quinta-feira, 2 de julho de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM



Feira de S. João, igual às outras?

02-jul-2009
Terminou mais uma Feira de S. João e é hora de olhar para o que foi e para o que poderá ser aquele evento no futuro. Parece-me que a feira se torna, em cada ano que passa, numa realização igual a tantas outras que vão existindo em todas as cidades e vilas do nosso país, sem nada que a distinga a não ser as gentes que insistem em fazer daqueles dias, momentos de encontro e de partilha. Esta ideia da construção de Feiras como produto chave na mão, planeadas, montadas e geridas por especialistas, a quem se compra um produto final em pacote que inclui a programação e animação, torna-as todas iguais e retira-lhes a capacidade de atracção de visitantes de fora do concelho. Que vem um forasteiro ver à Feira de S. João, que não tenha na feira da sua própria terra? Rareiam já os momentos e os espaços distintivos, os acontecimentos que só são possíveis usufruir em Évora e durante a Feira de S. João. Não deixa de ser curioso que quanto mais se diz que se quer afirmar o carácter popular da Feira, menos espaço existe para manifestações populares espontâneas ou organizadas, obedecendo tudo a uma lógica de padronização dirigida. Percebo que seja mais fácil comprar programações musicais em bloco, que seja mais fácil concessionar uma área inteira a um só patrocinador, que seja mais fácil ir repetindo modelos ano após ano. Não é apenas em Évora que tal acontece e arrisco-me a dizer que nesta questão estamos alinhados com o que a maioritariamente se faz noutros concelhos. Mas será que não podemos tentar ser mais audaciosos? Que não podemos envolver os agentes locais na concepção da Feira que, seja qual for o modelo, defeito ou virtude não abdicamos de chamar nossa? Também nesta matéria o segredo parece ser simples. Envolver e responsabilizar aqueles que durante todo o ano trabalham para os seus concidadãos, sem outro interesse que não seja proporcionar melhor vida colectiva, desafiando-os a apresentarem ideias e formas de as concretizar. Dialogar. Partilhar o pequeno poder de organizar a grande Feira anual do nosso concelho. Alguns já estarão a pensar que estou a propor qualquer coisa autogestionária. Nada disso. Compete à Câmara a organização da Feira e assim deve continuar a ser. Mas aposto que seria sempre uma feira melhor se fossem dados à comunidade activa instrumentos que lhes permitissem a sugestão e a crítica construtiva. Deixando a questão do espaço onde se realiza para outra altura, parece-me um verdadeiro desperdício, enquanto a Feira se realizar no Rossio, a não utilização do Jardim Público e do Palácio D. Manuel durante os dias da sua realização. Estava a pensar no sucesso que teria sido o fantástico concerto do Kepa Junquera se tivesse sido realizado, por exemplo, num palco montado no Jardim Público. E a propósito de participação e envolvimento de cidadãos na vida do concelho, está a recolher assinaturas uma petição sobre a isenção de IMI no Centro Histórico de Évora. Os proponentes defendem que a Lei deve ser aplicada, criando uma discriminação positiva sobre um território que se pretende que tenha uma outra capacidade de atracção de novos moradores. É sabido que o actual Presidente de Câmara tem opinião diversa e que parece tudo ter feito no sentido de obter, da parte das finanças, uma interpretação restritiva e, na minha opinião, nada de acordo com o espírito da Lei. Seria mais uma boa oportunidade para se debater publicamente um assunto que parece estar a mobilizar os que entendem o CH como um território que não pode morrer. Seria… se o senhor Presidente da Câmara não tivesse já atribuído como motivação para a petição o ódio contra a sua pessoa. Assim não há vida democrática que resista. Até para a semana

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