sábado, 7 de agosto de 2010

"GENTE DA NOSSA TERRA" – HOJE O BERBEM RECORDA- NOS “O FITAS”

Meus caros Chico Manel, Amadeus S, estimado Sean:


Creio que é, no filme “ Casino”que o Al Pacino diz mais ou menos isto:"só há três maneiras de fazer as coisas: bem feitas, mal feitas,à nossa maneira.
Ora bem, fazer as coisas bem e à maneira do Al tejo, leva-me a pedir-vos para recordámos sem mais demora o papel que teve no Alandroal o João Fitas, no banco por onde passou, o BES onde se tornou um Agitador político de primeira qualidade.
Como sabem convivi muito de perto com o J.F. durante vários anos em Lisboa, e sem estar aqui a precisar de destacar-lhe uma das suas mais variadas, profundas e inteligentes qualidades, conto-vos só isto:
Na noite do passamento de Salazar fomos para a Portugália beber uma imperial à memória de extinto ditador... clericalizado.
Bebemos várias.
Após as imperiais,surgiu inevitável,o desafio do João Fitas.
Vamos ao Jerónimos prestar-lhe a última Homenagem.Estávamos cinco comparsas.Fomos Dois. Eu e Ele. Entrámos,observámos o ferétro (eram para aí umas três da manhã e não estava quase ninguém) e Eu mais baixo em altura, apenas me lembra de ver o nariz adunco de S. dormindo, dormindo.
Isto com o João, a dizer-me que este facto ficaria para a nossa história. Anote-se que eu tremia que nem varas verdes...enquanto o J.Fitas estava na maior. Exactamente porque sempre foi um dos maiores da nossa geração, para não estar aqui a lembrar outras coisas.
É claro, que mesmo à saída... estava alinhada uma carrinha da PIDE que "gentilmente" nos encaminhou para a Rua António Maria Cardoso. Estão a ver a cena?
O J.Fitas sempre bem disposto (e com que coragem) enquanto eu, meu Deus, temia definitivamente pelo meu emprego de funcionário publico na manhã seguinte.
Como é que a coisa acabou?...
Ainda não será desta que o contarei o lastro da aventura na totalidade. Adianto, no entanto, que anos mais tarde se soube por um historiador que Marcelo Caetano, deu ordens par soltarem toda a gente detida nessa noite.
Com superior visão politica, penso eu agora.
Aqui têm meus dilectos Amigos,a razão porque continuo a pensar que andamos todos um bocado esquecidos de trazer o João Fitas para o Altejo.Trazê-lo para mostrar a sua personalidade. Lembrar a sua liderança. Demonstrar a sua criatividade. Pôr a claro o seu belo trajecto politico. Identificar a sua formação literária e os seus conceitos e perfil de cidadania, com hoje já se diz.
Acho em suma,que o Alandroal deve muito ao que o João era e foi para quem com Ele pôde jogar à bola (era defesa central) viver e conviver.
E para que conste:tenho infinitas saudades dele!

António Neves Berbem

11 comentários:

Unknown disse...

Amigo Tó Zé:é por demais evidente que o João Fitas marcou a nossa juventude porque, além de todas as virtudes era um leader nato, sendo que os seus pensamentos andavam noutra galáxia. Não convivi tanto com ele como tu tiveste esse privilégio, mas fiz parte desse quinteto. Foi ele que me proibiu de os acompanhar pois eu era um im berbe militar e, mandava a prudência que eu não podia ser visto no local do dito defunto.

Anónimo disse...

Estou em acôrdo absoluto com o Berbem sobre a influência que o João Fitas exerceu sobre a rapaziada do Alandroal, sobretudo aquela que agora está na casa dos sessenta. E também me parece importante, já que o editor do blogue procura isso, que aqueles que o conheceram melhor, nos digam como ele era de facto. É que pode haver mais que uma versão, pois raramente existe apenas uma perspectiva sobre a mesma pessoa ou, até, sobre um mesmo facto.

E desde já digo que não estou à espera de contraditório pois o João foi das raras pessoas que conheci que reunia unanimidade.

No que a mim diz respeito, como já disse acima, estou de acordo com a visão do Berbem.


Sean

Ana Paula Fitas disse...

Carissímo Amigo :)
Foi com extraordinário prazer que li este texto e tomei conhecimento deste episódio histórico. Guardo do Tio João a imagem de um Grande Amigo, companheiro inteligente e atencioso, capaz de levar mais longe o entendimento do mundo... e mais não digo porque, como calcula!, me comove pensar nele e ao seu permanente olhar de aprovação perante a construção da minha forma de pensar e estar... É por isso que nem sei como vos agradecer a amizade e o tributo que aqui lhe prestam e a linda ideia de me fazerem chegar esta mensagem que, como ele muito gostaria de saber, reforça a nossa amizade solidária - eu lembro-me tão bem do Chico Manel... Um grande, enorme e sentido abraço, meu amigo... e muito, muito obrigado!
Ana Paula Fitas

Unknown disse...

António Berbem

Não imagina como me emocionei ao ler as suas palavras que recordam o meu pai. E que recordam características muito fortes, sempre presentes na sua maneira de viver, de olhar o mundo e de se dar com os outros. Eu vivi de forma muito intensa (apesar de o ter perdido muito cedo) a relação com ele. Como só se pode viver quando luta, liberdade e justiça são as portas para o mundo. Deu me isso tudo com muito mimo. Com muito amor e coragem.

E tenho tantas saudades!

António, muito obrigada. Foi tão bom ler esta história e sentir o João Fitas, o meu pai. Tão bom...nem imagina. Vou lê-la aos meus filhos,os netos que o João não chegou a conhecer, a Catarina e o Afonso. Vão gostar.

Maria João Fitas

António Galhardas disse...

O João, como o Martinho disse, era um lider nato e como tal adorávamos ouvi-lo tanto nas tascas do Chile,como em casa dele na rua Neves Ferreira, como ainda no Alandroal.
Um Beijo á Chica e ás filhas que eu já não conheço.

Anónimo disse...

À Maria João e à Ana Paula.
"Era lá de casa"...termo que se utilizava relativamente aqueles que, em suas casas ou na dos pais, conviviam com os seus amigos. Eu fui um dos "de lá de casa" porque muitas vezes com o JOÃO FITAS (Janita lhe chamavamos os da Rua da Cadeia e da Rua do Hospital, porque mais íntimo) nos encontravamos de facto na casa do v/avô Manel e da v/avó Balbina. Invariavelmente sob um qualquer pretexto.
Mas, sobre a sua HONESTA VERTICALIDADE DE HOMEM, recordo um episódio ocorrido connosco e outros na taberna(bares e discotecas de outrora) do Domingos Cainó, um pouco fora das horas normais!!!(permanência ilegal, assim se definia para penalizar...alguns)em que perante o "esperado" aparecimento da autoridade policial e de uma imediata sanção ao seu proprietário,logo o Janita intervem em defesa do Domingos Cainó. Porque não era justo o que, naquele fim de noite e...em nome da LEI..., pretendiam fazer ao bondoso Domingos.Outros espaços idênticos mantinham permanências "fora de horas" e, não eram sancionados.
E...depois de algumas deslocações à sede policial o processo «foi arquivado».
Não quero deixar de recordar o JOÃO FITAS, sempre com muita saudade e infinita amizade.

Tói da Dadinha

Anónimo disse...

... e quando aqueles três gonçalvistas, convictos e assumidos, durante o verão quente de 75, todos os dias, gritaram nas ruas que eram a " muralha d'aço " ...

Um deles era o João.

... e quando o João animava os dois restantes, dizendo que desta vez é que era ...

... e quando se deu o golpe ?
... o 25 de Novembro ...
( deixemos de meias palavras )

... e quando o trio se transformou em duo ...com a partida do João !.

... e quando o Toíco, anos depois, também seguiu viagem ...

Ficou apenas este pobre ... que ainda não conseguiu preenher o vazio que a partida dos outros dois causou.

É assim que eu gosto de recordá-los.

A um e a outro.

Obrigado companheiros ( camaradas, porque não ? )

... e até sempre !

Anónimo disse...

se me permitem e dentro do meu parco conhecimento, do João,sõ tive o privilégio de com ele conviver durante a minha juventude, guardo desse tempo uma imagem brilhante dele, já que, sendo um ano mais velho do que eu,
quando eu metia alguma argolada, lá aparecia ele para aconselhar. foi quanto a mim, um homem VERTICAL,
não importa qual o seu principio politico, pos é desses Homens que a nossa sociedade actual carece.
Também tal como alguns de vós, privei com a TIA BALBINA e o TIO FITAS,o JOÃO, não era nem mais nem menos, do que o resultado da amizade,do respeito, hombridade, que sempre conheci naquela casa.
Tambêm o recordo com imensa saudade.Até digo mais, a toda aquela familia.
Um abraço,
Manuel Augusto

Anónimo disse...

Obs.

Tal como "os dois Joões",não me importo absolutamente nada de dizer que também fui gonçalvista...é para isso que deve usar-se a liberdade de ser.É que,verdadeiramente,a liberdade só se tem quando dela se faz um uso constante.
E mais.

Posso assegurar-vos que cheguei a falar pessoalmente com o General Vasco Gonçalves no lançamento de um livro de um grande amigo dele,imaginem,o Fernando Vieira de Sá que foi da FAO e, que por sua vez, tinha sido amigo do Bento de Jesus Caraça.
F.Vieira de Sá que,felizmente, ainda é vivo com os seus 94 anos bem conservados.

Tenho um fotografia desse encontro precioso com VG. Da conversa que com Ele tive,ficou-me na memória,entre outras coisas,a sensação da sua profunda humildade face à enormidade de problemas com que a sociedade portuguesa se debatia.Um dos quais tinha (e tem) a ver com a Impreparação... e o excessivo protagonismo dos que detinham poderes na época.Marcas,disse,de um enraizado individualismo dos portugueses.
Marcas estas,em relação às quais (e todos, por aí, o sabemos)o João Fitas, se opunha com todas as forças e argumentação que tinha.

Com as melhores saudações


Antonio Neves Berbem

Ana Paula Fitas disse...

Para o Tói da Dadinha :)
Obrigado, querido amigo pelas boas palavras que aqui me deixou e à João...
Um grande abraço sentido e um beijinho com muitas saudades :)

Ana Paula Fitas disse...

A todos os que aqui registaram palavras e sentimentos tão nobres, feitos de amizade, confiança e cumplicidade, o nosso agradecimento sincero... com um abraço especial para os que, afectuosamente, referem a nossa avó como a Tia Balbina :)
Bem-hajam!