quinta-feira, 24 de junho de 2010

ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA. ( ou fragmentos da vida de uma família raiana )

(Continuação)

" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "

( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

Alguns dias depois da reunião de família, em que estas decisões foram tomadas, o tio Jean Jacques, marido da tia Rosário, apareceu para falar com o meu pai e o tio Francisco. Ficara preocupado com a vontade do meu pai também querer participar na ida a Zafra. Estava apreensivo com o rumo que a situação poderia tomar e vinha oferecer-se para nos acompanhar. E vinha dizer que não seria necessário o meu pai passar a fronteira a salto, pois ele se encarregaria de arranjar vistos para todos os participantes. Também seria ele quem trataria de providenciar a viatura para que a viagem se efectuasse da forma mais cómoda possível.
Ouro sobre azul, conforme estão vendo.
Eu e a Evita estávamos com um grande entusiasmo em relação a esta viagem. E uma grande impaciência. Nunca mais chegava a hora de nos fazermos à estrada. Por parte dos adultos, embora também se notasse a impaciência e a vontade de abraçarem o tio Lorenzo, era visível um certo receio pelo que pudesse vir a acontecer. Todos tinham presente a especial situação do meu pai, mas ninguém já se atrevia a voltar a abordar este assunto.
Já só aguardávamos que o tio Jean Jacques resolvesse as questões burocráticas e trouxesse os vistos.
Finalmente, passados quinze dias, aí estavam os tão esperados vistos.
Ajustou-se a partida para o princípio do mês de Fevereiro. Depois de avisada a escola para as minhas faltas e da Evita, e depois do tio Jean Jacques tratar da correspondente licença militar, ala que se faz tarde, aqui vamos todos a caminho de Zafra.
A duração dos vistos era de dez dias. Haveria tempo para matar todas as saudades.
Especialmente comovidos pareciam estar os manos Rodriguez Potra. Os homens, meu pai e o tio Francisco, apenas expressavam essa comoção através do silêncio. Não que eles, habitualmente, fossem especialmente faladores, mas agora pareciam ainda mais calados. Quanto à tia Rosário, eu e a Evita, ainda lhe vimos os olhos marejados de lágrimas. Por aquelas cabeças devia andar a lembrança ... a recordação da mãe de todos eles, nascida na terra para onde agora nos dirigíamos.
A presença ao volante, daquela já um pouco gasta carrinha Volkswagen Combi, do tio Jean Jacques, facilitou a passagem da fronteira no posto do Caia. Na verdade, os Guardas Fiscais, mal olharam para os documentos. E ainda tivemos direito a continência militar. Fosse porque estavam avisados, ou fosse por qualquer outro motivo, os guardas fronteiriços espanhóis também não nos dificultaram a vida. Apercebi-me da extrema tensão e nervosismo a que o meu pai esteve sujeito em toda esta operação. Íamos sentados lado a lado, e senti os músculos das suas pernas ficarem tensos. Só descomprimiu passados vinte ou trinta quilómetros.
Depois de Badajoz, apanhámos a estrada de Sevilla. Zafra fica a meio. Bem ... mais ou menos a meio. Assim como nós dizemos aqui no Alentejo : " lá vai Serpa lá vai Moura e as Pias ficam no meio ".
" Carretera " para Sevilla ... aqui vamos nós.
Foi uma viagem sem história. Para além de uma ou outra pergunta, que a minha curiosidade ou a da Evita suscitou, não houve muita conversa durante os primeiros quilómetros.

(Continuação amanhã)

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