Introdução:
O Rufino Casablanca está de volta ao AL TEJO.
E é com muito gosto que publicamos alguns dos escritos que deixou. Como já aqui foi dito por quem o conheceu bem, o Rufino era muito desorganizado na sua vida pessoal e profissional. O seu espólio, musical e literário, se assim se pode chamar ao que compôs e escreveu, foi ficando pelas diversas casas em que viveu.
Depois da sua morte, os herdeiros, decidiram entregar a gestão desse espólio a Eveline Sambrás, a última mulher com quem viveu.
Pois é a Eveline que agora nos envia, com pedido de publicação, a narrativa, intitulada :
" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
Ao contrário de outros escritos do Rufino, já aqui publicados, a narrativa não é feita por ele na primeira pessoa. Desta vez a narradora é uma jovem adolescente, de dezassete anos, e os factos narrados devem ser entendidos sob o ponto de vista de alguém que ainda tem pouca experiência da vida.
A acção desenrola-se em 1965, embora com olhares, muitos olhares, sobre o passado, e algumas perspectivas para o futuro.
A partir d'hoje e diariamente ( para que não se perca o fio à meada ) , iremos aqui colocar esta peça que retrata alguns episódios da vida de personagens já nossas conhecidas de outros escritos anteriores, nomeadamente de " Peças Soltas no Interior da Circunferência " e " A Geração Seguinte " .
Xico Manel
P.S. ---- Para a Eveline Sambrás : Como sabe, este espaço estará sempre à disposição para este tipo de textos.
Cumprimentos.
" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "
( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).
1965
Tinham chegado notícias de Espanha.
De Zafra, mais exactamente.
Notícias do tio Lorenzo.
Quem escrevia era a tia Maruja, mulher do tio Lorenzo.
Era uma carta longa e sofrida.
Dizia que a saúde do marido piorava a olhos vistos.
Entrara numa fase de delírios e desassossego que obrigava a que todos os membros da família se revezassem junto à sua cama durante as vinte e quatro horas do dia.
Nos últimos tempos vinha falando com muita frequência e obsessão dos sobrinhos portugueses. Falava como se todos ainda fossem vivos.
A doença e a idade tinham feito um grande estrago na sua memória.
Falava de Rufino e Rosalía, de Francisco e João José, de Guadalupe e Rosário, ignorando completamente a mulher, os filhos e os netos, quando estes lhe diziam que o Rufino e a Rosalía já tinham morrido, e que ele próprio, Lorenzo Rodriguez Potra, tinha assistido aos funerais.
Parecia não os ouvir.
Tentava levantar-se da cama e pedia, desabridamente, que lhe trouxessem a roupa, pois ia partir imediatamente para Portugal afim de se juntar aos sobrinhos, que estariam a passar por muitas dificuldades e problemas.
Era uma questão de vida ou de morte, dizia.
Quando por fim entendia que não estava em condições de sair da cama, pedia a Maruja que escrevesse aos sobrinhos para que fossem estes ter com ele.
Depois adormecia, cansado. No entanto, logo que acordava, perguntava imediatamente se os sobrinhos já tinham respondido à carta.
Delírios. Era assim que Maruja e os filhos entendiam as atitudes de Lorenzo.
Convém lembrar que isto se passa em 1965.
A carta de que estou falando, vinha dirigida a João José Rodriguez Potra, mas destinava-se a toda a família.
Deixem-me interromper aqui esta narrativa para que possa fazer algumas apresentações e tornar mais fácil o entendimento daquilo que pretendo contar.
Ainda antes das apresentações deixem-me explicar os motivos porque esta família se encontrava dividida por dois países. Os dois países Ibéricos:
(Continua amanhã)
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