terça-feira, 20 de julho de 2010

NOTAS SOLTAS

As aventuras de dois marroquinos no Reino dos All-Garbes – Parte II


" Floresça como uma planta tardia.
Depois do verão, as folhas perdem o viço, mas, subitamente, uma flor desponta. "
Susan Swartz - 2000.

Faro, Rua do Crime, nº 24. É aqui que se situa o Chessenta Bar. É um bar de culto. Quem lá vai sabe antecipadamente o que encontra à chegada. Ali, não se entra por acaso.
Tem música ao vivo.
Naquela noite de Sexta-feira, a animação estava a cargo do Galrito, jovem artista que tem as origens em Terena, e que estava acompanhado, nos tambores, pelo Tói. Não o nosso Tói, o do Alandroal, mas sim um outro Tói, não menos artista, convenhamos.
Quando chegaram os nossos dois marroquinos, já conhecidos na casa, pelas magníficas vozes que possuem, foram de imediato convidados a fazer uma perninha na função. Depois de ajustados os tons com o Galrito, fizeram aquilo que era sua obrigação : Cantaram bem. Os dois que já lá estavam, e os dois que chegaram depois. Correram o repertório dos velhos mestres : Zeca, Fausto, Vitorino, Sérgio ......
Junto ao local do cante estava uma mesa ocupada por quatro ou cinco mulheres que eram clientes habituais. Todas na casa dos quarenta. Muito perto dos cinquenta. Participam numa tertúlia que se encontra, faça calor ou faça frio, todas as Sextas-feiras, no Chessenta.
O que a seguir vamos contar é do conhecimento pessoal do escrevinhador destas linhas, sendo, portanto, informação garantida. Não se acrescentam nem se tiram pontos.
Todas as que se sentavam em volta daquela mesa tinham feito, quando jovens, militância política na juventude dum partido de esquerda. Com o passar dos anos, com os casamentos, com o nascimento dos filhos, com os inevitáveis divórcios, surgiu um período de afastamento. Algumas, estiveram anos sem se encontrar. Quando voltaram a encontrar-se, decidiram que as noites de Sexta-feira, seriam o momento de recordar os tempos de juventude. E, assim, ali estavam elas a fazer coro com os nossos dois marroquinos na " a azeitona já está preta, já se pode armar aos tordos " .
Todas elas eram pêssegos sumarentos. A idade também as engordara um pouco. Apenas um pouco. Algumas eram mesmo, e só, voluptuosamente cheias. Uma delas disse, uma vez, que não se preocupara quando começara a engordar - " porque gostava de ocupar espaço " - . Outra, disse que deixou de ligar à balança, quando visitou o Museu do Prado, em Madrid, e viu o célebre quadro de Goya " La Maja Desnuda " .
Ficaram fãs dos nossos marroquinos. No intervalo das cantorias, sentámo-nos todos à mesma mesa. O espaço era exíguo. O Onid, entalado entre duas belas matronas, de corpo redondo e blusas decotadas, mal se podendo mexer entre aquelas coxas, duma e doutra, que o apertavam, já estava a ficar com falta de ar.
( Mais tarde, quando o escrevinhador procurou a aprovação das intervenientes, para escrever sobre aquela noite, uma delas disse - " De facto o rapaz já estava a sufocar, eu reparei, e até apertei mais um pouco " - ).
Quanto ao outro marroquino, o AMFC, outra vez aqui abreviado, foi monopolizado pela Mafalda, vamos chamar-lhe assim, a fadista do grupo. Trocaram letras de fados e ele ainda lhe trauteou ao ouvido algumas estrofes, enquanto, devido à falta de espaço, lhe passava uma das mãos pelos ombros e lhe assentava a outra nas pernas. Quando ela procurou ajeitar-se, tentando fazer mais campinho, ele, já com os óculos embaciados, disse-lhe - " Não te preocupes, estou assim muito bem e, além disso, gosto de encher a mão " - .Quando o Galrito, o tal de Terena, os chamou para a segunda parte da actuação, foi bonito ver o desgosto com que aqueles dois se levantaram. Estavam a sentir-se bem, ali sentados à braseira.
E o resto é estória.

Sean O'flaherty D. R. K.

4 comentários:

Anónimo disse...

se isto não é uma ficção anda lá muito perto, mas se tem alguma verdade, parece-me que sei quem é um dos artistas. o outro é que não me passa pela cabeça quem seja. e o Galrito de Terena, também é difícil. Em Terena quase todos são Galritos. mesmo assim está bem contado e com simplicidade. gostei bastante

Anónimo disse...

Qual Sheon qual carapuça, todos sabem quem conta estas tretas, pois se o homem escreve como fala. Ainda hoje não me tinha rido, só por isso valeu a pena dar esta volta pelo blog eu que já tinha prometido não me preocupar com as porcarias que às vezes aqui escrevem, hás vezes os comentários até enjoem

francisco tátá disse...

Não é: "enjoem" mas sim enjoam.
E não tem o amigo de se preocupar em ter que lêr todos aqueles que aqui chegam! então não se enjoava,vomitava logo.
Resta-me a consolação que, se referia apenas aos comentários, porque no que diz respeito ao "corpo" do blogue e isso para mim é o principal, parece-me que cumpre a função, pois está "servido" de excelentes colaboradores, e a prova é que lhe agradou a "postagem".
Olhe que isto não é tão fácil como parece...e por vezes custa distinguir o bom do mau.
Obrigado pelo seu comentário
Chico Manuel

Camões disse...

Para bom leitor, bom contador de histórias basta.

O contador, não o ciclista, mas sim Sean O'flaherty D. R. K., quase me deixou surdo uma vez. Imaginem o timbre...

O marroquino Onid canta que nem Leão.

O outro marroquino AMFC de outros vôos, mas com a mesma queda.

O Galrito de Terena com estrada pró

Alandroal.

O Tói, o outro artista.

As moças voluptosas bem acompanhadas.

Cenário perfeito:-

Tudo bons rapazes e raparigas do meio artístico versus boêmia, qual Vinicius de Moraes e seu amigo Toquinho!

Al Fayete