POIS É
O professor e escritor brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna produziu um texto que a minha mulher partilhou comigo recentemente. Aqui fica, dedicado desta vez a todos os que poderiam, pelos motivos que adiante entenderão, escrevê-lo sem alterar uma única vírgula.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estouvanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de nós no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que sentimos que já não podemos trocar as fraldas àquela criatura. (...) A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil (...).
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam. Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Dixámos de ir buscá-los à porta das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judo. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
1 comentário:
É a terra a rodar todos os dias e as folhas do calendário a passar.
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