Luís Filipe Maçarico
(in: Um Antropólogo no Associativismo)
Desde os meados do século XIX (período temporal do seu nascimento entre nós) que o movimento associativo tem constituído um alicerce primordial na promoção da Pessoa Humana (mercê das preocupações estatutárias no desenvolvimento físico do individuo, na educação das emoções, na disseminação da Cultura, na sociabilização dos seres humanos – independentemente da idade, sexo, etnia, classe social ou estatuto profissional, na divulgação do conhecimento, para além de constituírem autenticas escolas de vivência e práticas democráticas - em função do acto livre do voto, da liberdade de expressão nos debates em Assembleia, na vigilância, em independência, do Conselho Fiscais em altura de eleições); ou na proposta consciente e livre de listas para corpos sociais em altura de eleições); isto, inclusivamente (numa atitude de resistência democrática), durante o Estado Novo: fosse no associativismo estudantil, no associativismo desportivo, ou no das colectividades de recreio, no associativismo cultural ou no associativismo humanitário ou sindical – mostrando pujança associativa, consciência do valor da unidade entre os homens, apreço pela Democracia enquanto produto da Razão, da Ética e da Estética sociais, ou o culto pelos valores culturais porquanto vector inspirador da Democracia. Sabemos que o movimento associativo, em todos os tempos em que tem vivido, deve muito ao investimento de certos dirigentes, mentores , animadores ou sócios – que, sacrificando vidas pessoais, mergulharam a sua dedicação na consecução de seus sonhos e ideais em prol do associativismo. Afinal, a este propósito, escreveria Francisco D´Orey, no Diário de Notícias, o seguinte: “ Não há direito, que certas pessoas tenham determinadas chaves e não as ponham ao serviço dos outros. A Cultura e tudo aquilo que vale a pena fazer para melhor viver”- palavras que vêm de encontro à nossa mágoa pela raridade de tais dedicações nos tempos actuais (impregnado de feroz individualismo).
Alcides A. Monteiro (in”Associativismo e novos laços sociais), questiona: Será que, numa organização social em que coexistem a crescente afirmação de um individualismo reflexivo e a crise dos laços sociais fundadores da coesão social, se podem consolidar formas de mobilização colectivas regidas por valores como os da solidariedade, da reciprocidade e do diálogo público, em suma, pela afirmação de uma cidadania societal e relacional’? Até que ponto, perante a crise das associações mais tradicionais, a diminuição da filiação sindical, ou a descrença da opinião pública nos partidos, novas formas associativas, motivadas por outros valores e símbolos poderão incentivar ou dar voz à mobilização da sociedade civil?”
Felizmente, o espírito associativista não feneceu (ou não será o Homem um animal social?); antes demandou, em parte, em busca de novas formas: cresceram, o número de associações etnográficas, o número de universidades seniores, o número e associações ecológicas, o número de associações humanitárias, o número de movimentos partidários independentes – a par de associações que, numa actividade dinâmica, subsistem fiéis aos parâmetros do associativismo autêntico.
E o associativismo continua a revelar-nos a sua responsabilidade pela sociabilização (enquanto as associações são famílias alargadas),pelo saudável culto do desporto, pelo enriquecimento afectivo da Pessoa(através do fomento da entreajuda e da solidariedade), pela dinamização da comunicação e disseminação do Conhecimento, pelo apelo ao aperfeiçoamento do gosto estético, pelo estímulo a um bairrismo sadio, pelo fomento pedagógico visando uma coesão social assente numa identidade local, pela abertura ao colectivo regional, nacional e universal, pelo estímulo à valorização da Natureza e dos princípios ecológicos, no reconhecimento da paridade da Mulher nos direitos e deveres, no respeito pelos direitos da Criança(enquanto valor a respeitar e promover, porquanto é o cidadão de amanhã), pela defesa do convívio e motor da quebra do isolamento e da solidão, bem como da rotina e da apatia, pelo fomento do gosto pela Arte (música, pintura, teatro, dança) e pela Leitura, pela integração social dos Imigrantes e dos Migrantes Urbanos (suavizando a sua nostalgia), pelo apelo à consciência e prática democráticas na vida da Associação, enquanto o verdadeiro associativismo cumpre-se, mercê do espírito interventivo de cada sócio (que se não esgota nos actos eleitorais, mas que se exerce igualmente no interesse pela vida comunitária da Associação, pelo cumprimento estatuário desta, e pelo contributo no sucesso institucional da sua Colectividade): sejam as associações de índole cultural, humanitária, recreativa, social, política, desportiva ou sindical. Como nos diz Luís Filipe Maçarico, “para que os dias que nos cabem possam ser mais suportáveis e humanos”.
José Alexandre Laboreiro
(Publicado na Folha de Montemor , Outubro 2009, e transcrito com autorização do Autor)
1 comentário:
Grato ao autor do blogue e ao Dr. Alexandre Laboreiro. Com os meus melhores cumprimentos
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