quarta-feira, 17 de junho de 2009

POETAS DO CONCELHO DO ALANDROAL

ANASTÁCIO FRANCISCO PIRES

Natural do Monte do Cabril
Data de nascimento: 26 de Agosto de 1924
Fez poesia desde os 10 anos.


MOTE

Se me dizem mal de ti
Quando tu não estás presente
Sei o que dizem de mim
Se sou eu que estou ausente.

Há quem tem esse feitio
Dizer mal à boca cheia
Se essa gente me rodeia
Eu depressa me desvio.
Achei bastante sombrio
O que a teu respeito ouvi
Ao pensar que vão daqui
Dizer mal de mim além,
Nunca posso ficar bem
“Se me dizem mal de ti”.

Existem com abundância
Línguas compridas de mais
Dizendo coisas fatais
Da velhice e da infância.
Nunca ligues importância
À pessoa maldizente
Que talvez na tua frente
Te esteja elogiando,
Como te está criticando
“Quando tu não estás presente”.

Nunca prestei atenção
A quem de ti me diz mal
Quando eu estou noutro local
Faço ideia o que dirão.
Estará na ocasião
Seres tu bom e eu ruim
Por ouvir falar assim
Quando é na tua ausência,
Tenho tirado experiência
“Sei o que dizem de mim”.

Eu creio que qualquer pensa
Como eu tenho pensado
Que é sempre condenado
O que não está na presença.
Coisas que servem de ofensa
Dizem de ti bruscamente
De mim será evidente
Que não vão dizer melhor,
Dirão o mesmo ou pior
“Se sou eu que estou ausente”.

MOTE

No mundo não somos nada
A vida é uma ilusão,
Apenas seremos terra
Lodo, pó, cinza e chão.

Sabemos perfeitamente
Que a morte é o fim da vida
E o início da partida
Para outro mundo diferente.
Até mesmo de repente
Muita vida é liquidada
A vida não é comprada
Não se pode prolongar,
E quando a morte chegar
“No mundo não somos nada”.

Por isso a humanidade
Era para nos estimarmos,
Não era para nos tratarmos
Com rancor e falsidade.
Não usarmos da vaidade
Da inveja e ambição
E nem da ingratidão
Ou amizade fingida,
Porque são erros da vida
“A vida é uma ilusão”.

Se nós pensássemos bem
Não havia distinções
E até nem ruins acções
Nem ofensas para ninguém.
Três dias que a vida tem
Não se passavam em guerra
Tudo peca, tudo erra
Nisso somos quase iguais,
E no campo dos mortais
“Apenas seremos terra”.

Por vezes até esquecemos
Que nascemos para morrer,
Em momentos de prazer
Ou dias felizes que temos.
Até que um dia sofremos
Da negra morte a traição
Entre as tábuas de um caixão
Somos na terra envolvidos,
Ali seremos reduzidos
“A lodo, pó, cinza e chão”.

MOTE

Eu tenho um frango encarnado
Já mo quiseram roubar
É bonito e engraçado
É danado p´ra galar.

Não é desses de aviário
De que às vezes tanto falo
Esses não cantam de galo
Com estes passa-se o contrário.
È nisso extraordinário
Bicho tão envenenado
Parece até que o malvado
Anda sempre com vontade,
Pois a falar a verdade
“Eu tenho um frango encarnado”.

Alguns estão o dia inteiro
A comer ou a dormir
O meu anda só a ver
Se o deixam ir ao poleiro.
Certas damas com dinheiro
Já mo quiseram comprar
Dão dois contos a brincar
E acho que até dão os três,
O pior é que uma vez
“Já mo quiseram roubar”.

Acorda de madrugada
P´ra cantar é um artista
È careca e não tem crista
È de cabeça pelada.
É de uma raça apurada
Merece ser bem tratado
Mas está mal acostumado
Não quer farelos nem milho,
Mas de gordo até tem brilho
“É bonito e engraçado”.

Só tem ideias daninhas
São evidentes as provas
Gosta mais das frangas novas
Mas não rejeita as galinhas.
Pedrezes ou pintadinhas
É as que pode apanhar
Não tem vergonha de andar
Sempre com má intenção,
Que estejam chocas ou não
“É danado p´ra galar”.

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