A propósito de uma postagem colocada ontem a que dei o título de “comentário que nos faz pedir ajuda”, cujo conteúdo solicitava saber sobre personagens que fizeram parte da história do Alandroal, o nosso habitual colaborador Amadeus Saraband teceu o seguinte comentário, que de qualquer maneira, não pode ficar “escondido” na caixa de comentários mas merece sim ser lido e apreciado porque constitui na verdade um testemunho da maneira de estar , do carácter, das boas gentes da nossa Terra.
Aqui fica mais este “Regresso ao passado”:
... Correspondendo ao convite ...
Amadeus Saraband diz ...
Cada coisa a seu tempo.
Hoje, falarei do Toíco.
Amanhã, se para tanto houver cabimento, falarei da Vitória Chouriço. Mãe do Toíco, para os mais novos e que não conhecem estas genealogías.
Sobre a Vitória Chouriço ainda aqui fica, hoje, a confirmação da sua acção solidária : A Ramona e o Manolo, um casal refugiado da guerra civil espanhola, que moraram, anos a fio, no " bairro das minhocas ", sempre encontraram nela um grande apoio. Apoio moral e mesa posta, verdade se diga. Uma grande mulher. De feições trigueiras e corpo miúdo, era, todavia, grande em alma. Em sua memória, recordo algumas sopas de tomate que comi, juntamente com o Toíco, sentado à chaminé da sua casa.
Mas estas conversas ficarão para depois. Hoje, eu quero é falar do Toíco.
Do Toíco pós-Alandroal. E vou fazer uma revelação que, atrevo-me a dizer, será do conhecimento de poucos.
Quando em meados dos anos sessenta, o Toíco foi trabalhar para o Aeroporto de Lisboa, de imediato se inscreveu no então chamado Sindicato do Trabalhadores Aeroportuários. Devido à sua maneira, séria e honesta, de tratar os problemas, rapidamente subiu na hierarquia do sindicato, e quando passados cinco ou seis anos, em 01/10/1970, ainda no tempo do Estado Novo, não esquecer, quando ainda este trabalho era clandestino, o Toíco esteve na reunião que hoje a CGTP-Intersindical Nacional, considera a sua primeira reunião constitutiva.
Podemos, assim, considerar que o Toíco foi membro fundador da maior central sindical portuguesa.
O que acima contámos foi a parte séria deste escrito.
Agora, a parte em que o humor também tem lugar. E nesta parte entra outra personagem do Alandroal : O Arnaldo Passos, nem mais nem menos.
Pela época em que o Toíco andava naquelas andanças clandestinas e sindicais, eu também morava em Lisboa. Morava é no outro lado da cidade. Quando nos encontrávamos, normalmente ao domingo, cada um de nós fazia meio caminho, e jantávamos na cervejaria portugália. Na avenida Almirante Reis, como sabem.
Pois bem, certa noite, depois de jantarmos, quando ainda estávamos à conversa, na esquina da cervejaria, passou o Arnaldo Passos que, na altura, era taxista em Lisboa. Os abraços da ordem, os cumprimentos, e o Arnaldo lá seguiu, ganhando a sua vida.
Isto por volta da meia-noite.
Quando, ás três da madrugada, o Arnaldo voltou a passar pela esquina da portugália, ainda os mesmos dois estavam de paleio e, para que não fiquem dúvidas sobre a seriedade da conversa, a seco.
O Arnaldo resolveu aquilo à maneira dele : os dois dentro do táxi e levou-nos a casa.
Foi assim.
Amadeus Saraband
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