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Eduardo Luciano - De férias… ou quase
Quinta, 15 Julho 2010 09:45
Esta é a última crónica antes das férias. Gostaria de poder dizer que é já a crónica da distensão própria de quem antevê dias mais tranquilos, vividos com um ritmo mais lento.
Gostaria, mas não posso. Apesar da actividade ser mais reduzida, não conseguimos mandar de férias as nossas preocupações com o que nos rodeia.
Vamos de férias mas levamos connosco a sombra das centenas de milhares de desempregados, a ameaça de mais uma versão do PEC que irá pedir mais sacrifícios aos que menos têm.
Levamos connosco a sombra dos abutres que nos vão sobrevoando e debitando receitas para o combate à crise que passam por impor salários de miséria, acabar com o subsídio de natal ou atirar a idade da reforma para depois do dia da morte.
Levamos connosco a preocupação com a situação financeira do município, com o risco de incumprimento generalizado das suas obrigações para com freguesias, agentes culturais e desportivos e fornecedores de bens e serviços.
Esperemos que a autorização para contracção de um empréstimo no valor de 2.831.000 euros, aprovada por unanimidade na reunião de câmara de ontem, possa ajudar a resolver um problema que sendo do município é muito mais daqueles que com ele se relacionam.
Vamos de férias mas não deixamos em casa a preocupação com a confusão instalada em torno do projecto Acrópole XXI, que ao fim de dois anos parece ter como passo seguinte o voltar ao início... ou mesmo deixar de contemplar a intervenção em espaço público, deixando os parceiros de candidatura a braços com um problema bicudo.
Mas não levamos só preocupações e inquietações. Levamos também a satisfação pelo que se conseguiu com a mobilização, a luta e o empenho das gentes que se recusam a desistir.
Levamos a esperança de que é possível mudar de rumo no país e no concelho, travando todos os dias uma batalha contra os profetas das inevitabilidades, contra os artífices do pensamento único, assente nas falsas soluções, sempre as mesmas, vestidinhas de roupa nova e tiques velhos.
Retemperar forças, dormir um pouco mais, ganhar um pouco mais de tempo para a reflexão, aproveitar para ler e escrever sobre outras coisas que não se partilham.
Ganhar novo alento para os dias que se seguem.
É para tudo isto que servem as férias. Em casa, na praia, numa qualquer aldeia do interior.
Desligar do mundo? Ignorar a realidade? Fazer o exercício da avestruz? Nem pensar. Não seriam férias. Seriam apenas uns dias em que alienávamos a nossa vontade a troco de uma falsa sensação de descanso.
Tenham umas boas férias... mas continuem atentos. O mundo não pára e até há quem aproveite estes momentos de maior lassidão para fazer avançar medidas mais incómodas.
De férias sim. De costas para a vida... nem pensar.
Até um dia destes
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