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Eduardo Luciano - Évora, cidade de cultura, irá levar mais uma machadada?
30-abr-2009
“A cidade de Évora ganha por estes dias uma cor diferente. Enche-se de gente descontraída que transforma as ruas em palcos, as praças em espaços vivos, com o seu ar provocador e espírito de liberdade plena. As crianças de todas as idades sorriem, ou riem às gargalhadas, perante as venturas e desventuras de heróis e vilões feitos de madeira, de pano, de papel, manipulados por gente com ar feliz, vinda dos quatro cantos deste mundo. Por estes dias, a cidade respira um cosmopolitismo cultural que faz com que apeteça por cá andar, com os filhos pela mão, mostrando como a diversidade de olhares sobre a realidade é determinante para um crescimento saudável e sem medo da diferença. Por estes dias entra na cidade uma lufada de ar fresco, trazida por discursos que rompem com esta sensação de claustrofobia, que o olhar sobre o nosso próprio umbigo inevitavelmente comporta. Por estes dias, os nossos filhos olham menos para os “Game Boy” e mais para a vida que de um simples boneco pode transpirar.”
Acabei citar um excerto de uma crónica dita por mim no dia sete de Junho de dois mil e sete a propósito da última bienal de marionetas realizada na nossa cidade.
Quando as palmas se calaram perante o último espectáculo, ouvi um pré-adolescente perguntar à mãe porque não só havia marionetas de dois em dois anos. A mãe sorriu e disse-lhe, com todo o sentido de humor, que se fosse todos os anos não era bienal e se não fosse bienal deixava de se chamar BIME e metade da graça se iria.
E se este ano não houver Bienal de Marionetas, porque o Estado não cumpriu a sua parte, porque a CCDR entende que a iniciativa não é elegível por nenhum programa de financiamento do QREN, ou simplesmente porque o poder é tão cinzento que já não suporta o colorido dos bonecos que vivem nas ruas?
Parece que esse risco existe, apesar da Câmara Municipal ter assumido que se substituiria ao Ministério da Cultura na fatia com que este deixou de comparticipar.
Se tal acontecer é mais uma machadada na imagem de Évora como cidade da cultura. Aqueles que nesta altura nos visitavam para ver os "bonecos", que por cá ficavam animando a cidade e dinamizando a economia local, irão para outras paragens.
Um evento que desde 1987 tem marcado o calendário cultural do país, parece pois estar em risco, deixando o concelho e a região mais pobres e o Centro Histórico de Évora, palco da vida das marionetas que nos encantam, mais deserto e silencioso.
Uma estratégia de afirmação de Évora como cidade de cultura, deveria garantir que iniciativas como a Bienal de Marionetas, não pudessem ser colocadas em risco, pelos caprichos deste ou daquele ministério, deste ou daquele governante, desta ou daquela estrutura burocrática regional.
Claro que para aqueles que preferem uma cidade em silêncio, a quem o colorido dos bonecos e dos seus manipuladores fazem arrepiar, para aqueles que acham que a cultura é apenas o que a bilheteira pode suportar... para esses será um alívio.
Não consigo imaginar 2009 sem Bienal de Marionetas, por isso acredito que a pressão dos cidadãos e a solidariedade com o CENDREV, que já se estende além fronteiras, obrigará os poderes cinzentos e sem humor a encontrarem uma solução, para que possa sugerir, como fiz em 2007, "que passeie pelas ruas, que se espante com a capacidade que os bonecos têm de nos fazer rir e pensar."
"É que a Bienal dura apenas uns dias e as marionetas, títeres e fantoches que ficam por cá já não nos conseguem divertir tanto."
Até para a semana
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