


A PROPÓSITO PERMITAM-ME TRAZER PARA PRIMEIRA PÁGINA DOIS OMENTÁRIOS DIGNOS DE REGISTO QUANDO DA ÚLTIMA COLOCAÇÃO DESTA RUBRICA:
COMENTÁRIOS EM DESTAQUE
A última fotografia do tema Desafio ilustrava o ofício de Abegão.
Vê-se nitidamente um formão, em cima de uma pequena mesa, um maço e uma marreta nas mãos dos fotografados.
As rodas estão inacabadas. Falta-lhes os aros, circunferências em ferro que as abarca, as aperta e as termina.
Para essa feitura concorriam dois ofícios, o de Abegão e o de Ferreiro.
O abegão também chamado carpinteiro de obra grossa, encarregava-se dos trabalhos em madeira, de modo a construir carros de varais, puxados por uma só besta (singelo) e carros de parelha. Outros utensílios agrícolas eram construídos por esses Mestres, tais como, trilhos puxados por uma ou mais bestas, quase sempre a correr, formados por três ou quatro rolos de madeira, terminados em facas, que cortavam a palha e separavam o cereal da espiga. Encimava-os um banco onde o carreiro se sentava.
E ainda outros como a forquilha, o ancinho e a famosa "pá de Jar", que permitia aventar e separar o cereal da palha, com o auxilio do vento, aqui chamado "maré".
Se alguns destes utensílios se podem classificar de toscos, conforme o nome carpinteiros de obra grossa parece indicar, outros tais como os chorriões, as charretes e os trens, pela sua beleza e arte, o não são. Os trens, vocacionados para a velocidade e puxados por cavalos, já com quatro rodas, duas fixas e as outras acopladas a um dispositivo móvel, permitiam ao cocheiro direccionar os animais para o lado desejado. Apresentavam dois patamares, o dos passageiros á retaguarda e mais elevado, o do cocheiro á frente.
Recordo-me, não do nome do Mestre mas de existir uma oficina, no Alandroal, onde hoje é a casa do Zé Tadarra, este também merecedor deste pequeno registo, por ser o transportador do correio, de bicicleta a pedais, desde o Alandroal até Cabeça de Carneiro.
Em Terena o Mestre Abegão chamava-se Zé Canhoto.
Dos Ferreiros, o António e Manuel Luís, do Alandroal, de Terena o Mestre José Dias.
Na área dos utensílios agrícolas estes ofícios completavam-se.
Os Ferreiros, além dos aros, encarregava-se de fazer toda a ferragem inerente ao funcionamento daqueles utensílios.
Pretendo, se o conseguir, realçar o sistema de travões.
Compunham-se de uma manete apensa a uma meia-lua, que por sua vez fazia girar uma rosca, ligada a dois tirantes, que accionavam um jogo terminado em duas almofadas de ferro. Quando accionado apertava ou desapertava as rodas, permitindo aos animais uma melhor segurança nas descidas.
Nos trens o sistema era mais aperfeiçoado. A manete era substituída por uma alavanca munida de uma serrilha, que permitia um accionamento mais rápido.
Vamos acabar as rodas.
Os aros eram aquecidos até ao rubro. Para esse aquecimento, fazia-se lume em círculo, previamente preparado em redor da roda de ferro, do aro. Utilizava-se bóstias (excrementos) do gado vacum. Logo que o ferro se apresentava capaz, três ou quatro homens munidos de grandes tenazes, colocavam o aro na roda de madeira.
O ferreiro ajeitava o aro com pequenas bancadas de martelo, enquanto o abegão munido de um regador com água, apagava os pequenos focos de incêndio.
Dado por terminado o trabalho do acento do aro, o carpinteiro encharcava todo o perímetro da roda. A contracção do ferro dava um aperto na madeira, ficando a roda capaz de ser utilizada.
São as memórias, da minha memória, ligações ao Alentejo, ao meu Concelho, á minha terra.
São as raízes que me fazem ecoar convosco, em hino de maravilhosas recordações.
São estas as raízes que me fazem resistir e gritar estou aqui.
Obrigado.
Helder Salgado.
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Amigo Helder, sou talvez mais novo, mas recordo-me bem da oficina de abegão no Alandroal que era do Mestre Joaquim Luís e do filho o José Fontes e ao lado onde o José Tadarra tem a garagem e o mestre José Luís e o Baldomero que trabalhavam o ferro. Não podemos esquecer também estes.
Um Abraço
João Pua
6 comentários:
Não sei porquê mas quando olhei para o galo do fotógrafo (1ªfoto) lembrei-me da receita da "cabidela".Será que alguém tem uma receita da dita, que seja de se lhe tirar o chapéu? MSubtil
Carpinteiros no Alandroal havia ainda o Zé de S. Pedro e o Agostinho
Ninguem se lembra do Martinho dos sorvetes?
Ninguem se lembra do Martinho dos sorvetes?
A memória é um manancial esgotável de recordações.
Bastou um amigo falar do Mestre Zé de S. Pedro para me lembrar do taberneiro Pimenta, do aguadeiro
Zé Telinta, dos peixeiros Amilcar e Peças, sempre com picardias.
O que pretendo evidenciar agora é
o Mestre Zé de S. Pedro. Contava-me a minha avó que o Mestre se metia bem na pinga. Um noite ao entrar em casa dizia que estavam lá dois homens e apontava para a própria sombra. Numa outra noite
a mulher ou não o ouvia bater ou queria castigá-lo, demorando muito a abrir a porta o Mestre fez-lhe este verso " Oh Maria abre-me a porta/que estou com os pés na geada/senão me abrires a porta/ não és Maria não és nada.
Helder Salgado
Ao MSubtil, uma graça.
O Manel ao ver o galo
ficou com a gula afiada
se levasse um grande estalo
dava uma bela almoçarada.
E para quando o almoço do Colégio?
Helder
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