terça-feira, 28 de abril de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Francisco Costa - Um dia como deviam ser todos

28-abr-2009
O 25 de Abril parece ter perdido o sentido para muitos. Alguns dizem que as comemorações se tornaram vazias, com os discursos habituais, paradas militares, fanfarras, descerrar de placas comemorativas, filmes alusivos e festejos variados, que parecem ir reescrevendo mal a história do que se pretende comemorar. Assim é em muitos sítios. Sem que nos detenhamos na mudança social e política ocorrida em Abril de 1974, sem que comparemos o que fomos e o que somos, e, enfim, sem que saibamos ou compreendamos que valores trouxe a nossa revolução e, assim, os concretizemos, o assunto acabará por se resumir a uma data, cada vez mais distante, onde a poeira da história acabará por poisar.
Por isso a expressão cumprir Abril é tão acertada. O momento histórico foi muito importante, mas o ideal de liberdade que ele patrocinou, foi, é, e, assim o queiramos, continuará a ser muito mais importante. E que nos trouxe Abril. Primeiro trouxe-nos a paz. A morte que sofremos e a que espalhámos em África diz-nos que este foi uma das mais valiosas conquistas que conseguimos enquanto povo. Trouxe-nos a educação, essa arma valiosa contra pobreza e a ignorância. Esquecemos com facilidade que cerca de 60% da população portuguesa era, antes do 25 de Abril, analfabeta. Trouxe o progresso dos empregos mais qualificados e mais bem pagos, o que fez aumentar a qualidade de vida de milhões de portugueses. Trouxe o acesso democratizado e de qualidade aos serviços de saúde e um dos melhores Serviços Nacionais de Saúde do mundo. Trouxe o direito a morar numa casa em condições dignas. Não é por acaso que a cerimónia das comemorações do 25 de Abril em Évora tem sido feita com as pessoas que mais precisam e que nesse dia, desde há 5 anos a esta parte, recebem a sua habitação, entregue pela Câmara Municipal. Trouxe o direito de nos reunirmos, de partilharmos, de nos expressarmos, mesmo até o direito para se ser pouco construtivo ou inútil. Independentemente das dificuldades com que nos confrontamos há uma certeza absoluta, a de que nenhum dos problemas que temos hoje seria resolvido fora de um quadro democrático. Ainda bem que o temos. Podemos ter visões diferentes da democracia mas nenhuma é mais legítima que outra. A democracia e o 25 de Abril não tem proprietários. Respeitar Abril é muito mais que lembrar o momento histórico de há 35 anos. É continuar empenhado na luta pelo progresso e, com a consciência que esse caminho não é linear nem livre de obstáculos, acreditar que não estamos condenados ao fado do atavismo.
Obrigado e até para a semana

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