(Continuação da semana anterior)
" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
Enquanto deixamos dormir o Santiago Grazina, com sonhos e pesadelos à mistura, vou tentar explicar o porquê de toda esta situação :
O que pretendo contar é a história dos amores de Guadalupe e Santiago.
Ela, Guadalupe José Rodriguez Potra, da família dos Rodriguez Potra, como facilmente se deduz pelos apelidos. Família essa que pôs a ferro e fogo as duas margens do rio Guadiana, entre Elvas e Mourão nas décadas de trinta e quarenta do nosso século. Filha de mãe espanhola e pai português, nascida no monte das Courelas, Capelins. Irmã dos três maiores arruaceiros que as gentes das terras da Santa Cruz já viram e, mesmo assim, menina prendada, pois tocava piano, falava três línguas e era dona de uma grande cultura literária. Para além do que atrás dissemos era ainda uma mulher muito bonita, uma moura encantada, como costumava dizer o seu irmão Rufino, uma beleza em que sobressaiam os olhos grandes e cinzentos, característicos da família.
Ele, Santiago Grazina, extremeño de nascimento, poeta, exímio tocador de guitarra espanhola, saltimbanco, companheiro de Federico Garcia Lorca no grupo de teatro " la Barraca ". Conseguira escapar à razia que os nacionalistas do general Franco fizeram no pessoal das artes, logo após terem iniciado o golpe que os levaria ao poder. Vivera clandestino no sudoeste da Espanha, sempre saltando de casa em casa, até que, juntamente com outros companheiros, tinha ajustado o salto para Portugal, passando a fronteira na região de Villanueva, sua terra natal, onde seria ajudado por companheiros portugueses.
Pronto, ficaram a conhecer melhor as duas principais personagens deste episódio.
( Apenas mais uma lembrança : Os companheiros que os trariam em segurança para Portugal eram os já nossos conhecidos Francisco Rodriguez Potra de Avelar, João José Rodriguez Potra e Rufino José Rodriguez Potra, irmãos de Guadalupe, como já sabem. Para além, é claro, do inevitável António da Cinza, pois seria através da Isla de la Ceniza, situada a meio do rio Guadiana, e aonde o António explorava uma azenha, que se daria a passagem para Portugal. )
Quando o Santiago Grazina saiu de casa pela primeira vez, depois da fuga para Portugal, fê-lo com muito receio, pois não sabia o que viria encontrar na rua. O seu único contacto, a única pessoa que vira desde que chegara fora Guadalupe, e enquanto permaneceu acamado apenas ela se aproximara dele. Habituado como estava à vida na clandestinidade, sabia que quem quer que lhe estivesse a dar guarida, estava a correr muitos riscos. As autoridades portuguesas estavam do lado das tropas franquistas, todos sabiam isso, e ser apanhado em Portugal a ajudar um republicano espanhol, era um crime que não raramente acabava por ter severas consequências para quem o fazia.
(Prossegue amanhã)
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