sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FIGURAS QUE NÃO TENDO SIDO CONSIDERADAS”ILUSTRES”, FICARAM NA MEMÓRIA DOS ALANDROALENSES.

Nota previa:
Ao elaborar estes textos nunca foi intenção do autor denegrir ou vilipendiar a imagem das personagens. Antes pelo contrário apenas pretendeu prestar-lhes justa homenagem, como figuras de relevo no quotidiano da vida do Alandroal, onde granjearam nome pelos feitos cometidos e que hão-de perdurar na mente de todos aqueles que com os mesmos conviveram.
Aliás, orgulha-se o autor dos textos de com os mesmos ter compartilhado momentos de sã camaradagem, convívio e com os mesmos ter protagonizado certas “aventuras”.
Agora que muitos já nos deixaram é uma maneira sentida de lhes prestar homenagem e deixar para a história, peripécias das quais os mesmos se orgulhavam de, na roda de amigos, darem a conhecer. Estejam onde estiverem, tenho a certeza que não deixarão de sorrir e ficar gratos por serem relembrados.
Quem assim não o entender…paciência. Estarei sempre disposto a humildemente pedir desculpas.

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na História
da História da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir.

Chico Manuel


O ARNALDO


(imagem descaradamente roubada do blogue:http://riscos-pinceladas.blogspot.com/)

Existem em todas as terras e vão sendo sempre recordados pela maneira peculiar com que enfrentaram o dia a dia, pelo espírito brincalhão, pelos dizeres, pelas histórias de que eram protagonistas. Enfim são pessoas que marcaram a sua época por este ou aquele motivo. Como o meu espírito curioso gostava de ouvir contar as peripécias do Torcatinho, do Zé Pedala, do Carena, do Pimenta, do Zé de S. Pedro, do Açorda e tantos outros que viveram no Alandroal, e que por este ou aquele motivo constituíram um ponto de referencia para as gerações vindouras. Infelizmente os seus “feitos” apenas passaram de boca em boca e com o passar dos tempos vão sendo esquecidos.
Pela escrita do Luís Balsante, já aqui neste espaço foi recordado o Sousa e o Zé Pedala, também o Tói em tempos no Boa Nova recordou o Zé Cata, mas há tantos mais!

O Arnaldo, desde muito novo se propôs enfrentar a vida de caras. Assim enquanto grande parte dos seus numerosos irmãos estudavam, para se preparem para uma vida melhor, preferiu enveredar por coisas mais práticas e a par do auxílio que ia prestando no comercio do pai, mesmo não possuindo automóvel tirou a carta de condução, o que lhe permitiu ser frequentemente chamado, pelos lavradores abastados, esses sim com automóvel, mas sem carta, para os acompanhar como “chauffer” em longas viagens, o que lhe permitiu desde logo conhecer novas gentes, novos hábitos, e criar uma experiência de vida que lhe valia abordar qualquer assunto. A par disso era frequentemente convidado para acompanhar o seu amigo Senhor Leonel Pita, o farmacêutico local, à vizinha Espanha onde o mesmo se deslocava com grande frequência para assistir às corridas de touros em Badajoz. Pode haver aficionados, mas como o Pita duvido, não falhava a uma. Talvez por isso criou tal amizade a Badajoz, que nos últimos tempos em que esteve entre nós as suas visitas aquela Cidade era quase diárias.
Foi para a Capital, ainda jovem onde além de outros afazeres foi condutor de táxi, o que lhe fez criar “calo” para enfrentar o dia a dia de uma maneira diferente daquele que os pacatos Alandroalenses estavam habituados, e que frequentemente levou a que o epíteto de “maluco” lhe fosse atribuído, o que causava mais mossa naqueles que assim o apelidavam do que no próprio.
Quando regressou, após o falecimento do pai e com o intuito de auxiliar a irmã no comércio, passou a ser o “conhecedor mor” das vidas do Alandroal. Era um dos últimos a deitarem-se e dos primeiros a levantarem-se, e com a sua perspicácia e olho sempre aberto nada lhe escapava. Umas vezes por conhecimento próprio, outras por “palpite” o certo é que quando “havia mouro na costa” e alguém se sentia “apertado” o “desenrascanço” era sempre: o Arnaldo é que me disse...
Parece-me que o estou a ver: Jornais debaixo do braço, fumegante charuto na boca, entrando no café, cumprimentando com um habitual "HANKS", que só ele sabia o que queria dizer, e depois de uma sonora gargalhada: Já sabem a última?
Quantas vezes apressadamente, se viam sair porta fora clientes que temiam que a “careca lhes fosse descoberta”!
Morreu subitamente numa noite, sem incomodar ninguém...
Descansa em Paz Arnaldo... foste “figura” no Alandroal...

Xico Manel

6 comentários:

Anónimo disse...

pois e que grande homem foi o arnaldo e grande figura do alandroal.
tenho saudades daquelas noites no jardim ate as tantas da manha.


antonio troco

Anónimo disse...

Parece que o estou a ouvir, com aquela voz rouca, nas longas noites no jardim: “o hamburguer é com cebola ou sem cebola?” ou então “só vou aí se forem 5 ou 6 cervejas, por uma não vou!”

Martin

Anónimo disse...

E eu igualmente parece que estou a ouvir dizer:-

Ó Dona Cabéia, o hamburguer está a sair!

Obs- Referia-se à minha companheira Conceição por ainda não saber o nome dela.

CABÉ

jpbr disse...

Que me desculpem os meus amigos mas, para além dos amigos de peito, para além dos conhecidos, outros amigos da vida, sem desprimor a vida nos deu, que a miude nos entrecusamos e recordamos.

O Arnaldo, com o traquejo vivido sem ingenuidade, o saber e ponderação suficientes, a seu modo de estar e agir deixou na sua vivencia o condão de saber adaptar-se á contenção, conforme as circustâncias do momento.

Homem fino, ponderado e sabedor quando necessário, como o fazia na capital com mestria em determinado momento, como chauffer privativo e etiqueta preferido , onde o aeroporto de Lisboa e seus a arredores, eram a base dos nossos encontros frequentes.

Resta a lembrança de um amigo, dos amigos.

Anónimo disse...

Sr. Francisco, apesar de algumas criticas que lhe fazem, não deixe de trazer aqui para o blogue este tipo de recordações,porque elas fazem parte das nossa vida, e como tal são inportantes.

Aqui no quadro falta um assesorio que para o Arnaldo era muito inportante,refiro-me á cigarrilha ao canto da boca (não sei se agora para o fim se ainda fumava)

Ainda parece que o estou a ver ha espera da carreira das 3 para receber os jornais. e eu atraz dele para comprar a BOLA, que nessse tempo sa saia 3 vezes por semana.

Um abraço de um amigo das Hortinhas que ai "estudou" ha uns anos.

Anónimo disse...

Tive um caso com a justiça a propósito de umas plantas de canábis. Arnaldo virou-se para mim e disse: Pior era se tivesses matado alguém ou tirado o que não é teu. Sinceramente aquelas palavras reconfortaram a minha alma!
Obrigado amigo Arnaldo.

Kabé