sexta-feira, 17 de abril de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Martim Borges de Freitas - O Regresso dos Clones

17-abr-2009
Numa qualquer campanha eleitoral – não importa mesmo qual - surgem, sempre, sabe-se lá vindas de onde, as réplicas fisicamente idênticas dos Presidentes dos partidos. Casos há em que são tão parecidos, os originais e as réplicas, que dificilmente os conseguimos distinguir. Quem são, afinal, estas criaturas? Estas criaturas são os líderes partidários, não em pose de Estado, não no exercício de quaisquer funções públicas, mas em plena campanha eleitoral. São, portanto, não eles, mas os seus clones. Um líder-clone é aquele que, por se encontrar em campanha eleitoral, diz o que lhe apetece, diz o que lhe vai na alma, diz, talvez até, aquilo em que acredita – fui benevolente. Ou – e agora deixo de o ser – é aquele que diz o que as pessoas gostam de ouvir consoante até o local onde proferem a prelecção. Logo, um líder-clone é aquele que diz coisas. O outro líder, o líder-modelo, é aquele que faz coisas. O problema é que este líder-modelo é também aquele, o clone, que, regra geral, faz o contrário do que este último havia dito, dias, semanas, meses ou anos antes, lá está, durante uma qualquer campanha eleitoral.
Não raras vezes, ao longo de uma campanha eleitoral, assistimos às mais descaradas falácias ditas pelos líderes partidários. É claro que o líder-modelo jamais as diria; no entanto, o líder-clone não tem nunca pejo em fazê-lo! Para o líder-clone, as convicções são absolutamente irrelevantes. Mas o que diz o líder-clone também já só é novidade para os mais incautos ou para os mais desatentos, pois que, conhecendo-se o líder-modelo, uma declaração do seu clone já não surpreende tanto. Às vezes, não surpreende mesmo nada. Esta é, aliás, a única virtude que se pode encontrar nas declarações proferidas pelos líderes-clone: a virtude de os aproximar dos respectivos líderes-modelo. A inversa já não é, todavia, verdadeira, pela simples razão de que deixa de ser uma virtude. O que cada vez mais confunde, baralha, ataranta quem segue o percurso – o que diz, o que promete e o que faz – de não importa qual dos líderes numa qualquer campanha eleitoral, é não sabermos nunca bem quem é que está a falar, se o líder-clone, se o líder-modelo. Mas uma coisa é certa: para o líder-clone o que é realmente determinante é a vitória, por pequenina que seja. A vitória. A sua, a do seu grupo e a do seu partido. Por esta ordem. Isso é que é verdadeiramente importante. A cinquenta dias da primeira batalha da grande ronda eleitoral de 2009, é, pois, tempo de chamar a atenção para a gélida frieza com que os líderes encaram as suas batalhas eleitorais. Para que não nos esqueçamos disso. Para que não nos esqueçamos de que os clones humanos ainda não existem e que, por conseguinte, o líder-modelo e o líder-clone são uma e a mesma pessoa. Atenção, pois, muita atenção.

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