CARIMBOS EM DESTAQUE - (Crónica do Dr António Berbém)

Relevâncias e Extravagâncias da Festa de Setembro de 2008



I.
Em meia dúzia de notas, vamos dizer que as Festas de Setembro deste ano tiveram, como é evidente, as duas coisas. O «modelo» em que assentam embora possa não parecer, é bastante caro e começa a estar demasiado visto, batido e gasto. Basta perguntar e saber quantos milhares de euros ganharam rapidamente “os Anjos”…ou quanto custou à Câmara, uma vez mais, o visível fiasco da corrida de touros. Que tal fazer com que a Festa comece, de facto, a ter uma engenhosa, diferente, criativa e certamente menos cara Animação de Rua?...

II.
À vista desarmada, o referido modelo é, além disso, excessivamente prolongado e dispendioso. Aparentemente e de uma forma extravagante, junta ou pretende juntar duas festas numa única, pretextando assim facilmente engodar e animar os mais jovens.
Só que o Festival da Juventude, mais não é do que uma encenação com um acentuado cariz e aproveitamento partidário que nada devia ter a ver com a nossa tradicional Festa de Setembro. Para que conste, trata-se, portanto, de uma clara manipulação do PS local que culturalmente pouco aproveita, a ninguém.
O que seria, entretanto, verdadeiramente correcto e corajoso, era saber o custo total das tais duas Festas deste ano.
Afinal, será que a Câmara pode continuar a esbanjar indefinidamente tanto dinheiro, pagando, por exemplo, a vários colaboradores avenças de mais de 300 contos mensais?...

III.
A relevância pela positiva, vai para o magnifico espectáculo de pirotecnia da noite de domingo. As muralhas e o Arquiz prestam-se a este tipo de espectáculo, e tal como tínhamos sugerido o ano passado, parece-nos acertado que a exibição do fogo de artifício tenha passado para o dia nobre e para a noite de apoteose da Festa.
Quanto à actuação de Yolanda Soares e do Corpo de Baile dançando flamengo e cantando napolitanas, pode dizer-se que estiveram bem. Embora sem aquela apelativa centelha envolvente. Os bailes na Praça da Republica, todos o sentiram, estiveram demasiado frouxos.

Relativamente à iluminação, é um espectáculo de ultrapassado mau gosto para a terra e para a altaneira Torre do Relógio que temos e Imagem de marca que apresenta.

Uma saudação especial à Banda do Centro Cultural do Alandroal tanto pelo belo Concerto que deram. Como por serem um exemplo sempre presente e relevante no seu papel de principal Agente cultural da nossa terra. Honra vos seja, oh herdeiros do futuro. Continuem cultivando a memória de uma terra de músicos!


IV.
Lamentável, insensata e desnecessária como, aliás, já foi igualmente denunciado o ano passado, foi a ampla colagem e a mais despudorada promiscuidade (e exibição) do poder político local misturado com o padre tardio e o Altar. É uma situação que nem a igreja nem o poder político deviam aceitar. Ou devem sequer mutuamente consentir-se. A César e a Deus, a cada qual as suas esferas de intervenção.
Por isso, «uma procissão solene em honra da Padroeira do Alandroal e de Portugal», não pode ver-se envolvida numa pouco habilidosa e boçal caça ao voto. As convicções políticas ou religiosas, não são para serem exibidas e postas em teatro e leilão eleitoral, seja em que altura for. Que se saiba, historicamente, e por maioria de razão em Portugal, a experiência vivida no Estado Novo…foi demasiado má e não devia ser para repetir.
O resto é, como diz e bem a voz do povo, apenas paisagem…e das mais pobres. O que em nada abona “o desfilante papel do trio de sofríveis actores”. Como diria o Eça do século XIX, ou o Saramago deste Século XXI, não há medalhas que cheguem para ocupar tanto peito…

V.
Tal como aqui já foi dito, e por muitos Alandroalenses pensado e sempre desejado, continua por fazer uma verdadeira e aberta homenagem aos Migrantes da nossa terra. Os que estão longe, deviam ser expressamente convidados a voltarem à sua terra nesta altura. Como? Querem um exemplo? Bastaria não pagar um ou dois milhares de euros aos Anjos… e pôr, em alternativa, o autocarro da Câmara à disposição dos Alandroalenses que vivem fora. Em Lisboa ou na Póvoa de Sta. Iria. Acreditem que, segundo sei, muitos alandroalenses viriam até cá matar saudades.

VI.
Finalmente, importa que, de uma vez por todas, se saiba quanto custam aos Munícipes do Alandroal e do Concelho, a realização da Festas de Setembro de 2008. Tal como, aliás, antigamente acontecia e agora se perdeu.
Mais do que ir “acacianamente” no centro da procissão, esta sim, seria uma boa prática e acto de verdadeira seriedade e honradez da parte da Autarquia perante os Alandroalenses. E perante todos aqueles que, legitimamente, se interrogam sobre a impunidade com que se continuam a fazer gastos sem eira nem beira…
Imaginem o que seria, se uma parte desses gastos, claramente excessivos e sumptuários, fossem empregues pelo Município a montar um pequeno projecto iniciado já em Setembro/2OO9, chamado “Oficina Domiciliária”para apoio aos mais idosos…
Aqui fica, enfim, a sugestão para 2009: contas públicas, com menos gastos e melhores realizações. A Festa, a Vila e o Concelho agradecem.Inovar é preciso.

António Neves Berbém
XII/IX/MMVII