O Rufino Casablanca está de volta ao AL TEJO.
Retomamos a narrativa da história da Família de Rufino Casablanca.
Assim e tal como vínhamos fazendo, diariamente, aqui poderá ter acesso a segunda parte desta obra de ficção.
VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA 2ª PARTE
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
Nota da narradora
( ...o texto das próximas páginas é da responsabilidade do Rufino Casablanca, casado com a prima Carmen, filha da Guadalupe Rodriguez Potra e do Santiago Grazina. O Rufino Casablanca é músico e integrou, em Portugal, nos anos sessenta e setenta, uma banda de muito sucesso, " trovattore ",com muitas actuações em Espanha. Prestem atenção à forma como o destino cruza, por duas vezes, em poucos anos, a vida da família Rodriguez Potra com a vida da família Casablanca.
Reparem como o mundo é pequeno.... )
O concerto era na cidade mais populosa da Extremadura espanhola. Tocava, então, numa banda de rapazes bastante mais novos do que eu. Tocava mais para matar o vício e a solidão do que por dinheiro. Por essa altura, a minha vida, no aspecto económico, até nem corria mal. Fazia músicas para telenovelas, compunha para outros cantores e os velhos discos ainda rendiam alguma coisa. De vez em quando vinha uma onda de nostalgia e lá voltavam à ribalta as músicas dos " trovattore " . E ainda, volta e meia, quatro ou cinco craques dos velhos tempos, juntavam-se, e produziam um disco de sucesso garantido, como acontecera muito recentemente com aquele CD duplo em homenagem ao grande rio do sul, e de que eu tinha sido o principal dinamizador.
Pois bem, o concerto correu da melhor maneira, com os músicos bem dispostos e o público a corresponder com entusiasmo, puxando por nós. Todas as pesetas que nos pagaram foram merecidas. No fim, aconteceu o que muitas vezes acontece nestas alturas, cada um dos músicos arranjou uma namorada de ocasião e tratou de passar a noite o melhor possível. Aquilo deu-me uma sensação de " déjà-vu " e preferi dar uma volta pelos bares à beira rio, com vista para aquele magnífico espelho de água que atravessa a cidade. Corria a fama de que a " night ", ali, era divertida e relativamente pouco perigosa. E era, de facto. O bar em que entrei, não tinha muitos clientes, por isso mesmo escolhido. Eu não estava com disposição para grandes barulhos de conversa como ruído de fundo. Do lado de dentro do balcão, estava uma mulher que não sendo muito bonita chamava a atenção. Tinha malares salientes e testa alta. Boca de lábios cheios. Era muito morena. Cabelo castanho com madeixas mais escuras. Os olhos, àquela distância, pareceram-me escuros, cinzentos escuros. Aparentava ter cerca de trinta e cinco anos, e, pese embora a madureza da idade, desde logo, acima da cintura, correspondia àquilo que se pode considerar uma mulher bela. Fui até ao balcão, e sem intenção de longas demoras, pedi vodka com tónica. Era mais para ver de perto se a parte abaixo da cintura conferia com a parte de cima.
Conferia.
Bebi mais uma vodka, e quando me preparava para sair, com os olhos lavados por aquela beleza, que se movimentava por entre as mesas e atrás do balcão, uma voz rouca pediu-me para cantar uma canção e que a próxima bebida seria por conta da casa. Pensava que tinha passado despercebido, que não tinha sido reconhecido, e afinal ali estava ela, a mulher atrás do balcão, com aqueles olhos cinzentos, muito escuros, e aquela voz rouca a pedir-me para cantar ... cantei ... cantei uma, duas, três, quatro canções. A última canção já a cantámos juntos.
(Continua amanhã)
2 comentários:
Obs.
Só por simples curiosidade e apenas para partilhar a volupia musical de ambos,poderias dizer-nos quais foram as quatro canções
que durante aqueles tão belos momentos cantaste,Voz Nat King?
E, será que além de teres cantado,também te fizeste definitivamente pós encantar?
As melhores saudações
António Neves Berbem
PS:não sei bem porquê,mas perante "aqueles olhos cinzentos",posso perguntar se,por acaso,terás cantado "Os Olhos castanhos" do Francisco José de Évora? Merece ser-me esclarecida esta duvida?...
OBs.
Onde se lê 'Nat King' deve ler-se Net King Cole,O Frank... dos negros e afro-hispãnicos americanos que cantava tão docemente que, ainda hoje, puro mais puro e mais autenticamente romãntico não há.Isto,obviamente, para quem sabe distinguir a musica como meio e mensagem cultural universal.À qual, todos os espíritos se devem sem reservas abrir.Até porque a música da dita clássica,à popular, toda ela é espiritualmente contaminavel.
Com as melhores saudações,aqui fica este pedido de rectificaçao a quem de direito.E a quem parece ter
cantado tão bem para "uma mulher simplesmente atrás do balcão".Melancólicos os dois.O que cantou.A que ouviu.
Com os melhores cumprimentos
António Neves Berbem
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