quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM



Eduardo Luciano - Convergir na prática

19-fev-2009
A necessidade de uma ruptura democrática com o rumo político do país, é algo que insistentemente tem a vindo a ser defendido pelo PCP seja em intervenções de rua, seja no âmbito da sua acção institucional. Perante o agravar da situação económica e social do país esta necessidade parece redobrar de sentido, num momento em que o primeiro-ministro anuncia, enquanto secretário-geral do PS, a continuação do rumo que imprimiu à governação. De facto foi o tal rumo, de que o primeiro-ministro tanto de orgulha, que colocou os portugueses na situação difícil em que se encontram. Apostar na sua continuidade é apostar no aumento da dose de veneno como solução para evitar o envenenamento.
A ruptura democrática com as políticas que vêm sendo seguidas pelos governos do bloco central, nas suas diversas composições, é um imperativo de sobrevivência da própria democracia. Parece óbvio e evidente que a existência de tal mudança pressupõe uma alternativa política de esquerda, forte e credível, que quebre este fatalismo da alternância sem alternativa. Mas para isso será necessária a convergência de todas as forças interessadas na mudança, sejam elas de cariz político partidário, social, personalidades que individualmente se assumam disponíveis para a construção de um novo paradigma para as políticas governativas. Essa convergência não se consegue com declarações bombásticas e profissões de fé sobre a “grande esquerda”, que afinal exclui a sua força mais consequente e com maior implantação social. Consegue-se na prática da luta diária, no parlamento, nas ruas e nos locais de trabalho, em defesa da dignidade do trabalho e de políticas diferentes para obter resultados diferentes. Em Évora o Secretário-Geral do PCP anunciou que iria pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade das normas do Código de Trabalho que entraram recentemente em vigor. Tal pedido necessita de ser subscrito por 23 deputados. O partido proponente garantiu a assinatura dos seus 12 deputados, dos deputados do PEV e dos deputados do BE, num total de 22. Jerónimo de Sousa pôde, no entanto, anunciar que o pedido de fiscalização iria ter como signatários bem mais do que os indispensáveis 23, para que possa seguir para o Tribunal Constitucional. Um exemplo de como se constrói a convergência em torno de opções concretas, com objectivos definidos, centrados no essencial que aproxima. Para alguns, a unidade da esquerda pressupõe complexas negociações, coligações pré ou pós eleitorais, plataformas programáticas discutidas sílaba a sílaba, distribuição de lugares e protagonismos que respondam a objectivos políticos hegemónicas ou necessidades deste ou daquele ego mais lustroso. Para outros, nos quais me incluo, a convergência de esquerda constrói-se em torno de objectivos políticos concretos na luta do dia a dia. A mudança não é algo que esteja tão longe como nos apregoam. Como se pode ler nos cartazes que se encontram nas nossas ruas: sim é possível.
Até para a semana

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