segunda-feira, 9 de agosto de 2010

JÁ QUE ESTAMOS EM FASE DE “RECORDAÇÕES” E EM “CONTRAPARTIDA” AO ARTIGO DO “SEAN” EM “NOTAS SOLTAS”, VAI ESTA!

VARIAÇÕES


O FADO É A EXPRESSÃO POR EXCELENCIA, DO SER PORTUGUÊS. (José Pracana)

((antes de ler…asse uma linguiça alentejana, muna-se de um pão da mesma região, abra o site: http://www.fado.biz/terreiro%20do%20fado, e deixe a guitarra trinar.

Vindo do lado de Espanha, despontam os primeiros raios de sol. O Guadiana ainda dorme, calmo, vai-se espreguiçando, até que é sacudido pelos remos do pequeno barco, que vai sulcando as mornas águas a caminho do açude onde na noite anterior ficaram as redes, que hão-de aprisionar os barbos que servirão de pretexto para o convívio há tanto esperado.
A pescaria foi generosa, e de regresso já junto à margem são os mesmos esventrados e escamados….os grandes para a caldeta…os mais pequenos para fritar.
Sobe-se a íngreme ladeira, para a VARANDA DO GUADIANA, simples construção, inserida no sulcado da margem direita, onde uma imensa mesa de mármore irá albergar os comensais.
Todos os nossos sentidos são despertos: a visão do Guadiana, qual espelho de água correndo de mansinho, para cumprir a missão de engordar Alqueva; o chilrear dos melros, misturado com o cante dos grilos; o odor agradável do rosmaninho que brota pelas encostas, misturado com o penetrante cheiro do poejo da ribeira que cresce abundante junto às margens.
Sob as ordens do MARTINS, uns partem o pão, outros põem a mesa, outros descascam as batatas…todos contribuem para que a caldeta seja um sucesso. Comenta-se que o toucinho com alho, e o queijinho de cabra estão uma delícia, não desfazendo do BORBA.
Não faltam elogios à excelência, do cozinheiro, a caldeta estava mesmo de se lhe tirar o chapéu, não falando do peixe frito, tempero de truz, e cortado por mestre, pois isto de cortar barbos não é para todos. O MARTINS sabe disto como ninguém.

E CHEGA A HORA:

O DINO, saca a guitarra, ataca com…

Ai…ai…ai.ai
Ai …ai meus senhores
Minha terra é linda…mais linda é ainda
Por lá vender flores.
Vendem-se lá rosas, cravos em botão,
E os lírios são lírios…os tristes martírios
Que as saudades dão.

Junta-se a viola de MESTRE LAU (que Deus o tenha em bom lugar), a 12 cordas do CAMILO, e mais a guitarra do CARVALHO.

È agora a vez do MANEL AUGUSTO

Na Igreja de Santo Estêvão, junto ao cruzeiro do Adro,
Houve em tempos guitarradas.
Não há pincéis que descrevam, aquele soberbo quadro,
Dessas noites bem passadas….

O ANTÓNIO GÓIS:

Quantas mágoas vejo eu
Em teus olhos, quando me olhas
São mágoas vindas do céu
Que as minhas mágoas consomem

E prossegue:

Oh velho fado corrido, se foste dos mais bairristas
Porque te mostras esquecido, na garganta dos fadistas
……………………………………………………….
Sobre os cascos da vinhaça, deitado em forma bizarra
Estava sempre uma guitarra para servir de negaça.
O cagirão da murraça, de tosco barro vidrado,
Andava sempre de roda, passando de mão em mão.

A assistência empolga-se, aplaude…e os fadistas não se fazem rogados.

É altura do DINO, apresentar a sua coroa de glória, e com os acordes da viola do CAMILO:

Dos amores do Redentor,
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma Lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu de Amor….

E o CHICO, que veio de Montemor, também alinha:

Montemor é Praça cheia, na arena pisam a areia
Os bregas e os cavaleiros…
O sol brilha lá no alto, e o povo em sobressalto
Espera o ferro…o primeiro…

A festa anima e todos querem colaborar…. Em uníssono:

Senhora Cegonha,
Como tem passado
Não há quem a veja
Pousar no telhado
Da torre da Igreja….

Mais um peixinho frito, mais um copo, e é a vez do MANEL AUGUSTO:

Não olhes pra mim não olhes
Eu vivo tão bem assim
Olha lá para quem quiseres
Mas olhes mais pra mim.

E quando a TUCHA entoa a última estrofe:

Por uma lágrima….por uma lágrima tua…
Que alegria…me deixaria matar.

O MESTRE ZÈ DO ALTO, não pode evitar que um nó se instale na garganta e uma lágrima furtiva assome ao canto do olho. Uma tristeza, boa se instala dentro de nós, um sentimento inexplicável nos percorre de alto abaixo, um dom que só alguns têm o prazer de poder desfrutar.

O sol começa a declinar, a noite vai cair e ao som do:

Vou-me embora, vou partir, mas tenho esperança…vou correr o mundo inteiro…quero ir…quero ir e conhecer Rosa Branca……

Saudações Marroquinas
Xico Manel,

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3 comentários:

Anónimo disse...

Em questões de recordações, recordo e bem a falta de pontualidade em quase tudo do antigo executivo,e, quando se publicitava algum acontecimento do concelho, era sempre tarde e a más horas, às vezes com 3 a 4 dias de antecedência.
A excepcão foram as agendas culturais do Forum.
Pelos vistos a mudança nesta área não se realizou mas sim continuou. Alguém acha normal que a menos de um mês das maiores festas do Concelho, Festas de Nossa Sra da Conceição, nada esteja decidido, programado e confirmado.
Tenho a impresaão que o professor Grilo de tanto que quer ser diferente do Nabais , em tudo se assemelha! Está mais que provado que o oposto se atrai.
Será que o motivo é o facto de o sr. presidente estar de férias? Para o ano trate das coisas antes das "vacances"......

Anónimo disse...

O post é um encanto : 5 estrelas.
O 1º comentário : 0 estrelas.

Anónimo disse...

Ainda tive o prazer de provar dessas caldetas e desse peixe frito. Cozinhados magníficos, num ambiente espectacular e num local sem igual, as barreiras do Guadiana, sim, porque para mim continua a ser GUADIANA. Embora o grupo fosse diferente, o espírito era o mesmo, passar momentos inesquecíveis! Recordo com saudade esses grandes momentos! Obrigado Sr. Chico por recordar...


Ps: não estraguem o post com comentários infelizes