Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Francisco Costa - Para onde queremos ir?
Terça, 06 Julho 2010 11:17
Os Espanhóis da Telefónica quiseram comprar à PT a sua parte numa empresa de comunicações que esta detém em parceria no Brasil, a Brasilcel (que detém 60% da Vivo). E foram oferecendo dinheiro. Inicialmente parece que não o suficiente. Mas lá chegaram a um valor que começou a interessar a uma maioria de accionistas.
Entretanto o Estado português, que também é accionista, resolveu fazer uso de um instrumento que os estatutos da PT prevêem, regras que foram aprovados pelos próprios accionistas da empresa, para impedir a tal venda.
Ora a PT é o que é porque foi o Estado que a fez assim. A mesma PT que investiu na Vivo em 1998 e que convidou a espanhola Telefónica para sua parceira de 50%. Agora a Telefónica quer a Vivo a qualquer custo. A Vivo parece assim ser tão importante para os espanhóis como para Portugal.
O Governo diz-nos que a posição da PT no Brasil é estratégica para o País. Mas não é o único.
A Proxinvest, uma empresa de aconselhamento aos accionistas da PT referiu que a venda da Vivo "amputará" metade das receitas da PT e que "não existe uma opção óbvia, neste momento, para que a PT possa reinvestir num negócio similar no Brasil".
Pode concluir-se que o interesse da maioria dos accionistas, que se deixou convencer com a proposta de 6,5 mil milhões de euros dos espanhóis é de curto prazo, porque a Vivo pode vir a valer muito mais por via do seu desempenho previsível. E de nada lhes interessa o papel fundamental que muitas empresas detêm nas economias nacionais que lhes confere o estatuto de estratégicas. Energia e telecomunicações são dois bons exemplos.
Enquanto ninguém me conseguir convencer do contrário o resultado deste episódio é o de que à custa desta acção soberana prevaleceu o interesse geral em detrimento do interesse particular. É para isso que, quanto a mim, serve o Estado.
Só que Bruxelas não gostou e considerou injustificáveis os direitos especiais que o Estado Português detém na PT porque restringe o principio da livre circulação de capitais.
José Sócrates ripostou que as críticas da Comissão Europeia são preconceituosas com a posição accionista dos Estados e que reflectem ideologicamente uma posição ultraliberal.
Os que se espantam com a posição do Primeiro-Ministro não querem aceitar que Sócrates sempre disse ao que vinha. Disse-o de uma forma absolutamente clara na moção política de orientação nacional apresentada em Belém em 2009, onde definiu o que entende como a actualidade do socialismo democrático.
O seu combate ao tudo pelo mercado, nada contra o mercado, é absolutamente ideológico e a crise de 2008 só veio reforçar o seu entendimento nestas matérias. O dele e o de muitos outros onde me incluo.
A crise financeira americana, a crise económica europeia, a crise de paradigma nos países de capitalismo avançado, a incapacidade de competir com as economias emergentes, a falta de regulação da globalização económica e os problemas dos défices dos países da União Europeia são, como diz Freitas do Amaral, uma sucessão de fenómenos, agora simultâneos, que exigem um entendimento interno e que ultrapassa a mera questão partidária. Mas o problema não deixa de ser ideológico.
Por isso um entendimento com um PSD, que defende a resolução da crise recorrendo a princípios, práticas e políticas que estiveram na base da sua criação é impossível.
Porquê negar a dicotomia esquerda-direita?
Obrigado e até para a semana
Sem comentários:
Enviar um comentário