Senhor Francisco Manuel,
Tenho acompanhado com atenção os ensaios literários, se assim podemos chamar-lhe, da autoria de Rufino Casablanca, que têm vindo a ser publicados no blogue de que é, suponho, o principal responsável.
Reparei que esses ensaios abarcam um espaço de tempo muito longo, isto é, começam em 1989 e terminam em 2001. Como estamos em 2009, já passaram oito anos sobre a data do último ensaio, sendo precisamente esses os anos que eu procuro reconstruir e entender da vida do Rufino.
Permita agora que me apresente. Chamo-me Eva Rodriquez Potra de Avelar Casablanca. Exactamente, sou a Evita do "retrato" terceiro ( publicado em 20/04/2009 ). Fui casada com o Rufino, e depois do divórcio, mantive o apelido. Resido no Monte do Meio, naquela mancha de eucaliptos que se situa entre as Hortinhas e a Malhada Alta, como o Rufino muito bem disse no meu " retrato " Essa foi uma das poucas verdades que disse. Outra das poucas verdades, foi a grave doença porque passámos. Digo passámos, porque ele esteve sempre comigo nos momentos maus. Acho, até, que foi graças a ele que eu consegui ultrapassar aqueles tempos. Quanto ao resto, embora exista um fundo de realidade, muito ténue, é tudo fruto da imaginação dele.
Mais à frente, se para isso houver ocasião, voltaremos a este assunto. Agora, quero comunicar-lhe, para o caso de ainda não ser do seu conhecimento, que o Rufino faleceu há cerca de um ano, em Angola, mais exactamente em Lubango, antiga cidade de Sá da Bandeira, em casa da Chibia, aquela extraordinária, libérrima e magnífica mulher que vos foi apresentada no "retrato" segundo ( publicado em 13/04/2009 ). Acompanhada dos nossos filhos e netos, visitei a campa do Rufino, em Janeiro deste ano. Estamos agora a tratar com o consulado, para que os restos mortais do meu ex-marido, possam ser trasladados para o jazigo da família no cemitério de Terena.
Ninguém conseguiu localizar o Rufino nos últimos sete anos, e, de repente, aparecem escritos e assinados por ele, no seu blogue, estes ensaios, embora com datas anteriores ao seu desaparecimento. Se o senhor puder dar-me alguma ajuda neste mistério, fico agradecida. Queria ainda pedir que esta carta fosse publicada, afim de esclarecer algumas situações, não vão as pessoas pensar, que o que leram, escrito pelo Rufino, é a relato da verdade. Desde logo, e eu quero deixar isto bem claro, nunca enganei o meu marido. Sobre o nosso relacionamento na cama, nada tenho a dizer, porque me parece que são coisas demasiado íntimas para serem tratadas desta maneira. E se me dá licença, vou dar alguns exemplos da forma como o Rufino tratava a realidade: "A mulher sem nome", do "retrato" primeiro, ( publicado em 03/04/2009 ) não é do Alandroal. Nem sequer é portuguesa. É espanhola e tem nome. Chama-se Carmen, vive em Zafra e é hoje uma das minhas melhores amigas. O Rufino apresentou-nos na esperança de "un ménage à trois".
Diz ele que a procurou naquela cidade do litoral e não a encontrou. É mentira. Encontrou-a sempre. Até viveu com ela durante uns tempos. Tiveram uma filha, lindíssima, que se chama Rosário, em memória de uma irmã do meu pai, uma mulher por quem o Rufino tinha uma grande afeição. Nesse "retrato", com excepção das passagens que se referem à banda, é tudo ficção. No que diz respeito à Chibia, é mais fiel ao que se passou, mas mesmo assim, exagera na forma como a pinta. E não diz que teve uma filha com ela, que se chama Guadalupe, tal como outra tia minha e que agora vive com a mãe no Lubango. Da Eveline, quarto e último "retrato",( publicado em 27/04/2009 ) que para além de professora também é escritora, um dia destes receberá, o senhor Francisco Manuel, uma espécie de diário que ela manteve enquanto viveu com ele e que o deixará a pensar " quem era, afinal, o Rufino Casablanca ? " Ah!.., e o filho da Eveline, que agora é musico, é também filho dele, coisa que não diz no "retrato". Chama-se Juan António, tal como o avô do Rufino, aquele homem magnífico, a quem eu também chamava avô, e que era refugiado da guerra civil espanhola.
Desde já o informo que mandei gravações a todas dos ensaios publicados. Ninguém pensa pedir-lhe responsabilidades mas não se admire se começar a receber pedidos de correcção aos "retratos" nos próximos tempos. Continua de pé o pedido para nos ajudar a descobrir o que se passou com o Rufino nos últimos sete anos. De momento é o que mais nos interessa. Saber o que andou fazendo aquele louco,
durante tanto tempo, onde e com quem. É que ele só apareceu em casa da Chibia dois meses antes de morrer e já estava desaparecido há sete anos.
Dê espaço no seu blogue a estas quatro mulheres e terá um "retrato" completo do Rufino Casablanca, um dos seres mais complexos que me foi dado conhecer.
Cumprimentos
Eva Rodriguez Potra de Avelar Casablanca
Terena, 1º de Maio de 2009
Nota do Editor: Em primeiro lugar uma palavra de profundo pesar pelo desaparecimento do Rufino Casablanca e um abraço de condolências para si.
Um agradecimento pela amabilidade que teve em nos elucidar sobre certos pontos da vida agitada do Rufino, que nunca cheguei a conhecer.
Na verdade, nem mesmo eu sei como estes textos me chegaram às mãos. Fazendo um esforço de memória creio que os mesmos me foram enviados em carta, na esperança de os dar a conhecer quando colaborava num Jornal Regional.
Há tempos rebuscando papéis velhos dei com os mesmos e como faziam referência a situações e personagens do Alandroal, tive a ousadia de os dar a conhecer.
Agradeço mais uma vez os seus esclarecimentos, disponibilizando este espaço para futuras intervenções quer suas, quer das Senhoras referenciadas pelo Rufino.
Respeitosos cumprimentos
Chico Manuel
4 comentários:
Observação
Por este andar, é caso para perguntar quantos heterónimos da saga Rufino existem?
Quantos ainda estão desaparecidos?Quantos vão reaparecer? Quantos ressuscitaram e andaram a rir e estão a rir-se? E já agora,vamos lá saber, se as mulheres eram,passaram ou vieram em nuvens de Atenas?
E ainda:de quem e quantos são ao todo,os filhos e filhas conhecidos e desconhecidos? E, se algum se chama ou chamou, ou está para ser chamado "de Gabi" vindos ao nosso mundo do par de Vilas Terena-Alandroal?
Um seu humilde leitor
António Neves Berbém
Esse senhor, o rufino,de onde era natural?
Sabe-se o nome de algum filho no concelho do Alandroal?
Em resposta:
Infelizmente,ainda não se sabe nem uma coisa nem outra.
Estes mistérios, estas duas coisas perguntadas,às vezes, até parecem ser toda uma Grande Obra que não terá acontecido, por mero acaso,a um homem com sentimentos,o Rufino C., com o jeito e a marca excedente de um policial excelente.
Mas, parece também que ainda pode vir a saber-se muita coisa, se e quando vier a haver um verdadeiro encontro para esclarecimento (e conversa) sobre os antecedentes, claramente, a montante, e todos os outros acontecimentos,a jusante, acontecidos.
Aqui expostos e para já,totalmente, ao dispor dos leitores.Muito embora não nos seja dita, a Idade das pessoas,estou a lembrar-me.
Entretanto,valha a verdade,tudo muito bem relatado.E bem recheado de tão honesta quanto bem embalada probidade.
Por isso,só não vê quem não,O quiser perceber e compreender.
Estou ao dispor do mistério,porque um dia, tudo terá de ficar esclarecido.
ANB
Este Senhor Rufino era danado para ter várias esposas ...e filhos ...Quem é o Senhor Rufino?
Que Deus o tenha.
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