quarta-feira, 28 de julho de 2010

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA PARTE II

(Continuação)

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

Após a conversa, que durou cerca de quatro horas, em que foram dadas explicações completas e os mais ínfimos pormenores foram abordados e para que não restassem nenhumas dúvidas, pois todos sabiam que aqueles eram assuntos de vida ou de morte. Perante aquelas notícias, João José aceitou planos de qual seria a melhor forma de chegar a um ajuste de contas, ouviu todas as opiniões, calando as suas, e por fim, na posse de todos os dados, agradeceu os esforços desenvolvidos. As ofertas de ajuda para o que fosse necessário vieram de todos os presentes, e a isto respondeu João José que teria primeiro que falar com os irmãos e que depois os informaria do que decidissem. Havia também que esclarecer qual tinha sido a participação dos amigos do António Pombo em toda aquela tramóia à luz destes novos elementos.
Todos os que se encontravam na cabana eram velhos companheiros de muitas passagens relacionadas com contrabando, e, sobretudo, com questões muito mais complicadas vividas nos anos da guerra civil.
João José descansou o resto do dia, tendo ficado combinado que um dos presentes o apanharia na estrada de Cheles, às onze horas da noite, em ponto, em local rigorosamente marcado. Enquanto descansava, dois ficaram de guarda e à hora marcada e no local exacto, meteram-no no automóvel do outro companheiro que o levou até Cheles, onde o entregou ao António da Cinza. Este, por sua vez, deu-lhe guarida na azenha da sua ilha, e levou-o no dia seguinte ao monte das Courelas, onde Francisco já o esperava.
Parece fácil toda esta operação, no entanto quero lembrar que só foi possível porque levada a cabo por gente a quem nasceram os dentes naquela vida, e aqueles de que aqui falamos, foram todos meninos do rio. Nas duas margens do rio, havia gente que se entendia nestes trabalhos desde criança. Gente humilde que, curiosamente, durante os tempos de guerra se encontrou do mesmo lado da barricada, e esse foi o tempo de pôr à prova a coragem, espírito de abnegação e sacrifício de todos eles. É também verdade que alguns ficaram pelo caminho. E outros estavam presos nas prisões dos falangistas. Alguns, ainda, estavam presos em Portugal. Isto, porque o Salazar não era melhor que o Franco. Uns, já tinham sido vingados. Outros, sê-lo iam no futuro. Tomara eu tempo e capacidade e ainda vos contarei algumas dessas histórias. Pronto, o João José lá ficou rodeado pelas irmãs e pelo Francisco. Ainda por ali pairava a presença do Rufino. Quando era vivo todos lhe ralhavam, pois o seu feitio brincalhão, tirava do sério, a toda a hora, qualquer pessoa. Agora todos andavam angustiados porque lhes faltava o Rufino.... Hermano bueno, no dizer de Francisco.

(Continua...)

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