(Continuação do dia anterior)
VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
Deixou ao seu lado esquerdo o sítio da Churreira, arrabalde do Rosário, e atravessou, a vau, o rio Guadiana, cerca de dois quilómetros mais acima. Ia vestido com roupas largas, folgadas, afim de ter os movimentos mais livres. Levava as alpercatas de corda com os cordões atados nos tornozelos. A samarra muito gasta, de pele de cabra e uma mochila com o indispensável para uma viagem, a pé, de três ou quatro dias. A boina basca caía-lhe para a nuca.
Duas horas mais tarde passou à ilharga do monte de Milreo, o Milreo espanhol, não o Milreu português. No Milreo espanhol tinha um bom amigo, antigo companheiro de contrabando, mas agora não era altura de visitas desse tipo, agora tinha que trazer, o mais rapidamente possível para Portugal, a informação completa e os nomes dos mandantes da morte de seu irmão Rufino, que tinha sido assassinado há um mês junto à igreja de Nossa Senhora da Fonte Santa. Como decerto estão lembrados, os Rodriguez Potra tinham pedido aos amigos espanhóis que os tinham acompanhado no funeral do irmão, para fazerem um levantamento o mais completo possível, a partir dos documentos que tinham encontrado nas roupas daqueles que o Rufino ainda conseguiu matar antes dele próprio ser morto. É que pelos documentos se via ser gente das cercanias de Olivença. Os cães do monte de Milreo ladraram, assinalando a passagem do João José já a caminho de Cortijo del Abogado. Tinha que apressar-se, pois antes do sol raiar, teria que estar no local de encontro, a sul da rivera de Táliga. Por velhos caminhos, veredas e senderos, caminhou nas seis horas seguintes, sempre alerta, sempre com a maior atenção a qualquer ruído fora do comum. Ainda o sol não tinha nascido e já ele estava na cabana de pastor em que o encontro iria ter lugar, alrededor de Cortijo del Hornillo. Ainda descansou duas horas antes que os companheiros chegassem, o que aconteceu por volta das sete horas.
(Continua)
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