(Continuação)
VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
Todos se preocupavam. O único que não dava importância a esses assuntos era ele. Talvez por isso foi apanhado desprevenido. No monte do Meio, um amigo que o visitara propositadamente, ainda o prevenira para alguma coisa que estaria para acontecer, pois tinha surpreendido alguns homens que, falando espanhol, estavam acompanhados de uns antigos companheiros do António Pombo, o tal de Vila Viçosa, que perseguia os refugiados políticos espanhóis, até ele ser próprio ser morto. Encontrara-os por acaso na tenda do ti Relhas nos Orvalhos, e pareceram-lhe altamente suspeitas as perguntas que fizeram sobre os hábitos do Rufino e dos irmãos. Ao Rufino, o aviso entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Quando o funeral saiu da casa dos Rodriguez Potra em Terena, raras foram as pessoas que se atreveram a incorporar o cortejo, o semblante dos familiares, incluindo as mulheres, era de tal forma impassível que todos adivinharam a tragédia que estava para chegar. Para além disso a Guarda Nacional Republicana acompanhava de perto a cerimónia e ninguém queria ver-se envolvido naquela situação. Todos sabiam que a morte de Rufino não ficaria sem resposta.
Metido o caixão no jazigo da família, os espanhóis que os tinham acompanhado desapareceram rapidamente, não sem antes terem combinado um encontro com o João José, no Cortijo del Hornillo, a sul da rivera de Táliga, em território espanhol, para dali a uns dias. Levaram com eles os documentos que os irmãos tinham encontrado nas roupas dos espanhóis e a incumbência de uma investigação de forma a identificar, com rigor, quem eram os mandantes da morte de Rufino.
.... cerca de um mês depois....
O automóvel avançava com cuidado pela estrada, muito acidentada, de terra batida, que ligava Ferreira de Capelins à aldeia do Rosário.
Era Francisco Rodriguez Potra de Avelar que ia ao volante. A seu lado ia João José Rodriguez Potra. Eram irmãos, como estar lembrados. Seguiam calados. Apenas se ouvia o ranger das molas da viatura devido ao mau estado da estrada.
Eram cerca de nove horas da noite.
Já com as luzes do Rosário à vista, poucas, passaram a ribeira do Lucefecit junto à foz e logo de seguida o automóvel parou.
Saíram os dois e, sem palavras, abraçaram-se. De imediato João José voltou as costas e embrenhou-se na escuridão.
(Prossegue amanhã)
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