sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Martim Borges de Freitas - Autárquicas em Lisboa: Quem muito se agacha...

20-fev-2009
Quando se prejudica a governabilidade estável de uma Câmara Municipal - neste caso, a maior do país -, por causa de “uns jogos de poder”, ainda por cima intra-partidários e absolutamente aparelhísticos, o resultado não pode ser bom. Em Novembro de 2006 foi isso que aconteceu com o rompimento de um acordo pós-eleitoral entre o PSD e o CDS, em Lisboa. Era vereadora, eleita pelo CDS, Maria José Nogueira Pinto, Senhora em quem muitos lisboetas depositaram as suas maiores esperanças. Volvidos alguns meses e outras tantas peripécias, lá foram os lisboetas a votos numas eleições intercalares que, veja-se bem, já todos desejavam. Corria o ano de 2007.
Nessa campanha eleitoral, o CDS teve o privilégio de nela participar sem a pressão do voto útil. Há quanto tempo isso não acontecia! Também nessa campanha, o Presidente do CDS decidiu colocar a sua liderança em jogo. Sem consequências, como se viu. Todavia e paradoxalmente, numa altura em que o CDS poderia ter ousado, até porque a lista apresentada integrava, como alguém disse, o melhor do “portismo”, o CDS preferiu uma estratégia defensiva para eleger apenas um vereador. O que pesou para esta tão timorata estratégia foi, evidentemente, o receio dos prejuízos da saída de Maria José Nogueira Pinto do partido, o receio da forma como Paulo Portas conduziu o seu ataque interno e o regresso à liderança do CDS e o mau resultado obtido nas eleições antecipadas da Madeira, o pior de sempre. Fora este “pequenino problema”, o CDS tinha todas as razões para jogar forte, com ambição e vontade, até porque, em 30 anos de poder local democrático e no tocante às grandes questões municipais, da sua acção na Câmara de Lisboa o CDS só tem motivos de que se orgulhar. Por causa daquele “pequenino problema”, o CDS perdeu a representatividade no Executivo. Vem toda esta história a propósito da recente decisão tomada pelos órgãos locais de Lisboa do CDS de apoiarem a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal. Em minha opinião, pela forma como o CDS o fez, tratou-se de uma rendição. Por força do péssimo resultado obtido nas intercalares de 2007, o que se esperaria em Lisboa era que o CDS escolhesse empenhar-se, lutar, combater. Mostrar firmeza em vez de fraqueza. O que se esperaria era que o CDS, antes de decidir fosse o que fosse, trilhasse o seu próprio caminho, respondesse pela afirmação, não pela coligação. Mas, não. O CDS preferiu a comodidade da boleia, ao esforço e ao brio que caracterizam os lutadores. A meu ver, capitulou. E o que ainda é mais problemático, apesar daquela decisão não constituir surpresa, é que já não é só na lógica puramente aparelhística que poderemos encontrar a explicação para a opção. A razão por que o CDS o fez, embora assente em causas diferentes, é a mesma que o levou, em 2007, à tal estratégia defensiva. A razão – pelo menos é o que parece – é o medo do resultado. Como, em política, o que parece, é, quando o que parece é mesmo, então, tudo é mais simples de entender. É claro que o problema é o medo do resultado. E é o medo do resultado de 2009 precisamente por causa do péssimo resultado de 2007. Mas era precisamente por causa do péssimo resultado de 2007 que o CDS deveria ter efectuado um compasso de espera para, ao menos, mostrar que dispunha de capacidade para ir sozinho. E de ir sozinho para crescer. Só depois é que deveria ponderar a opção. Infelizmente - e para já -, esse terrível medo e a infecunda lógica alimentária do aparelho partidário sobrepuseram-se e impuseram-se ao interesse geral do partido. Em 2009, o CDS volta, portanto, a agachar-se. E quem muito se agacha...
Martim Borges de Freitas

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