quarta-feira, 21 de julho de 2010

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA

(Continuação do dia anterior)

VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE

( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

Entretanto iam comendo, porque o jantar daquela noite já estava comprometido, pois assim que chegasse o mano Rufino iriam buscar os refugiados ao local em que estavam escondidos.
Todos os cuidados seriam poucos, porque uma operação daquela envergadura implicava não só o despiste das autoridades, como também daqueles que, voluntariamente, percorriam a raia para dar caça a todos os que se atreviam a buscar auxílio do lado de cá da fronteira. Sobre esse assunto, há muito que vinham falando da necessidade de anularem a eficácia com que um grupo de Vila Viçosa, apanhava os refugiados e os entregava aos franquistas em Badajoz. Esses indivíduos, com o beneplácito das autoridades, nomeadamente do governo civil de Évora e da Guarda Republicana, formavam um grupo de voluntários, fascistas na sua maioria, que de noite e de dia, a cavalo, patrulhavam a fronteira. Auto intitulavam-se " grupo de amigos portugueses da falange espanhola " e eram chefiados por um ganadeiro, chamado António Pombo, homem aparentemente simpático, e que era, praticamente, dono de Vila Viçosa. Muito rico, tinha grandes propriedades por todo o Alentejo, especialmente nos concelhos de Vila Viçosa, Alandroal e Mourão. Acabou por ter uma morte violenta, morte essa, em que estiveram envolvidos todos aqueles de que agora falamos.
A organização de auxilio aos refugiados a que os irmãos Rodriguez Potra pertenciam, como decerto já adivinharam, era clandestina, e vinha operando com algum sucesso, na medida em que já tinham conseguido encaminhar, para lugar seguro, algumas dezenas de pessoas. Eram cerca de vinte os elementos que a compunham, entre eles algumas mulheres, que pelos mais diversos motivos se tinham juntado para ajudar aqueles que chegavam a Portugal, perseguido, doentes, cheios de fome, muitas vezes mais mortos do que vivos. As motivações de todos eram de natureza política, e os Rodriguez Potra não fugiam a essa regra, mas havia também razões de ordem familiar, pois sendo sua mãe, dona Matilda, espanhola, todos eles eram meio espanhóis meio portugueses, e os familiares que ainda tinham em Espanha estavam todos do lado da república, aliás, a primeira vez que se meteram nessas andanças foi para auxiliar um parente que agora vivia no México. Todos os irmãos faziam parte da organização, raparigas incluídas.

(amanhã novo capítulo)

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