quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

http://www.dianafm.com/

Eduardo Luciano - Dois livros

26-fev-2009
Em Braga aconteceu aquilo que pareceria impensável. Quase 35 anos depois do fim da ditadura, a Polícia de Segurança Pública entrou numa feira do livro para apreender uma obra literária, porque alguém se sentiu chocado com a imagem impressa na capa. Tal como no tempo da ditadura, quem exerceu a censura e apreendeu a obra, revelou uma enorme ignorância sobre o que estava a censurar. A imagem reproduzida na capa é uma pintura da autoria do pintor oitocentista Gustave Courbet e está patente ao público no museu D`Orsay em Paris, não constando que o acesso à sua visualização esteja condicionado por qualquer critério, etário ou outro.
O à vontade com que uma força policial se permite apreender cinco exemplares de um livro, atropelando as garantias constitucionais, no que à liberdade diz respeito, é sintomático dos tempos que vivemos e um aviso sério para todos os que pensam que a liberdade é um bem adquirido para todo sempre. Dias antes uma magistrada do Ministério Público tinha determinado a retirada de um autocolante com imagens de um computador Magalhães, em exposição num carro de Carnaval, tendo posteriormente recuado na decisão e autorizado a sua recolocação. O fundamento era o mesmo: as imagens teriam um cariz pornográfico. Se não pararmos esta caminhada, qualquer dia teremos magistrados e polícias especializados em analisar o que pode ou não pode ser exibido publicamente. Por falar em livros, o Governo Civil de Évora decidiu mandar imprimir e distribuir aquilo que chamou de anuário do distrito. É uma obra que glorifica a actividade do governo e dos autarcas do PS, profusamente ilustrada com fotos (muitas) da senhora governadora civil, do primeiro-ministro, dos presidentes de câmara do PS e apenas destes. O livro, como uma qualidade de impressão notável, foi distribuído pelas empresas do distrito, numa utilização dos dinheiros públicos para fins de promoção política em ano de eleições, que revela uma desfaçatez ainda maior do que a habitual, por ter sido feito num momento de grandes dificuldades financeiras, com as pequenas empresas em risco de encerramento e os trabalhadores a caminho do desemprego. Mandaria o pudor que, em tempos como os que vivemos, o Governo Civil não ofendesse os cidadãos com mais este gesto de insensibilidade social. Utilizar os dinheiros públicos para fazer campanha eleitoral a coberto da necessidade de informar e fazer balanços, tem sido prática comum em todos os níveis de poder mas, como me disse uma empresária que foi presenteada com a luxuosa edição, em tempo de crise a coisa é tão chocante que roça a pornografia. Mandaria o bom senso que não tivesse sido dado à estampa, mas apesar do seu cariz ofensivo e de poder fazer corar de vergonha os seus mentores, não irei solicitar à PSP que o apreenda por ofensa à moral pública aos bons costumes. Por duas razões: porque prezo a liberdade e porque a sua existência é um testemunho óbvio de como a isenção a que os poderes públicos estão obrigados pode não passar de mera palavra oca.
Até para a semana

5 comentários:

Anónimo disse...

Foi exactamente esse tipo de democracia que o Sr.Socrates ontem condenou!!??não entendo!!! deve ter-se equivocado...
Um abraço,
HOMERO

Anónimo disse...

Creio que aquilo que J.Socrates está a fazer é apenas o arremedo de uma "Fuga para a Frente"na certeza de que já não tem condições para alcançar a maioria absoluta.

E como não sabe governar sem a maioria absoluta,percebe-se que está politicamente desorientado.

Se a isto acrescentarmos a oposição de Cavaco Silva e o abanão de Manuel Alegre mais a completa descrença das massas populares,perceber-se-á que já não há retórica nem encenações de poder que possam iludir a derrota anunciada por Ele mesmo da sua própria Fuga...se bem que em tons mais ou menos teatais.

Aliás,este como
todos os Congressos serve,diria,apenas para isso mesmo.

Ou seja,para cantar vitórias quando as derrotas se aproximam.

A política tem efectivamente destas faces.Embora não deixe de ter também uma face muito realista e concreta.Precisamene a que J.Socates deixou de controlar.


António Neves Berbém

Anónimo disse...

Oh Berbém.
Continuas a não perceber nada de política.
Vai ser mais uma das muitas desilusões que tens tido nos ultimos anos.
Também tens o "azar" de ninguém compreender a tua "douta sabedoria" e regeitarem a tua prestação em qualquer instância.
Este país está repleto de mal amados e incompreendidos, não é?

O problema das pessoas como tu é que sobrevalorizam as suas próprias capacidades e não percebem que construir um texto bonito, alinhavar um conjunto de idéias, mais ou menos rebuscadas, fruto de muitas leituras, têm êxito garantido num meio menos informado mas, são estéreis e sem utilidade para qualquer pessoa mais conhecedora dos problemas e das teorias que reproduzes.
Uma enciclopédia é um repositório de idéias dos outros, não acrescenta nada de novo a uma sociedade.
É o que acontece contigo, sabes umas coisas mas não tens capacidade de construir idéias novas.
E pessoas assim, nada acrescentam ao país.

Anónimo disse...

Observação


O meu comentário limita-se a dar uma pequena nota do que entendo ser o percurso e o destino político de J. Socrates.

Este último, limita-se a enganar-se no alvo.E como não podia deixar de ser, anonimamente, diz uma serie de parvoíces...que não têm nada a ver com a leitura proposta.


ANB

Anónimo disse...

Observação


O meu comentário limita-se a dar uma pequena nota do que entendo ser o percurso e o destino político de J. Socrates.

Este último, limita-se a enganar-se no alvo.E como não podia deixar de ser, anonimamente, diz uma serie de parvoíces...que não têm nada a ver com a leitura proposta.


ANB