 1985, no Quartel, foi descerrado o busto do Comandante Luís Fragoso Amado, seu primeiro Comandante – 41 anos de dedicação aos Bombeiros
Numa iniciativa do Bombeiro José Pedro Marques, foi criada em 1986 a Secção de Atletismo, que tem levado o nome de Montemor-o-Novo a várias terras do nosso país.
A Equipa de Manobras alcançou em 1988 na cidade de Leiria, o título de Campeã Nacional. No ano seguinte, em representação dos Bombeiros de Portugal deslocou-se à Polónia, onde conquistou uma medalha de bronze.
Os anos foram correndo, e dada a evolução dos tempos, o Quartel dos Bombeiros já não tem condições para o momento presente. O saudoso arquitecto José Garrett elaborou em 1987 um projecto para a construção de um novo quartel, em terrenos municipais, junto ao Intermarchê, o qual foi aprovado por deliberação camarária de 18 de Março de 1988. Decorridas duas décadas, a necessária comparticipação estatal ainda não chegou. É o reconhecimento dos sucessivos governos, para com uma instituição, que desinteressadamente se sacrifica, em favor de quem sofre a dor ou o perigo.
Com um programa diversificado, em 2005, os nossos Bombeiros comemoraram as suas “Bodas de Diamante”. Realce para a realização da “Gala do Bombeiro de Mérito”, promovida pela Liga dos Bombeiros Portugueses no Cine Teatro Curvo Semedo, em 15 de Maio, e para a inauguração do “Monumento ao Bombeiro”, da autoria do escultor António Redondo, ocorrida no dia 12 de Junho.
Através de Concurso Público, foi adjudicado à Planirest, empresa de construção civil com sede no Prior Velho, pelo preço de 1.018.609,88 € + IVA, a execução da obra de ampliação e remodelação do Quartel, em espaço adquirido pelo Município de Montemor-o-Novo. O projecto refere-se à construção – grande ampliação – em espaço adjacente às instalações actuais, ocupando uma área interior de cerca de 1.500 m2 e exterior de 500 m2. Elaborado pelo Gabinete de Projectos Urbiteme, com coordenação do Arquitecto José Torres., esta obra é financiada em 70% através do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) do MAI. Após a morte do Arquitecto José Torres, o responsável pelo projecto passou a ser o Arquitecto Paulo Machado.
No dia 13 de Julho último, o Ministro da Administração Interna Rui Pereira presidiu à cerimónia de colocação da primeira pedra das referidas obras, que se iniciaram no dia seguinte.

Augusto Mesquita

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