terça-feira, 21 de outubro de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

António Revez - A cadeia da crise

21-out-2008
Vivemos em crise. Parece que vivemos em crise total, em crises que se atropelam, dinamizam e suscitam outras crises que embrulham outras crises, originando um estado de crise generalizada e permanente. Se olharmos à nossa volta, descobrimos que tudo está em crise, menos a crise, que se estende em todas as direcções com grande eficácia e esplendor, como um líquido a fazer nódoa no guardanapo.
A crise gera instabilidade, insegurança, receio, imprevisibilidade, incerteza e essa compilação de sentimentos favorece o desânimo, o abandono, a ruptura, o conformismo, a acomodação, o baixar os braços. Raramente a crise, sendo tão profunda e instalada, mobiliza o optimismo e a confiança que agora dizem ser fundamentais para que ela, a crise, seja superada. E que optimismo encontramos nós no que quer que seja se tudo, ou quase tudo, está em crise? É o clima que está em crise, o degelo dos pólos, o envenenamento do ar, dos oceanos e dos rios, a desertificação, a proliferação de furacões e tempestades furiosas, o aumento da temperatura global. É a relação do homem com a natureza que continua em crise agravada, as espécies a extinguirem-se aceleradamente, a poluição a crescer, as florestas a diminuírem, o abuso dos químicos a destruir solos e ecossistemas, a provocar o surgimento de pragas, vírus, bactérias e novas doenças. É a relação política dos homens com os homens que continua em crise, com o recrudescimento da intolerância, do fanatismo, do racismo e xenofobia, da violência. E a relação social e económica dos homens com os homens que permanece em crise, com o crescimento das desigualdades, da miséria e da pobreza, da precariedade. É a relação emocional e afectiva dos homens com os homens que também se encontra em crise, com a instalação da discórdia, da incompreensão, da impaciência, da fuga e da desistência. Neste contexto de crise, com a instabilidade a marcar-nos os dias como se nos ferrassem o coiro a sangue frio, pode ser que da carne espicaçada e ferida, se erga o sopro de esperança e força que inverte a corrente e a devolve em sentido apaziguador, para que na maré calma e renascida, remem os braços dos amanhãs que cantem sons de um sol que seja efectivamente para todos. Pois a luta, não há meio de não continuar.
António Revez

Francisco Costa - Nem fundamentalismo de Estado nem de Mercado

21-out-2008
Se há ganho de que o actual Governo se pode gabar é o do significativo equilíbrio das contas públicas nos últimos três anos. O esforço dos portugueses acabou por credibilizar o País e, um ano antes do previsto, deu-se por encerrado o procedimento de défice excessivo colocado a Portugal em 2005.
O défice previsto em 2008, de 2,2% do Produto Interno Bruto, representa assim o valor mais baixo dos últimos 30 anos, sobretudo resultado da contenção da despesa pública. O Orçamento de Estado para 2009 não podia desbaratar este capital (como pediam objectivamente os Partidos à esquerda do PS). Contudo era preciso dar resposta ao impacto terrível que esta crise está a ter na maioria das empresas e nas famílias portuguesas com menores rendimentos. Em relação às pequenas e médias empresas o Orçamento de Estado propõe uma baixa substancial do IRC, cortando para metade o valor da taxa que é actualmente de 25%, para os primeiros 12 500 euros de matéria colectável. Esta medida abrange cerca de 80% do total da empresas nacionais. Mas esta não é a única medida de salvaguarda para as PME’s. A somar aos 750 milhões de euros que já haviam sido recentemente disponibilizados como linha de crédito às empresas e que foram totalmente utilizados, é lançada uma nova linha de crédito de mil milhões de euros e cuja taxa de juro praticada é inferior à Euribor, a taxa de juro de referência da Europa. Quanto às famílias e em resposta às angústias que estas sentem são respostas positivas as dos aumentos do abono de família, a criação do abono pré-natal, a maior abrangência da acção social escolar, o aumento de deduções fiscais para as famílias com filhos, a majoração do IRS das deduções com os encargos com a habitação própria, a redução da taxa máxima do IMI e o alargamento do prazo de isenção deste imposto de quatro para oito anos. Um outro sinal importante é dado com a salvaguarda dos interesses das famílias com empréstimos para a habitação e que têm cada vez mais dificuldades em fazer face às suas obrigações. Para este efeito são criados mecanismos que permitem a quem não consegue pagar os seus empréstimos entregar a sua casa a um fundo imobiliário ou a uma sociedade de investimento, substituindo a prestação da casa por uma renda inferior e mantendo a opção de compra sobre o imóvel que arrendem, até que consigam melhorar as suas vidas. Estas medidas não alteram a linha de contenção na despesa pública prevendo-se um défice de 2,2% do PIB para 2009. Sem um agravamento do défice e com a responsabilidade social de apoiar as famílias e as empresas, fica demonstrado quão importante foi o equílibrio das contas públicas e a solidez financeira, particularmente num momento em que os mercados financeiros concedem menos crédito. Parece evidente que se ainda tivessemos um défice excessivo a situação que é dramática a nível internacional seria muito mais severa para a nossa economia e para as nossas condições de vida. Agora importa é ultrapassar estas dificuldades. Sem fundamentalismos de Estado nem fundamentalismos de mercado, com alguém disse. Obrigado e até para a semana.
Francisco Costa

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