http://www.dianafm.com/
Equidade nos apoios
14-mai-2009
O apoio aos agentes culturais e desportivos, através da atribuição de subsídios, regulares ou pontuais, é uma das atribuições que as autarquias chamaram a si como forma de ajudar a manter actividades e eventos que, de outra forma, dificilmente sobreviveriam.
É graças à actividade dessas associações que a oferta cultural se diversifica, dando a conhecer formas de expressão que fogem ao gosto estereotipado e massificado que nos é imposto no dia a dia. Pela importância de que se reveste o contributo das autarquias para a vida desses agentes, a atribuição das comparticipações financeiras deve ter como base critérios claramente definidos, transparentes, blindados tanto quanto possível ao arbítrio dos humores e sentido de oportunidade do decisor político. A atribuição de subsídios sem ter em conta critérios de equidade na relação com os vários agentes, terá sempre como resultado a instalação de um clima pouco saudável de desconfiança entre todos os que desenham o panorama cultural do concelho. Na reunião pública de Câmara de ontem foi ratificada uma decisão do presidente, de atribuir a uma associação do concelho um subsídio de 108 mil euros para a realização de um festival de música com a duração de 3 dias. Não coloco em causa o valor do subsídio em termos absolutos, a importância do evento, ou o manifesto interesse cultural do trabalho dessa associação. Mas não posso deixar de comparar este valor com as verbas atribuídas a festivais como o FIKE, o Festival Escrita na Paisagem, o FESTAE, as Jornadas Internacionais de Música da Sé de Évora ou a Bienal de Marionetas que, todos juntos, ficam aquém da verba atribuída ao festival de música em causa. Não podem as diversas associações e colectividades do concelho, que esperam o pagamento de subsídios e apoios referentes ao ano transacto, deixar de se questionar sobre as razões que levam a Câmara Municipal a dispor de tão avultada verba para que um dos seus pares produza um evento de três dias. O argumento usado de que tal verba sairá do orçamento da Feira de S. João, não altera em nada a evidência de que se trata um apoio que não tem em conta o necessário rigor e sentido de justiça na aplicação dos dinheiros que são de todos. De facto, a única razão que vislumbro para esta atitude é o facto de estarmos em ano de eleições e a Feira, necessariamente, reflectir essa realidade e ser entendida pelo partido que gere os destinos do município como o primeiro grande momento da campanha eleitoral para as autárquicas. Parece-me lógico que cada um determine a estratégia eleitoral que mais lhe convém, mas já não me parece nem lógico, nem eticamente aceitável que o faça utilizando os recursos de todos, enquanto vai dizendo a alguns que é a sua escassez que impede o cumprimento de compromissos assumidos. Repito, para que não restem dúvidas, que nada disto tem a ver com a actividade de inegável interesse cultural da associação produtora do festival em questão. E já agora, também vos adianto que apesar da frieza do ambiente do local onde se vai realizar o evento, não tenciono perder o espectáculo do basco Kepa Junkera.
Até para a semana.
Eduardo Luciano
Sem comentários:
Enviar um comentário