sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Martim Borges de Freitas - 2009: O ano do Bloco

13-fev-2009
Talvez os ouvintes da Rádio Diana se sintam como se sentiram alguns amigos meus, quando com eles comentei genericamente a Convenção do Bloco de Esquerda que ocorreu no fim-de-semana passado: surpreendidos. Mas, a verdade é que ao ter acompanhado um pouco do que foi essa espécie de Congresso do Bloco de Esquerda – e que eu diria que foi, até hoje, a mais ocidentalizada reunião de um órgão político interno do Bloco de Esquerda -, pude confirmar algumas das razões pelas quais este partido é um caso de sucesso eleitoral. Devo desde já esclarecer que não cobiço para o meu partido, o CDS, que ele se transforme numa espécie de Bloco de Direita. Julgo que não seria possível operar semelhante transformação no CDS mas, se o fosse, então deixaria de ser o meu partido. Não defendo, portanto, qualquer espécie de mimetismo simétrico para o CDS relativamente ao Bloco de Esquerda. Nem relativamente a nenhum outro partido. Para mim, o CDS é o CDS, ponto final.
Esclarecida esta questão, vejamos então onde é que na Convenção do Bloco de Esquerda se viu o porquê da imagem de sucesso de que beneficia hoje o Bloco, dando de barato o óbvio e que é a circunstância de ter e poder ter uma atitude de contrapoder até por nunca ter tido ou sido poder. Reafirmou e defendeu a Convenção do Bloco de Esquerda o conjunto de princípios e valores deste partido? Sim. Como foi dito por Francisco Louçã, o Bloco deve perder tempo com o que os distingue. Reafirmou e defendeu a Convenção do Bloco de Esquerda que este jamais fará, após as próximas eleições legislativas, um acordo político com o PS? Sim. Como foi dito por Francisco Louçã, discutir políticas de alianças nos órgãos próprios do partido e, nomeadamente, no Congresso, é essencial. O importante não era - e não foi - reafirmar e defender, dez anos depois do seu nascimento, a independência e autonomia do Bloco de Esquerda perante o PS e o PCP. Não foi isso que foi importante! Como é evidente, isso ficou definitivamente resolvido pelos seus fundadores no acto da fundação do partido. O que o Bloco de Esquerda mostrou querer ser (e usou magistralmente a Convenção para dar mais um passo nesse sentido) é “o eixo, o motor, a alavanca” da Esquerda ao apelar, desde o início da Convenção, à convergência da esquerda. Juntar forças, foi o lema. É por isso que, ao contrário do que aconteceu no fim-de-semana em que decorreu o Congresso do CDS, neste fim-de-semana que passou não foi Sócrates, nem ninguém à sua direita, quem sorriu. Poderia continuar aqui a desfiar outras questões, todas elas, substância à parte, bem tratadas na Convenção do Bloco de Esquerda. Ocorrendo no âmbito de vigência dos órgãos nacionais eleitos nesta Convenção, e acontecendo outros actos eleitorais antes, dou como exemplo as próximas eleições presidenciais, cuja posição me parece ser da maior importância para todos os partidos justamente para que o eleitorado perceba exactamente de que lado estão, sobretudo, aquando das próximas eleições legislativas. Comparando com o que aconteceu durante e na sequência do Congresso do CDS, ilustres e informados comentadores, também de esquerda, mas não apenas de esquerda, elogiaram a atitude de Paulo Portas por ter passado pelo 23º Congresso do CDS sem ter esclarecido nada do que precisamente o Bloco de Esquerda decidiu deixar límpido como cristal na sua Convenção. Paulo Portas chamou-lhes minudências e nem sequer as quis abordar; Francisco Louçã chamou-lhes opções e esclareceu-as totalmente. As comentadoras e os comentadores, as mesmas e os mesmos, acharam que ambos foram muito inteligentes, apesar de um ter feito exactamente o contrário do que fez o outro. Concluo, pois, que deve, portanto, ser um problema meu, este de eu achar que em circunstância alguma pode ser considerada uma atitude inteligente, esta de, em política, deixar deliberadamente as pessoas na ignorância.
Martim Borges de Freitas

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