sexta-feira, 23 de julho de 2010

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA

(Continuação)

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

Nota da narradora:
( deixem-me fazer aqui um parêntese para lhes explicar a relação familiar que existia entre estes refugiados e o Rufino Casablanca, autor do texto anterior. Este, era filho de Antónia Casablanca, neto, portanto, de Juan António Casablanca. O pai do Rufino era um vendedor de loiça do Redondo que morreu afogado na ribeira do Lucefecit, juntamente com os burros, numa noite de cheias " brabias " pouco antes do Rufino nascer. Estes refugiados, pai e filha, acabaram por ficar a viver com os Rodriguez Potra. Desde que passaram a fronteira a salto, e verificaram que, regressando a Espanha, mesmo depois de acabar a guerra, corriam o risco de ser presos ou mesmo condenados à morte, decidiram ficar em Portugal, já que a família que os acolhia estava disposta a aceitá-los. Por aqui ficaram numa semi-clandestinidade, aliás sem documentos, como já se disse. Acabaram por, praticamente, fazer parte da família. E o nome próprio do Rufino Casablanca é uma homenagem ao Rufino José Rodriguez Potra. )

Pois como ia contando o meu pai ao tio Lorenzo, nessa casa viveu o Rufino José até à sua morte. Melhor dizendo até ao seu assassinato. Verdadeiramente ele foi assassinado junto à ribeira do Lucefecit e quando o seu corpo foi encontrado já estava em adiantado estado de decomposição. Desaparecera há vários dias, o que para ninguém constituiu estranheza, pois isso acontecia com bastante frequência.
Foi precisamente o Juan António Casablanca que o encontrou ao fim de quatro ou cinco dias de buscas pelas redondezas. Mas não encontrou apenas o corpo do Rufino. À sua volta estavam também os corpos de mais dois homens.
Avisou imediatamente os outros irmãos. Estes, depois de revistarem as roupas dos outros dois e retirarem os documentos que encontraram, enterraram os cadáveres dos desconhecidos, em local distante do sítio em que estavam, e só então chamaram a Guarda Nacional Republicana. Esta, limitou-se a constatar o óbvio : O Rufino estava morto, era preciso enterrá-lo. Tomaram algumas notas e não deram grande importância ao assunto. A questão iria seguir os trâmites normais. Isto, sem surpresa dos Rodriguez Potra. Eles sabiam que não eram pessoas que gozassem da simpatia dos guardas.
Foi assim que morreu, assassinado, o primeiro dos homens da família. Há um ano atrás tinha morrido a mana Rosalía, suicidando-se por enforcamento no sobreiro do terreiro do monte das Courelas.
Pelo que temos contado e decerto já todos entenderam, o Rufino José era muito mulherengo. Homem elegante, sedutor, tinha fama de conquistador junto das mulheres. Com algum à vontade financeiro, tinha tudo a seu favor, e não raramente se envolvia em confusões da saias, que desesperavam o irmão Francisco. Aliás, este já o livrara de algumas situações comprometedoras e lhe pregara alguns bons sermões que, diga-se de passagem, não produziam qualquer efeito. Assim, pensavam os irmãos, a morte de Rufino teria que estar ligada a uma questão de saias ou então estava relacionada com a actividade política que ele desenvolvia quase às claras, praticamente nas barbas das autoridades. Não faltava quem tivesse contas a ajustar com o Rufino : Um marido enganado; um pai ou irmão que quisesse lavar a honra da família; uma mulher abandonada; ou então alguém que levasse a peito as constantes, perigosas, muitas vezes insolentes, e ilegais actividades políticas dele.

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