A BARBEARIA DO BARRADAS
Proponho-me deixar aqui a descrição de locais de outrora, que de qualquer forma contribuíram para a vivência do dia a dia na Vila do Alandroal noutros tempos.
Antes do mais assumo que sou saudosista, e como tal sinto saudades não só dos tempos vividos, como da maneira como os vivi e que não tenho qualquer vergonha em dizê-lo.
Ainda estou esperando que uma iluminada inteligência me explique porque as palavras saudade, saudosismo, outros tempos, são conectadas com fascismo, Salazar, e outras de igual teor...mas enfim...
Ainda há pouco tempo um “esparvoierado” comentarista de meia tigela (que facilmente identifiquei) me acusava de há falta de melhor, e após não ter outros meios para se meter comigo me acusava de só recordar o passado, metendo os pés pelas mãos e terminando por nada dizer.
Enfim… já nem todos vão tendo cabimento neste espaço, e como tal em casos destes – lixo.
Obs: Este texto foi escrito no século passado, publicado no blogue em 2004, mas não perde actualidade.
Situava-se a Barbearia do Barrada em plena Praça, no local onde está agora um pronto-a-vestir para crianças, propriedade da D. Maria Otília. Localização perfeita, no local mais concorrido. E porque se diferenciava a Barbearia o Barradas das outras? O Barradas, alem de ser o Barbeiro mais jovem do Alandroal, era pessoa conhecedora de outros locais e de outras vivências graças às deslocações frequentes que fazia a outras localidades às vezes bem longínquas como elemento da Orquestra Bass, onde colhia ensinamentos que frequentemente estavam inacessíveis aos jovens dessa época. Tinha um rádio sempre ligado, revistas e jornais para folhear, e até vejam bem dependurado nas paredes “gajas boas” recortadas dos calendários Pirelli, o que constituía já por si um velado desafio à moral e bons costumes da época. Nos Domingos à tarde era o local ideal para ouvir o relato da bola, e com a barbearia sempre à cunha era logo ali que se festejavam os golos do Benfica. Foi a primeira a aderir à máquina eléctrica e a habituar os clientes a verificar o corte por intermédio de um espelho estrategicamente colocado por detrás da nuca do cliente. Não admira portanto que a malta jovem que na altura frequentava o “Colégio” fizesse da Barbearia do Barradas o seu ponto de encontro, e entre conversas em que se “malhava” na vida alheia, do futebol, da politica (com um olho no burro e outro na ferradura), se trocavam pontos de vista e se discutiam os casos badalados da altura.
Se o “colégio”, nos ministrava os ensinamentos necessários para um futuro melhor, não há duvida que a Barbearia do Barradas era um pólo da Universidade da vida.
Saudações Marroquinas
Xico Manel
7 comentários:
AMIGO FRANCISCO MANUEL,DESDE JÁ UM GRANDE ABAÇO. DOU-LHES OS MEUS PARABENS DE PÚBLICAR ESSAS SUAS RECORDAÇÕES REAIS QUE SEMPRE OVI FALAR AQUI DA NOSSA TERRA, QUE É ALANDROAL. EU SOU MAIS NOUVO QUE O SENHOR, MAS TAMBÉM GUARDO BOUAS RECORDAÇÕES. TENHO OVIDO DIZER QUE QUANDO EU TIVE O ACIDENTE, O SENHOR E AMIGO, FOI A PRIMEIRA PESSOA ADULTA, A CHEGAR AO PÉ DE MIM AVIZANDO AS PESSOAS PARA NÃO ME MEXER. UM ABRAÇO E ATÉ PARA AS FESTAS DE N.S.DA.CONCEIÇÃO.
Pois è amigo.
Calhou estar à porta do correio e aperceber-me do acidente.
Devo ter batido o record de descida da ladeira que dá para o Correio.
Ainda bem que te “safaste” pois a tua habilidade no artesanato merece bem que estejas entre nós.
Um abraço para ti e obrigado pelo comentário
Chico Manel
Quando da publicação dos "Ofícios" referi-me à barbeariado Barradas, contando um pequeno episódio, que se passou comigo e o meu primo Narciso, nessa altura aprendiz de barbeiro, quando este me fazia a barba.
São estas vivências, um elo de ligação, não só, aos sítios, que nos foram queridos, mas também, e acima de tudo, às pessoas, cuja a amizade cultivámos e nestas recordações, continuamos a cultivá-la. São extratos, etapas salutares da estrada que na vida percorremos, naquele tempo, juntos
na troca de ideias, algumas concordantes, outras discordantes, mas que criaram entre os homens de bom senso, o sentimento indestrutível chamado AMIZADE.
Francisco Manuel, só te posso dizer, continua COMPANHEIRO.
Helder Salgado.
Lembro-me perfeitamente desse artigo (qualquer dia volto a publica-lo).
Obrigado pelo incentivo
Um abraço
Chico
Vou recordar uma história que ouvi contar aos mais velhos, nessa barbearia, entre barbeiro e freguês.
Barradas, o barbeiro, tinha um freguês de seu nome José Garcia, que de quando em vez aí se deslocava para cortar o cabelo. Numa certa manhã de um longínquo ano, José Garcia entrou na barbearia e pediu para cortar o pêlo.
À conversa com mestre Barradas, José Garcia avançou com um dos seus exageros: olha Barradas, hoje vi algo de extraordinário, nunca tinha visto!... Estava um rebanho de ovelhas a pastar debaixo de uma couve!!
Barradas, sem pinga de sangue, engoliu em seco e lá foi ouvindo outros exageros, mas da couve é que não se esqueceu.Terminado o corte, José Garcia pagou e desandou.
Passados uns tempos, a mesma cena repetiu-se e José Garcia foi cortar a lã.
Quando estava em pleno corte, Barradas avançou decidido e meteu conversa: Senhor José Garcia, fui a Lisboa e visitei uma fábrica onde fazem panelas. Veja lá o senhor que para fazer uma só dessas panelas eram precisos 40 homens!
José Garcia, meio surpreendido, perguntou: e para que era uma panela tão grande?
Barradas disparou: para cozer a couve que o senhor viu!
Garcia pagou e desandou...
Barbearia, barbeiro e fregueses, os relatos de futebol... tudo tão vivo na memória!
Cabé
Por falar em figuras típicas do Alandroal, há uma que está doente no Garcia da Horta em Almada: é o Azedo (José Manuel Salgado Belo Madeira).Quem estiver pela zona vá vê-lo.Tem uma pancreatite.
JOSE MANUEL SALGADO BELO MADEIRA
Aqueles que porventura visitem o Azedo agradeço que lhe transmitam os meus desejos amigos de rápida recuperação.
Tói da Dadinha
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